sexta-feira, 5 de novembro de 2010

À MEMÓRIA DO CARLOS PINTO, ALMA DO PÚCAROS E DAS QUARTAS DE POESIA


Sem o Carlos Pinto, o Púcaros já não é o Púcaros. Sem o Carlos não há mais aquele abraço fraterno, aquela voz que dizia que no Púcaros não há classes e que, às quartas, era a anarquia. Sem o Carlos já não há aquela piada nem o homem da sineta que, de vez em quando, "rabujava". Sem o Carlos já não há aquele afecto, aquela camaradagem que quase já não se usa porque vem de dentro e é autêntica. Sem o Carlos há quem se sinta órfão à quarta-feira. Sem o Carlos eu já não sei o que vou fazer à quarta-feira. Sem o Carlos não há tertúlia, nem democracia, nem discussão até às tantas. Sem o Carlos não há socialismo nem liberdade à solta. Sem o Carlos a generosidade fica mais fraca. Sem o Carlos eu já não tenho boleia.

3 comentários:

Anónimo disse...

Tens razão Pedro.
Não aparecia no Púcaros há muito tempo, isto de viver fora tem estas coisas. Mas como todas as vezes, o Carlos era o incondicional amigo, mesmo para quem não o conhecia. E sempre que me via no bar, perguntava-me de onde nos conhecíamos, de antes, tinha a certeza, militâncias antigas, dizia-lhe eu, talvez, mas era como se fosse verdade e nos conhecêssemos desde sempre...
E falou-me então da merda do bicho, de como tinha voltado, e em força, depois de pensar que o tinha dominado, e de como não queria ficar igual aos que esse dia ou na véspera tinha visto na sala de quimio, ao seu lado, com as mantas nos joelhos, e o cabelo a cair às madeixas, comfessou-me. E senti-me tão assustado como ele, mas não sabia ainda que era uma despedida.
Até sempre Carlos, podes contar comigo às quartas-feiras, sempre que estiver no Porto, camarada. Tenho a certeza de que, como sempre, não falharás nenhuma quarta-feira, para ouvir as palavras ditas da boca dos amigos.
Vives no Púcaros, e por isso o Púcaros sem ti pode não ser o mesmo, mas não deixas de ser tu o Púcaros.

Estamos contigo

Manu Aresta

Claudia Sousa Dias disse...

o espírito do Carlos a atmosfera que lá criou irá sempre habitar aquelas paredes. Gostei de te ouvir,.EStiveste muito bem. Carlos merece.

O ambiente do Púcaros são as pessoas que o fazem. Por isso enquanto vocês lá estiverem o Carlos não morrerrá.

um Beijo, querido amigo.

csd

dina disse...

Eu não frequentava o Púcaros mas conhecia a onda fraterna, libertária, igualitária como se de uma tomada da Bastilha permanente se tratasse.
E também das pouquíssimas vezes que lá fui o Carlos, o único anarca que conheci pessoalmente, me "mimou" com palavras do género: "tens que vir mais vezes porque isto aqui é único no país, não é só a tua livraria".
Sei que onde quer que estejas, continuas a bradar aos céus a tua revolta genuínamente poética, mas desejo muito que consigas agora descansar um pouco da faina árdua de estar vivo sem ceder a nenhuma espécie de corrupção.
Um abraço enorme, até às estrelas. Dina (Poetria)