quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

O HOMEM DO MUNDO

Se vivesse na Grécia antiga talvez fosse um rei. Ou talvez fosse condenado à morte como Sócrates. Não que me queira comparar a Sócrates. Mas essa viagem em que os vejo embarcados: família, trabalho, casa, francamente não me agrada. Produzo. Estou sempre a produzir alguma coisa. O raciocínio vai evoluindo. Às vezes até galopa. Não tenho de ser igual aos outros. Segui outra via. Nem sequer é correcto dizer que eu só escrevo sobre gajas, mamas, cafés e cerveja. Não tenho culpa que alguns desses textos sejam os que têm mais palmas. Escrevo sobre o Homem, sobre o sentido da vida. Escrevo. E às vezes escrevo só para mim. Não gosto de trabalhar. Nem tenho de obedecer a chefes, hierarquias, normas, intrigas. O meu único chefe foi o Artur Queiroz. E nem sequer estava sempre de acordo com ele. Ensinou-me muitas coisas muito para lá do jornalismo. É daqueles gajos que te marcam: como o Zé Pacheco, como o Jaime Lousa, como o António Manuel Ribeiro, como o padre Mário, como o A. Dasilva O., como o Joaquim Castro Caldas.
Às vezes limito-me a reproduzir as conversas dos outros. Não há dúvida que o pessoal se diverte mais à mesa com umas cervejolas à frente. Já era assim na Grécia. São as mesas parilhadas do padre Mário de Oliveira. Como estou só produzo. Chamo o Adriano e peço mais uma. É o filme do costume aqui no Piolho.
Sou um solitário. Mas gosto da praça pública. Prefiro os cafés grandes, citadinos, cosmopolitas. Lá está a conversa a fugir para o Piolho. Dizem que não faço nada mas também dizem que sou tanta coisa: poeta, mago, actor, diseur, performer, filósofo, profeta. Confesso que também sou um bocado narcisista. Mas também se não o fosse já tinha caído na merda de vez. Agora estou realmente a escrever "o livro". Sei que é para esse livro que confluem as minhas energias. Não, não sou o homem do trabalho nem da família. Sou o homem do mundo. É isso. Às vezes toco a coisa. Sei perfeitamente onde quero chegar. Tenho seguido caminhos pouco ortodoxos. Sei que não vou lá por linhas rectas. Acredito. Tenho fé. E não é só em mim. É na vida. No homem a construir. Na ideia.

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