sábado, 23 de julho de 2011

A VIA CERTA


Escrever forma da norma. Escrever sem preconceitos. Não me deixar levar pelo paleio comum, pelas "evidências" do bom senso. Sim, estar acima disso. Procurar o eterno, o belo, mesmo andando atrás do maldito, do dionisíaco. Ser esse ser que brilha no deserto. Fazer a revolução dionisíaca. Ser capaz de escrever as páginas belas e malditas. Construir o homem em mim. Sentir o mundo a meus pés. Amar a mulher bela. Ser o enviado de Camelot, de Artur, de Merlin. Desesperar nesta terra inóspita. Amar os fora-da-lei e as putas. Não, não ser politicamente correcto. Não ceder à norma. Não! Logo eu que tenho cantado a noite e as mulheres da noite. Anos sem fim ao balcão, noite fora. Não esperem de mim a conversão. Sou o poeta maldito, dizem. Tenho amado a noite e a vida. Continuo à procura. Não sou do mercado, nem dos mercados. Tenho uma história. Os meus livros não se vendem como desejaria. Mas sei que tenho seguido a estrada do excesso. Sou como o Jim, nada a fazer. Poderia passar a tarde a beber copos, como passei muitas vezes, e a fazer-me à empregada, mesmo que ela não seja uma prima-dona. A maldição dos quadrados está a desaparecer. Sou, como dizia o Jaime, aquele que vem não se sabe de onde. Sou aquele que vai ao fundo do copo. O poeta do Uno Primordial. Quem me ouve? Quem está aí? Não, não pertenço à raça dos poetas menores. Bebo à saúde dos grandes homens. São esses que sigo. Tenho sido também da cerveja. Antes da cerveja do que da norma. Que porra! Escrevo. Sou da vida. Falta-me a gaja. Não sei o que têm os best-sellers que eu não tenho? Não sei porque não vivo disto. Cinco linhas, uma nota. Deveria ser assim. Os outros inventam todos os estratagemas para ganhar dinheiro. Só eu é que não nasci para ganhar dinheiro, nem para o negócio, nem para chular o próximo. Escrevo páginas brilhantes mas estou aqui sozinho. Não escrevo romances, nunca andei a pedir favores. Por isso, estou aqui. Uma estrela à tua mesa. Um bailarino que regressa. Um animal de palco sem palco. Um homem que lê jornais à espreita da dama. Um revolucionário sem camaradas. Alguém que anda á solta, a quem a conversa não agrada. Vim ao mundo. Sou do mundo. Não me atires notícias. Aquilo que escrevo não são verdades eternas. Mas é aquilo que sou, aquilo em quem acredito. Não mais mentiras. Não mais hipocrisia. Vim ao mundo pregar mas ainda mal comecei. Tenho de prosseguir a demanda nesta terra desolada. Para isso estou aqui. Não vim pregar a economia. A economia destrói o homem livre. Sim, sou da imaginação, de Quixote, da paixão, da utopia. Tenho de cortar de vez com a economia. É um reino de tolos sem saída. Não, eu estava na via certa, desviei-me, perdi-me na demanda. Agora estou, de novo, lá. Não aceito. É isso que tenho de dizer e escrever. Estou a nascer. Ouves? Estou a nascer. Sabes, eu vivo os livros. Sabes, eu tenho iluminações. Vejo o que os outros não vêem. Até sou capaz de desejar a mulher que trabalha. Sabes, eu construo mundos. Eu não ando atrás da norma. Estou a nascer. Não estou a competir com ninguém. Percorro a aldeia em busca da glória. Não sou esse que esperas. Não sou o messias, nem o profeta da desgraça. Canto o caos e a alegria.

Sem comentários: