quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

IDADES D' OURO


Pensar o diferente, fora do pensamento em comum. Ser o homem demoniaco, que dança sobre o abismo, o criador. Sim, ir além dos limites de si mesmo. Sentir nascer em si a estrela: Jesus, Zaratustra, o reino todo. Ir até ao além-Deus e voltar. Atravessar os desrtos, percorrer mulheres de sonho, possuí-las. Ser um conquistador, um navegante por mares desconhecidos. Atravessar para o outro lado. Ficar lá. Iluminado. Embriagado. Extasiado. Sim, as palavras conduzem-me lá. Ao lugar sagrado. Há idades d' ouro em mim. Que importância têm o negócio e o interesse se consigo atingir as alturas? Sim, voar como um deus na confeitaria. Idades d' ouro em mim. Brilho. Não sei se terei seguidores mas brilho. Todo eu sou luz. Todo eu sou fogo. Diante do "Talho da Emília do Lúcio" transfiguro-me. Todo eu sou metamorfose, homem a construir-se, explosão. As letras dançam, ziguezagueiam, serpenteiam. Sou trapezista, estou no circo. Ouço palmas, luzes, cores. Embriago-me de sons, ruídos. Todo eu sou dança. Rodopio. Berro de felicidade. Estou lá. Estive lá. Beijei a mais bela das mulheres, a mais inacessível. Não me roubais o tesouro, ó polícias, ó guardiães da ordem estabelecida. Venci-vos em combate na confeitaria. Todo eu sou vertigem, abismo. Danço sobre o abismo com todos os meus demónios. Vede como ele está possesso, como ele está fora de si, ó seguidores. Abandonai-o. Deixai-o a pregar sozinho na praça. Ele canta o caos e o apocalipse mas também o amor, a vida vindoura. Ele é da vida. Por isso nos berra e insulta. "Custa-me deixar-te mas tu nunca me seguirias". Ouve a voz doce da única amiga. Está na Trofa, no colégio, dá-lhe a mão, namora com ela. Tudo é inocência e descoberta. Depois o rapaz desceu ao mundo, conheceu a maldade e a violência. Interrogou o mundo, quis saber as respostas, de bar em bar andou em busca. Não sabia claramente quem era nem o que queria. Foi à escola, trabalhou, mas algo lhe dizia que não tinha vindo para isso. Encontrou Morrison, Dionisos, Zaratustra, seguiu-lhes os passos mas havia ainda algo que o prendia à terra dos relógios. Por oito anos vagueou por entre as caras. Ouvia ainda a voz da máquina e os merceeiros. Hoje deixou de ouvi-los. Eles ainda estão na praça mas o homem superou-os. Sabe que a riqueza está nas profundezas de si mesmo e no amor que o liga à mulher bela, ao belo, à beleza. Agora procura companheiros, companheiras.














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2 comentários:

rapaz disse...

Morreremos sós. O desafio do ser perante a vida é interior.

A. Pedro Ribeiro disse...

sim.