Vivo o que escrevo. Não faço
floreados. Em plena "A Brasileira" renasço. Sou o que vem de dentro.
Não deixo de ser amável com as pessoas. Amo esta cidade. As suas ruas, os seus
edifícios, os seus monumentos. Por isso a celebro. Por isso aqui amo a
humanidade. Por isso aqui reino. Aqui fervilha a vida. Aqui as pessoas parecem
diferentes. Aqui vivo, aqui sou. Aqui em Braga proclamo o novo mundo. Um mundo
sem relógios nem TV. Um mundo de invenção e descoberta. Um mundo sem opressão.
Aqui sinto-me mais próximo do super-homem, do homem pleno, do homem que se dá.
Aqui sou eu próprio, o homem que pensa e cria, o homem que compreende e
desafia. Aqui sou fogo, aqui me acendo. Aqui sou poema. Aqui sou mais eu.
terça-feira, 28 de janeiro de 2014
domingo, 19 de janeiro de 2014
TRIUNFANTE
Há noites de poesia em que
me custa a soltar, em que fico atado, em que não me consigo expressar fora do
poema. É claro que já aconteceu o completo contrário. Noites em que me soltei
completamente, em que o discurso flui, em que sou o dono da palavra. Ontem à
noite, no Olimpo, entrei a medo e depois fui subindo mas não cheguei ao animal
de palco. Noutras ocasiões fui a estrela. É claro que o número de espectadores também conta. Puxa mais a sala cheia.
Mas enfim, o dia prossegue e estamos aqui vivos. Ainda estamos muito a tempo, a
tempo de escrever e de fazer a obra. Nem sei porque há dias em que me preocupo
tanto. Há, de facto, uma missão a cumprir. Uma missão que pode recomeçar aqui
no Ceuta. Bem sabemos que o capitalismo é feroz, que nos inferniza os dias. Mas
nós, em certos aspectos, saímos do capitalismo. É claro que temos de pagar o
café. No entanto, não temos chefes a mandar em nós nem temos a máquina do
trabalho em cima de nós. Temos todo o tempo do mundo. Vimos até ao Ceuta,
lemos, estudamos e escrevemos o que nos apetece, o que nos vem à cabeça. Aí
somos o homem livre. Mesmo não escrevendo romances, histórias, somos o homem
livre. No fundo, estou a escrever a história da minha vida. Tenho todo o tempo
do mundo. O meu compromisso é com a escrita. Venho até ao Porto. Até porque se
ficasse em casa entrava em depressão. Escrevo o texto contínuo. Sempre disseram
que eu sou inteligente. Talvez não esteja ao meu alcance a genialidade de
alguns. Não tenho que ser narcisista como tenho sido. Não tenho que me armar em
prima-dona. Sou capaz de atingir certos cumes, outros não. Às vezes escrevo
para matar o tempo, para me exercitar. Mantenho-me fiel ao caderno e à caneta.
Não trago o computador para o café. Às vezes sinto-me um bicho diferente dos
outros. Talvez não tenha aquela erudição. Vou-me construindo. Vou-me
enriquecendo. Se bem que haja dias em que parece que ando para trás. Os tais
dias em que me deixo levar pelo capitalismo, pela bola, sei lá. No entanto,
aqui chegados, sentimo-nos triunfantes. Triunfantes, sem euforias. Convencidos
de que a máquina apenas nos afecta em parte, às vezes quase nada. Sim, estamos
triunfantes.
segunda-feira, 13 de janeiro de 2014
A PEÇA DA ENGRENAGEM
Segundo Erich Fromm, com o capitalismo a actividade
económica, o sucesso, as vantagens materiais, passam a ser fins em si mesmos.
"O destino do homem torna-se contribuir para o crescimento do sistema
económico, acumular capital, não tendo em vista a sua própria felicidade ou
salvação, mas como um fim em si mesmo". O homem converte-se numa peça da
engrenagem da máquina económica, cada vez mais isolado, solitário e imbuído de uma sensação de insignificância e
impotência. O homem alienou-se do produto das suas próprias mãos. O mundo por
si construído converteu-se no seu patrão, no seu Deus. As próprias relações
entre os homens são regidas pelo mercado, marcadas pela manipulação e pela
instrumentalidade. As relações entre os seres humanos são de negócio, entre
coisas. Daí que, com o capitalismo levado até aos seus extremos, com as
lavagens ao cérebro que nos tentam fazer todos os dias, o mundo tenha chegado a
um ponto sem saída. O homem está a ser destruído. Se ainda somos humanos temos
que rebentar com isto.
domingo, 5 de janeiro de 2014
O RENASCIMENTO DO HOMEM
O homem
está a ser violentado na sua essência. Não é apenas o imperialismo alemão, não
são apenas os cortes nos salários e nas pensões, não é apenas o empobrecimento
das pessoas. É o próprio espírito humano que está a ser violentado, que não
consegue completar-se, acossado pela TV e pelo capitalismo que o reduzem ao
número, à coisa, à mercadoria. Seria necessário um renascimento do homem que se
impusesse a um quotidiano
entediante e insuportável, que se impusesse à grande mercearia, que vencesse as
lavagens ao cérebro e o "Big Brother". Seria necessário um
renascimento do homem que o devolvesse a si mesmo, às suas profundezas, à sua
genialidade, que o fizesse reencontrar-se com o sonho, com a luz, com a poesia.
Seria necessário um renascimento do homem que o restituísse ao amor e à
liberdade, que o fizesse reviver o seu ser, o seu espírito na sua plenitude.
Que o fizesse dançar
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