segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

A PEQUENA VITÓRIA DO TIRANETE


Cavaco é o Presidente eleito com menos votos
24.01.2011 - 00:43 Por São José Almeida

Era o seu objectivo expresso durante a campanha e atingiu-o. Cavaco Silva foi reeleito Presidente da República, fugindo a uma segunda volta. Obteve 52,94% dos votos, ultrapassando a percentagem com que foi eleito há cinco anos, 50,54%. Mas não terá atingido os 2.773.431 votos de há cinco anos, ficou-se pelos 2.230.104, quando estavam apuradas todas as freguesias, perdendo assim mais de meio milhão de votos.
Cavaco teve votação expressiva no Norte (Nuno Ferreira Santos)

O resultado em votos de Cavaco Silva é, por outro lado, o mais baixo de uma eleição presidencial em democracia. Até hoje o mais baixo fora o de Jorge Sampaio, com 2.401.015, na sua reeleição.

Já Manuel Alegre atingiu 19,75%, quando há cinco anos teve 20,74%. Fernando Nobre, um dos vencedores da noite, atingiu 14,10%. Francisco Lopes teve 7,14%, José Manuel Coelho 4,5% e Defensor Moura 1,57%.

Os votos em branco foram na ordem dos 4,26% e os nulos de 1,93%.

Uma das novidades desta eleição são os números da abstenção. Atingiu 53,37%, a maior abstenção em eleições presidenciais democráticas. O valor mais elevado tinha sido atingido precisamente numa reeleição, a de Sampaio em 2001, em que a abstenção chegou aos 50,29%. Valores de abstenção elevados apenas ultrapassados pelos das eleições para o Parlamento Europeu, em que os 64,46% foram o recorde atingido em 1994.

Resultado mais baixo

A vitória de Cavaco é uma vitória pouco expressiva. Com 2.230.104 votos, fica algo longe da eleição de Jorge Sampaio que há dez anos atingiu os 55,55% e 2.401.015 votos, com uma abstenção recorde de 50,29%, e muito longe de Mário Soares, que há 20 anos foi reeleito com 70,35%, tendo então o apoio do PS e do PSD e uma abstenção de 37,84%.

A sua vitória é, porém, clara. Cavaco conseguiu atingir uma percentagem de votos superior àquela que os partidos que o apoiaram atingiram nas últimas legislativas. O PSD ficou-se pelos 29,11% dos votos, enquanto o CDS teve 10,43%, somando então os dois 39,54%.

Os cerca de dez por cento dos votos que Cavaco arrecada são a eventual transferência de votos do PS. Isto porque o segundo candidato mais votado, Manuel Alegre, viu-lhe fugir uma parte substancial do eleitorado do seu partido de origem, o PS, que o apoiou em conjunto com o BE.

Há cinco anos, quando se candidatou contra o candidato Cavaco Silva, mas também contra o candidato do PS, Mário Soares, e contra o candidato do BE, Francisco Louçã, Alegre atingiu 20,74%, com 1.138.297 de votos. Agora os 19,75% ficam muito aquém do que era expectável se, de facto, os apoios partidários do PS e do BE tivessem levado os eleitores a votarem esmagadoramente neste candidato. E obtém apenas 831.959 votos.

Comparando com os resultados do PS e do BE nas legislativas de 2009, verifica-se a enorme diferença. Assim, o PS teve 36,56% e o BE atingiu os 9,81%, num total de 46,37%, ou seja, mais do dobro da percentagem atingida agora por Alegre.

Derrota de Sócrates

Esta derrota de Alegre é também uma derrota do PS e do primeiro-ministro, José Sócrates, que se envolveu pessoalmente na campanha. Mas dentro do PS, os grandes derrotados são os representantes da ala esquerda do partido que, desde 2004, quando Alegre se candidatou a primeira vez a secretário-geral, tem apoiado a sua acção política. Mas há uma parte da esquerda do PS, nomeadamente os soaristas, que nunca se reviu nesta candidatura. O balanço interno entre os socialistas. E o ajuste de contas entre tendências será feito em breve já que o Congresso do PS está previsto para o final de Fevereiro.

Mas a derrota de Alegre atinge também o BE. Este partido aceitou dar o braço ao partido do Governo e isso poderá ter sequelas internas, no pós-eleições.

A grande surpresa desta eleição é o resultado atingido por Fernando Nobre: 14,09% e 593.142 votos. Um candidato sem apoios e sem máquina partidária, que lutou com alguma falta de meios, mas que conseguiu mobilizar apoios e capitalizar com o voto do protesto contra o sistema político. Atinge quase 15%, superando o que lhe davam as sondagens.

Já Francisco Lopes, com 7,14% fica em casa e aguenta a percentagem do PCP nas últimas legislativas que foi de 7,86%. Com uma campanha para solidificar posições internas, o candidato comunista cumpriu os objectivos. Mas é penalizado também e perde votos ficando apenas com 300.840 votos.

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