sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
BRASILEIRA
Regressar à cidade, à "Brasileira". A patroa bonita que controla. Talvez um dia me convide para escrever um livro dedicado à "Brasileira". Material não falta. Observar os outros, sem pressas. Deixar a chuva cair. Ser o homem na cidade, o poeta. Ir até ao fim dos sonhos. Sair daqui risonho. Estar de consciência plenamente tranquila. Não beber Tequila. Esperar por terça. Aguardar pacientemente n' "A Brasileira" que chegue terça-feira. Acreditar que pode acontecer qualquer coisa. Insistir que sou candidato à Presidência até se esgotar o prazo. Não ir às noites de poesia. Passar para os blogues a literatura. Ter leitores, cada vez mais leitores. Aos poucos. Promover os meus livros. Provocar no palco e na escrita. Olhar as mulheres jovens que sobem ao andar de cima. Pensar em passar a ir para o andar de cima, apesar de isso não ser próprio de um literato. Ainda não sou suficientemente conhecido aqui em Braga. Já o fui nos tempos do Feira Nova e do PSR. Agora sou conhecido em alguns meios do Porto e, claro, na Póvoa. Mas aqui na "Brasileira" sinto-me realmente em casa. Um homem de causas. Um homem de lutas. Menos sectário, menos rígido do que há uns anos. Talvez tenha chegado a hora de tentar formar um partido. Um anti-partido. O PSSL. Há companheiras cada vez mais radicais. As mulheres jovens estão mais radicais. Falam abertamente na revolta. Não é por acaso o que se passa na Grécia, em Itália e em França. A esmagadora maioria dos políticos ou são charlatães ou são corruptos. Digo-o e redigo-o. É preciso deitá-los abaixo, a eles, aos banqueiros, aos especuladores, aos economistas. É preciso vencê-los no campo deles, vencê-los na sua linguagem. Nunca estive tão lúcido, companheiros, companheiras. Nunca precisei tanto de vós. Sei que estais aí, companheiros, companheiras. Sei que me ouvis. Está a chegar a minha hora. O mundo rola a meu favor. Basta um pequeno passo. Um pequeno passo para isto cair na barbárie e na revolução. Tenho que continuar a dizer ao mundo que sou candidato. Os media terão que pegar. Sou o homem do mundo. Não tenho que ter problemas em ser narcisista. Passei tanto tempo no inferno. Agora estou aqui, livre, na minha cidade. Amo as pessoas que me rodeiam. Amo a "Brasileira" e a patroa. Amo este século e esta cidade. Amo as revoluções que se avizinham. Amo todos os vindouros. Amo todos os poetas que hão-de cantar os vindouros. Amo as mesas e as cadeiras. Amo os jornais da cidade. Amo o café de saco e a àgua das pedras. Amo as iluminações lá fora. Amo-vos a todos e amo-me a mim. Agora sou mais forte. Sou Lancelote. Nada me vencerá. Com a minha lança escrevo versos, com a minha espada vou dizê-los. Não preciso de polícias nem de controleiros. Sou plenamente eu, aquele que se torna nele mesmo. Nada me detém. Não tenho limites. Escrevo para mim e para o mundo. Observo os uniformes dos empregados da "Brasileira". Já tinha saudades da escrita automática. Já tinha saudades de deixar correr assim a caneta. Estou demasiado acelerado para o mundo. Escrevo a fundo. Vem apanhar-me, ó Penedo! Vem apanhar-me, ó personagem menor! Dais-me todos os trunfos para a mão. Dais o ouro todo ao bandido! Só me fazeis propaganda! Agradeço-vos! Agradeço-vos, ó politiqueiros! Sou anarquista. Sou completamente anarquista. É isso que sou. A greve dos controladores aéreos permitiu concluir que o sistema tem telhados de vidro. É preciso partir esses telhados. É preciso dizer que quero ser Presidente. É preciso dizer que não estou doente. É preciso agitar, provocar até às últimas consequências. O sistema dos mercados não é infalível nem todo-poderoso. "I am the Lizard King/ I can do anything", canta o Morrison. E nós queremos ser reis e nós queremos ser capazes de tudo. Não estamos no mesmo comprimento de onda da nossa mãe. Era inevitável a ruptura. Veremos na terça. Se não for na terça há-de ser depois. Apesar de estar gente serenamente sentada n' "A Brasileira", não temos dúvidas que os verdadeiros tumultos estão aí à porta. Sabemos. Já levámos patadas. Podemos elevar a voz. Podemos dizer tudo o que pensamos. Somos do mundo. Desprezamos as riquezas. Em certos aspectos, somos como Jesus. Despojados, mordazes, sinceros. Jesus também apelou ao fogo, como Morrison. Falamos a nova linguagem. A linguagem que chama os homens e, principalmente, as mulheres jovens. Somos revolucionários místicos, alucinados. Aparentemente, tomamos café n' "A Brasileira" como um qualquer pai de família mas sabemos que não o somos. Somos solitários como o pistoleiro do Oeste. Pacíficos mas perigosos. Ecce Homo.
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