quarta-feira, 31 de agosto de 2016

AS MAMAS DA REPÚBLICA

O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, enalteceu as virtualidades das mamas desnudas, símbolo da república, em oposição ao burquini e à lei muçulmana. Afinal, não sou só eu a cantar a excelência e a volúpia de tais partes do corpo feminino. Afinal, não sou só eu a reclamar as mamas à mostra. Tantos anos criticado e agora tenho no primeiro-ministro francês um aliado. Não há dúvida de que os tempos correm a meu favor. Não há dúvida de que começo a reinar.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

BRASILEIRA

Manhã cedo n' "A Brasileira". As miúdas saúdam-se: "Bom dia". Devem ter tido uma bela noite de sono ou então uma bela foda. Eu, pelo contrário, levantei-me às 6 da manhã e pouco ou nada dormi. Estou fodido das pernas e da cabeça. Fui ao café do Quim tomar café e ler o jornal. Agora estou n' "A Brasileira". Como disse: não estou nada fresco nem me apetece celebrar a vida. Tomo cafés a ver se acordo. Em Guimarães homenagearam o Luiz Pacheco. Logo parto para Vila Verde, para a Arte na Aldeia.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

DEUS, QUERO UMA GAJA!

Deus,
quero uma gaja
Deus,
eu mereço
passo a vida a escrever
a puxar pela cabeça
a produzir filosofia
a elevar a humanidade
Deus,
vejo tantos gajos idiotas
com gaja
gajos mesmo broncos
cheios de cacau
Deus,
eu crio
eu sou filho de Dionisos 
eu mereço a mulher bela.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

A MULTIDÃO DAS PRAIAS

Se eu fosse um desses escritores ou poetas que ganham prémios ou vão às conferências...não sou. Fiz asneiras. Desalinhei. Desejo ardentemente as gajas. Agora até quase nem cravo. Como Bukowski, acho que o terrível não é a morte, "mas a vida que se leva ou não se leva até morrermos. As pessoas não honram as próprias vidas, mijam-lhes em cima". Estão demasiado concentradas no dinheiro e na família. "Engolem Deus sem pensar, engolem a pátria sem pensar". Deixam que os outros pensem por si, têm "os cérebros entupidos de algodão".
Sim, eu deixei-me disso. Ainda agora olho as multidões na praia da Póvoa. As pessoas juntam-se em manada. Não têm pensamento próprio. Não têm vontade própria. Teriam de ser únicas, solitárias, como Stirner, como Nietzsche. Em vez disso, disputam os lugares no metro e na vida. No resto do tempo, passam a vida a pastar, a ver passar navios. Não se elevam, não evoluem. E depois tu só podes ter estas conversas com algumas pessoas. Os detentores do poder estão ocupados a manter o poder mas, na verdade, só uma ínfima parte deles leu Marcuse, Chomsky ou Guy Debord. Têm os seus propagandistas, os seus psiquiatras, os seus sociólogos, esses conhecem, mas quem me garante que também não passam de um bando de frustrados. A seguir tens os escravos, os tais que trabalham e pastam, com quem é impossível manter uma conversa elevada. Daí que, neste momento, contes com com poucos revolucionários e equiparados.

domingo, 21 de agosto de 2016

ANA, SOFIA, RITA

Madrugada. Acordei cedo. Os galos cantam. Há pessoas que me elevam, que puxam pela minha mente, outras que nada me dizem como o Reis que só pensa na bola e em comida. Há pessoas que me estimulam a ter novas ideias e mesmo a concretizá-las como o Rocha que veio comigo a Vilar do Pinheiro.
A religião é para cretinos e para atrasados mentais. Deveria ser banida da face da Terra. Quantas mortes são provocadas pela ignorância, pelo medo, pela crendice? O poder religioso, aliado aos poderes político e financeiro, tem feito a cabeça das pessoas. Estas tornam-se dóceis, domesticadas, submissas. Entretanto eu prossigo, sonolento. Lembro-me de vocês, Ana, Sofia, Rita. Porque seguistes caminhos tão diferentes dos meus? Porque seguistes a via do sistema? Era bom que nos reunissemos um dia destes, que celebrassemos o xamã que tendes esquecido. Sem maridos. Como nos velhos tempos. Contar-vos-ia histórias. Antes que fique velho.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

DO AMOR

O amor, sim, o amor não é uma questão individual. Nem é somente uma questão a dois. O amor é uma questão da sociedade. Uma sociedade que não sabe dar amor é uma sociedade doente. É uma sociedade amputada. A sociedade não tem só que resolver os problemas dos direitos individuais e colectivos. A sociedade deve ser emoção, afecto. Não pode ser artificial, gélida. O amor diz respeito à sociedade, ao indivíduo, à comunidade. O amor fortalece-nos. Dá-nos vida. Eleva-nos. O amor é a solução.

terça-feira, 16 de agosto de 2016

LAVAGEM AO CÉREBRO

Do nascimento até à morte, somos moldados tendo em vista a adesão ao sistema. Desde a família e a escola, aprendemos a respeitar a hierarquia e os valores burgueses. De acordo com Alain Krivine, o trabalho destrói o ser humano para o transformar em robot, entregando-o à fórmula metro-trabalho-casa. Embrutecido pelo trabalho, manietado pela publicidade, controlado pela televisão, o indivíduo é chamado a decidir o seu destino, depositando o seu boletim de voto nas urnas de quatro em quatro anos. Eis o grande embuste. Eis aquilo que as grandes corporações e os políticos ao seu serviço fazem de nós. Reduzem-nos a bonecos. No entanto, a culpa também é dos oprimidos que em dado momento da adolescência, da juventude ou mesmo da idade adulta não se apercebem ou não se querem aperceber de que estão a ser enganados e continuam a jogar o jogo. Pode ser um livro, um poema ou uma canção. Algo que nos faz despertar. Ainda assim, muitos despertam e não se deixam levar. Porque isto é mesmo uma lavagem ao cérebro. Contudo, nós temos a nossa inteligência e a nossa cultura. Não nos deixemos enganar.

sábado, 13 de agosto de 2016

COISAS E PRODUTOS

Para termos sucesso na sociedade capitalista e no ciclo trabalho-consumo temos que ser competitivos, agressivos, mentalmente rápidos, empreendedores, manipuladores e simpáticos. A nossa própria vida interior é promovida como um produto. Para os situacionistas, a publicidade transforma as pessoas em espectadores das suas próprias vidas. A vida é convertida em espectáculo. Os nossos sentimentos íntimos são metamorfoseados em mercadorias. Ao comprarmos o produto, estamos a pagar para reaver os nossos sentimentos. Somos, portanto, o produto que pagamos. Eis onde chegámos. A coisas. Eis até onde esses empresários, banqueiros, senhores dos media, políticos e técnicos ao seu serviço nos atiraram. Até cobaias. Até à máxima humilhação. Não, não me venham com pacifismos. É preciso afastar esta gente que nos vai destruindo as vidas. Não é mais aceitável tamanha sacanice.

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

NÃO, NÃO ESTOU VELHO

Não, não levo uma vida de velho. Leio, produzo, sou um poeta de café na cidade de Braga. Não preciso de viajar para aqui e para ali, nem de ir para a praia para junto da multidão, bastam-me as minhas viagens mentais. Além do mais, sou um homem livre, afasto-me o mais possível da economia. Não, não preciso de ir a Paris nem a Barcelona para ser feliz. Basta-me ficar em Braga e ler uns livros ou beber uns copos. Porque Braga é a minha cidade, a cidade que me acolheu, nunca o esquecerei. Entretanto, os imbecis vão dizendo baboseiras na televisão. Gente imbecil que canta, gente imbecil que ouve. Ai, Jaime. Se estivesses aqui. Como em outros Verões. Agora não estou nas Enguardas mas na Ponte, nas proximidades da rua Carlos Teixeira, casa da Gotucha. Vou sendo um dos melhores poetas deste país. Alguém o disse. Modéstia à parte. Mas, de facto, não suporto estes atrasados mentais. Eu subi. Eu abandonei o rebanho. Não os suporto. Não sou democrata. Sou dos filósofos-poetas. 40 anos de música, diz o pimba. 40 anos de merda. E lá vêm as gajas boas. Que grande festa! Ah, eu deveria ser rei. E lá vem o Baião. E lá vem o cabrão. 760 20 60 20. E lá vem o prémio. Nossa senhora. Poupem-me. Venha a Márcia. Que gajos tão limitados que nos vendem. Que idiotice. Antes beber. Isto bateu mesmo no fundo. Basta ter como Presidente o Marcelo. Pão e circo. Tivesse eu guerrilheiros no Sameiro. É tudo tão ridículo, tão absurdo. Antes escrever. Se, ao menos, a gaja do café fosse mais bonita. Enfim, não se pode ter tudo. Para quê viajar se posso permanecer aqui? Para quê ir atrás da manada? Tens uma boa vida, Pedro. Dizes o que queres, fazes o que queres, escreves o que queres. O que é que te interessam as férias em família em Benidorm? O que é que te interessam as multidões? És um senhor. Mas ainda não chegou a hora de regressares à montanha com Zaratustra. Ainda tens de permanecer na cidade. És o homem da cidade. Bebes na cidade. Escreves na cidade. A mente explode. Alucina. Maria Paz. Maria Francisca. Apetece ser louco. Apetece dizer coisas. Lembro-me de ti, Jaime. Já partiste. Bebias. Eu agora, infelizmente, tenho de me moderar. A vida, sem àlcool, é uma merda. Digam o que disserem. Olha o que nos vendem? A podridão. A hipocrisia. Historiazinhas. Historietas. Só à bomba! Pudesse eu, ao menos, beber até ao fim. Sou o grande maldito. Não estou velho, Gotucha. Reino sobre a Terra. Porque os deixais viver a nossa vida? Não conto convosco. Não vos amo. Eu queria transpor a teoria para a prática. Sou escritor mas também sou revolucionário. Só já não posso ir de copo em copo. 
Dionisos. O Paraíso. A Festa permanente. Sou Rimbaud. Sou Baudelaire. Velho, eu? Tenham paciência. Eu agora reino. Eu não estou trôpego. Eu bebo como tu, Jaime. Eu sou teu irmão, Jaime. O poeta bêbado, Jaime. A propaganda, Jaime. O Feira Nova, Jaime. Os incêndios, Jaime. O país arde, Jaime. A Maria Francisca, Jaime. Não a conheceste, Jaime. O país a arder e eu a beber. Ah!Ah!

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

POETA ÉBRIO

Não é assim tão grave. Ainda posso beber uns copos. Desde que não ultrapasse certos limites. Pensava que nunca mais poderia dizer poesia. A Leonor preocupa-se comigo. Já me conhece muito bem. É um anjo aquela menina. E eu sou poeta libertino e libertário. Precisava de um maior reconhecimento. Já tive os meus picos. Sei que voltarei lá. Não tenho dúvidas. Eu escrevo sobre a actualidade, não escrevo sobre quimeras, vivo o caos e o apocalipse, o mundo em fogo. Sei que chegará a minha hora. Combato os meus demónios e fantasmas. Bebo. Sou poeta ébrio. Não sou dos normais nem pertenço à multidão.
Contrariamente ao homem burguês, o artista arde, consome-se, entrega-se sem nunca se economizar, execrando sempre a poupança, nas palavras de Michel Onfray. Tudo nele é excesso, caos, hybris, loucura, libertação. Nada tem a ver com a castração dos números, do calculável, da finança. Foi esse o caminho que segui predominantemente depois da minha passagem infeliz pela Faculdade de Economia do Porto. Tornei-me um desalinhado, um poeta maldito.