segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
A REVOLUÇÃO ESTÁ A CAMINHO
Escolas reabrem amanhã mas professores anunciam greve
Tunísia: “O povo veio derrubar o governo”
23.01.2011 - 16:51 Por Sofia Lorena, em Tune
Leila não larga a mão do filho, enquanto anda de um lado para o outro no centro de Tunes. Foi uma das poucas mulheres a juntar-se à “marcha do campo”, entretanto baptizada “caravana da liberdade”. Veio com centenas de homens e rapazes de várias cidades para “derrubar o governo” interino que tomou posse depois da fuga do Presidente Ben Ali.
A “marcha da liberdade” deixou uma foto do vendedor ambulante que se imolou frente ao Ministério do Interior (Zohra Bensemra/REUTERS)
A jovem mãe nunca tinha estado na Avenida Habib Bourguiba da capital. Afasta-se da concentração e espreita ao longe as lojas até descobrir a montra da Livraria Al-Kitab e parar por momentos. O dono expôs as obras que a ditadura proibia: livros sobre o islão, a Al-Qaeda no Magrebe, um relatório dos Repórteres Sem Fronteiras. Os olhos de Leila detêm-se num livro com outra Leila na capa: “La Régente de Carthage”, sobre a ex-primeira-dama. “Nunca tinha visto”, diz.
A “marcha da liberdade” partiu de Menzel Bouzaiane, 280 quilómetros a sul de Tunes, onde morreram as primeiras vítimas da repressão aos protestos. Passou em Sidi Bouzid, cidade de Mohamed Bouazizi, cuja imolação pelo fogo, a 17 de Dezembro, desencadeou manifestações por toda a Tunísia, e por Ragueb, outra cidade do centro rural.
Os “do campo” chegaram cedo à capital, em carrinhas, camiões e motas. Primeiro, concentram-se diante do Ministério do Interior, onde deixaram um retrato de Bouazizi. Depois, marcharam pelas avenidas. A meio da manhã misturavam-se já com outras manifestações: homens do lixo, estudantes, polícias como na véspera. Todos têm as suas próprias queixas. “O povo veio derrubar o governo”, “fora”, “basta”, gritaram.
O governo interino anunciou para amanhã o começo faseado da reabertura das escolas. Mas os professores primários anunciaram uma greve até que seja formado outro executivo, sem membros do partido do ex-Presidente.
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