quinta-feira, 4 de agosto de 2016

POETA ÉBRIO

Não é assim tão grave. Ainda posso beber uns copos. Desde que não ultrapasse certos limites. Pensava que nunca mais poderia dizer poesia. A Leonor preocupa-se comigo. Já me conhece muito bem. É um anjo aquela menina. E eu sou poeta libertino e libertário. Precisava de um maior reconhecimento. Já tive os meus picos. Sei que voltarei lá. Não tenho dúvidas. Eu escrevo sobre a actualidade, não escrevo sobre quimeras, vivo o caos e o apocalipse, o mundo em fogo. Sei que chegará a minha hora. Combato os meus demónios e fantasmas. Bebo. Sou poeta ébrio. Não sou dos normais nem pertenço à multidão.
Contrariamente ao homem burguês, o artista arde, consome-se, entrega-se sem nunca se economizar, execrando sempre a poupança, nas palavras de Michel Onfray. Tudo nele é excesso, caos, hybris, loucura, libertação. Nada tem a ver com a castração dos números, do calculável, da finança. Foi esse o caminho que segui predominantemente depois da minha passagem infeliz pela Faculdade de Economia do Porto. Tornei-me um desalinhado, um poeta maldito.

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