quinta-feira, 3 de março de 2011

NO BANCO DO JARDIM (SEM UM TOSTÃO NO BOLSO)

Andar pela cidade
sem um tostão no bolso
escrever nos bancos de jardim
como o Alba
vadiar como o Lousa
ouvir os pássaros
os velhos
permanecer na Avenida
as mulheres que passam
as crianças
de regresso da escola
a vida que todos levam
sempre ordenada
com horários
e contratos
e eu aqui
diferente do mundo
até podia pedir esmola
se não estivesse
em casa da Gotucha
mas como diz o padre Mário
não devemos pedir esmola
ela tem-nos sido roubada
tudo a que temos direito
nos tem sido roubado
pelos mercadores
pelos predadores da vida

são 5,30
e eu permaneço sentado
no banco da Avenida
uma pomba vem ter comigo
ainda me é permitido
ficar aqui
sou poeta e vadio
como Agostinho da Silva
o Teixeira Moita
que me telefona
a Isabel
que me adiciona
e eu aqui sentado
no banco da Avenida
como o Alba
como o Lousa
à espera que caim notas
do céu
para gastar em livros
e em cerveja
a "Centésima Página" em frente
está lá o "Saloon"
mas poucos o compram
ainda não sou uma estrela
mas hoje vim até à Avenida
sem um tostão no bolso
sentei-me no banco de jardim
e comecei a escrever
não estou a perturbar
a oredem pública
isso vai ser
no dia 26
nos Aliados
se houver gente
os meus pais,
sobretudo a minha mãe,
não esperava
que eu saísse assim
como o Joaquim
como o Alba
como o Lousa
nada a fazer,
minha rica,
o menino é assim
deu-lhe para a escrita
é pensamento
e passa-o para o papel
não consegue deixar de pensar
a tropa dos caloiros
e dos doutores
passa à sua frente
as crianças brincam
livres
o sino toca
o sol ainda
e eu
sem um tostão no bolso
no banco da Avenida.

Braga, 2.3.2011

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