quarta-feira, 17 de novembro de 2010

HENRY MILLER E WALT WHITMAN


DA AUTOLIBERTAÇÃO

Henry Miller tem em mim o efeito que têm nele os autores que cita em “Os Livros Da Minha Vida”. Sinto fome das suas páginas, algo que me eleva, algo que é vida, liberdade e criação, que está nos antípodas do discurso do ministro das Finanças, que não fala de orçamentos, percentagens, cortes, mercados. Bucke diz que Walt Whitman “parece profetizar a raça vindoura”. É isso que eu vejo em Miller, Nietzsche e Jim Morrison. “Há mesmo a esperança de que uma nova raça de homens nasça neste continente (América), de que surja um novo paraíso e uma nova terra”, acrescenta Miller. Esse homem existe no homem. Esse homem tem de matar a finança e o primarismo da compra e venda, do ganho e da dívida que existe ainda em si. É possível chegar a esse homem, transbordante de vida. É possível chegar a esse homem “primitivo”, que Morrison reclamava. A esse homem que, nas palavras de Whitman, “achasse suficiente o simples facto de viver (…) com o Ser inundado noite e dia pelo êxtase total, ultrapassando todos os prazeres que a riqueza, o divertimento e mesmo as gratificações ao nível do intelecto, da erudição, ou do sentido estético podem proporcionar”. Esse homem não precisa de governos. Aliás, o governo, segundo Henry Miller, é “a abolição do eu”. Esse homem é, ele mesmo, autolibertação.

2 comentários:

Beatrix Kiddo disse...

Esse homem existe no homem, e já é um bom começo, mas parece que nunca passa disso

A. Pedro Ribeiro disse...

também, infelizmente, é verdade. Mas temos de acreditar.