Uma semana depois de Armando Vara jurar inocência e distanciamento, o director do Sol foi ontem ao Parlamento contradizer o administrador suspenso do BCP. José António Saraiva (na foto) garantiu que, há cerca de um ano, no período financeiro mais crítico do jornal, as negociações para a entrada de um novo accionista foram dificultadas pelo BCP. "A situação foi comandada directamente pelo dr. Armando Vara", disse o jornalista.
Paulo Azevedo, o administrador da Millenium BCP Capital, sociedade que geria a participação do banco no Sol, disse à direcção "várias vezes que tinha que falar com Armando Vara porque não tinha autonomia para tomar decisões", acrescentou o director, dizendo também "presumir" que Vara "tenha tido conversas com José Sócrates sobre o Sol". Na altura, o BCP, que já quisera vender a sua quota no Sol, perante o interesse de capital angolano, disse querer comprar o resto do jornal, mas recusava a cláusula que impõe que um novo dono não mude a direcção durante os primeiros três anos.
"Ficou claro que o que o BCP queria era decapitar a direcção do Sol e interromper a sua publicação", apontou Saraiva, considerando que o BCP tentou constituir-se como um "verdadeiro cavalo de Tróia".
O director acusou ainda a Cofina - que teve uma quota durante seis meses - de querer "fazer o trabalho sujo" de "limpar" o jornal, fingindo que vendia a sua participação, mas entregando-a a "um assessor" seu, Alberto do Rosário. O director disse mesmo ter sido recriminado pelo presidente da Cofina, Paulo Fernandes. "Vocês deviam ser menos contra o Governo", ter-lhe-ia dito o empresário.
O BCP foi accionista do Sol desde o lançamento, em 2006, Estava contratualizado que se manteria por cinco anos, mas quis sair logo ao fim de um ano. A situação agudizou-se em 2008, quando a linha de crédito do BCP foi cortada, o banco negou um patrocínio já prometido a uma iniciativa do jornal e, tal como a Cofina, retirou os administradores.
Saraiva não tem dúvidas de que esta tentativa de "asfixia financeira" se deve aosdossiersincómodos para o Governo e contou que o subdirector Mário Ramires recebeu um telefonema de "uma pessoa muito próxima do primeiro-ministro" - cujo nome se negou a revelar em público, mas aceitou enviar por carta à comissão - fazendo depender a resolução dos problemas financeiros do jornal (através do BCP) da não publicação de mais notícias sobre o processo Freeport. O director do Sol enviou mais tarde uma carta referindo o nome do jornalista Eduardo Fortunato de Almeida. "Tenho recebido ameaças de morte, em cartas anónimas, a mim e à minha família. Mas não é isso: isto é uma ameaça de uma pessoa que conhecemos", disse o director.
Em relação à divulgação das escutas do processo Face Oculta, Saraiva sustentou que o jornal não violou a lei nem a privacidade dos visados. "Não fazemos jornalismo voyeurista. As conversas estão cheias de grosserias, palavrões, apartes e de insultos pessoais, limpámos isso", revelou.
Para Saraiva, Sócrates "não tem uma relação incómoda, ele tem uma vocação dirigida de controlo da comunicação social".
O director do Sol não tem dúvidas em afirmar que "há uma conivência do poder judicial com o poder político" e considera haver factos suficientes para dizer que "há encobrimento do poder político pelo poder judicial".
Questionado pelo PS sobre se é a líder do PSD que dá substancia política aos editoriais do Sol, Saraiva descartou a crítica: "Se nós municiamos Manuela Ferreira Leite? Não sei. Se nos municia, posso dizer que não. Talvez nenhum jornal como o Sol foi tão crítico à actual direcção. Todos os líderes do PSD têm sido zurzidos." Maria Lopes e Sofia Rodrigues
sábado, 27 de fevereiro de 2010
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