segunda-feira, 7 de março de 2011
DIONISOS E O NOVO HOMEM
DIONISOS E O NOVO HOMEM
António Pedro Ribeiro
Pelo mundo inteiro há uma juventude que já não aceita passivamente a redução da vida a uma fórmula única e irreversível. As palavras de Jim Morrison, desaparecido há 40 anos, voltam a fazer sentido perante uma revolta sem líderes, sem hierarquias, não dirigida, convocada pelo Facebook. "We Want the World and We Want it Now!" de "When The Music's Over" é o grito daqueles que já nada têm a perder, daqueles que reclamam o mundo e a vida que lhes têm sido roubados pelos banqueiros, pelos mercados e pelos políticos ao serviço destes e daqueles. No Cairo, em Atenas, mesmo em Lisboa, no Porto ou em Braga, está a nascer um novo homem. Um homem ainda em fase embrionária, o "homo sapiens-demens" de Edgar Morin que volta aos tempos bíblicos, aos ensinamentos dos mestres antigos, de Jesus, de Buda, de Platão, de Sócrates (mesmo não os lendo) mas que, ao mesmo tempo, se serve da Internet, do Facebook, para comunicar e para fazer a revolta. Como diz, Carlos Coelho (Jornal "I", 7/3/2011), curiosamente criador de marcas, "hoje, pela primeira vez na História, existe uma consciência planetária, supraterritorial, supracultural, suprarreligiosa, supra-económica e suprapolítica. Uma gigantesticamente invisível bomba nuclear, constituída pela energia atómica de cada um de nós e que nenhuma arma de guerra convencional conseguirá parar". Há uma consciência que afirma, na esteira de Nietzsche, Morrison e Henry Miller, a própria vida, a vida em si mesma, como valor fulcral- e ao afirmar a vida, afirma também a defesa da natureza, do planeta ameaçado. Um novo homem que se recusa a ser o macaco que mercadeja e rasteja, que está farto do paleio da economia e da competividade, que ama o conhecimento e a beleza. Um homem que não aceita mais esmolas e migalhas- se muitos pedem esmola é porque outros lhes roubaram e roubam o que é seu de direito, a sua própria vida. Um novo homem que sabe que é único e irrepetível, abençoado pela graça do nascimento que não tem preço e, por isso, próximo de Deus ou de ser, ele próprio, um deus. Um homem que está a nascer de novo, que está a tornar-se naquele que é, na criança sábia de Nietzsche. Um homem que é sobretudo Arte, a quem foi confiada a Criação, a quem compete afastar as Trevas dos mercados, do tédio e da ganância e trazer ao mundo o Amor da mulher pela criança. Um novo homem que é também dança, canto, celebração, que não aceita ser escravo de coisa nenhuma, que quer viver, gozar a vida na sua plenitude e não ter a felicidade controlada pelos media ou pelas agências de "rating". Um novo homem, Dionisos talvez.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário