sábado, 10 de abril de 2010

DIAS, NOITES


Já consegui chegar onde queria chegar no campo da sátira. Já disseram e até escreveram que eu sou o poeta maldito. Mas penso que ao nível filosófico, místico, só a espaços consegui chegar. É aí que tenho de estar, é aí que tenho de me situar. Leio os meus poemas dos 18/20 anos- "Mulher Ausente", "Anjo em Chamas"- e noto que estava a seguir um caminho. O "Á Mesa do Homem Só" só veio em 2001, foi essa colectânea, esse "best of". Depois, alguns poemas do "Saloon", alguns poemas do "Poeta a Mijar". Talvez haja um caminho que se perdeu. Farto-me dos versos das mamas e das gajas boas e até do Teles. Tenho de voltar aos textos iluminados. É aí que posso ser grande. Mesmo dentro do beatnick. No fundo, sou uma espécie de pregador. Só tenho pregado nos bares e, a espaços, noutros espaços mas, no fundo, quero pregar na praça pública. Mesmo sabendo o que é a praça pública. Sei que há dias, noites em que tenho o dom da palavra. Sei que há dias, noites em que a luz me ilumina. Sei que há dias, noites em que vou atrás da estrela. Sei que há dias, noites, em que estou à procura e me encontro. Não tenho a frase fácil, não tenho a conversa da conveniência, cultivo longos silêncios e a pose do artista, mas talvez até por isso aquilo que expresso assuma uma dimensão superior. Há mesmo dias, noites em que tenho o dom da palavra, qualquer coisa de santo, que sobe no canto.

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