domingo, 29 de setembro de 2013
OLHOS
Tenho os olhos cansados. Tenho-os gasto muito hoje. Quem disse que o escritor, que o pensador não se cansa? Cansa-se e não é pouco. Trabalha com os olhos e com as ideias. Passa as ideias para o papel. É claro que há ideias que se perdem. Mas o escritor agarra as outras. Faz delas literatura. Pensa. Pensa o mundo e a vida. Acha ridículo que as pessoas se dividam em grupos. Que não construam mesas partilhadas. Que não discutam o que é realmente essencial. Que não vão ao fundo da questão. Que criem barreiras. Que não se dêem.
quarta-feira, 25 de setembro de 2013
VENHAM A MIM AS CRIANCINHAS
Até parece que há pessoas que temem que as crianças venham ter comigo. Devem desconfiar dos meus escritos, das minhas ideias políticas. Temem que influencie as suas crianças, que as traga para mim. "Venham a mim as criancinhas", disse Jesus. Temem que as desvie do percurso normal, que as leve a permanecerem crianças, que, mais tarde, questionem a máquina.
domingo, 15 de setembro de 2013
A VERDADEIRA VIDA
Seria preciso educar as pessoas. Levá-las a compreender que a verdadeira vida não está na televisão nem no futebol. Que a verdadeira vida está na criação, na arte, na beleza. Que a verdadeira vida está no mergulho no abismo, na vida interior, nos deuses e demónios que temos dentro de nós. Não na vidinha, no quotidiano entediante e previsível. Que a verdadeira vida está na vida gratuita, no facto de termos nascido de graça, no facto de habitarmos poeticamente a terra. Está também na comunhão, na celebração, na embriaguez, naquilo que fazemos de livre vontade, sem castrações nem dominação. Está naquilo que não nos é imposto, que não é pago nem mediado. Está na criança eterna que mantemos dentro de nós. Está na juventude que não perdemos. Está na espontaneidade, no dizer não ao deve e haver da economia, da finança que tudo reduz ao número, que emporcalha as relações humanas. Seria preciso educarmos as pessoas na liberdade.
segunda-feira, 2 de setembro de 2013
Começo a ser o mais louco dos poetas actuais. Já pouco temo. Digo o que quero. Escrevo o que quero. O homem comum não cresce, não evolui, não se enriquece. Por isso é-me difícil dialogar com ele. Sou também o mais ousado, o que insulta Deus e o presidente. O que celebra a mulher presente. Vivo uma espécie de segundo nascimento, de segunda infância. Os dias são grandes como os do antigamente.
Começo a ser o mais louco dos poetas actuais. Não tenho limites. Danço com Zaratustra. Como Rimbaud, como Baudelaire vou até ao inferno e volto. Sinceramente não vejo mais ninguém assim. Estou cada vez mais desalinhado. Cada vez mais longe do homem comum, embora o saúde. Sou o mais louco dos poetas actuais. Refugiado na confeitaria da aldeia, o mundo espera por mim, pela poesia incendiária. A poesia incendiária vai tomar conta do mundo.
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