O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, assumiu ontem a responsabilidade política pela guerra do Afeganistão, redefinindo por completo o envolvimento norte-americano no conflito e anunciando o prazo e as condições para uma retirada militar, já a partir de Julho de 2011.Jim Young/Reuters
Obama falou perante os cadetes em West Point
Numa comunicação ao país perante os cadetes da Academia Militar de West Point, o Presidente informou que mais 30 mil soldados americanos, que serão enviados para o teatro de guerra, “de forma acelerada e o mais rapidamente possível” ao longo dos próximos seis meses.
A sua missão, explicou, terá três objectivos: eliminar a ameaça taliban, garantir a segurança da população e treinar as forças afegãs, para quem será progressivamente transferida a responsabilidade de supervisão das diversas regiões. No total, os Estados Unidos ficarão com cerca de 100 mil tropas no Afeganistão. “Estes são os recursos necessários para recuperarmos a iniciativa e construir a capacidade do Afeganistão para permitir uma transição responsável e a saída das nossas tropas”, disse Obama.
Os custos do reforço
A escalada da guerra, continuou, terá um custo estimado de 30 mil milhões de dólares por ano, que terão de ser financiados por mais dívida pública. O novo plano prevê um idêntico reforço do contingente civil, para tarefas de apoio ao desenvolvimento, e um extenso trabalho diplomático, particularmente no Paquistão, para combater os grupos extremistas e redes terroristas neste país.
Os secretários da Defesa, Robert Gates, e a secretária de Estado, Hillary Clinton, estiveram no Congresso para reforçar perante os legisladores as razões apresentadas pelo Presidente sobre a “importância vital” da operação no Afeganistão para a segurança interna dos Estados Unidos — e também dos seus aliados.
Esse é um argumento que todos os republicanos aceitam (a bancada da oposição saudou a decisão, criticando apenas o seu calendário para a saída das tropas), mas que não colhe junto de muitos democratas. A maioria alega que a Al-Qaeda foi desmembrada no Afeganistão e que os EUA não podem confiar no Governo de Hamid Karzai, vencedor de eleições indiscutivelmente fraudulentas.
A partir de Kandahar, o centro nevrálgico dos taliban no Afeganistão, o comandante das tropas americanas e responsável pela operação da NATO, general Stanley McChrystal, elogiou a decisão do Presidente Obama e saudou a “clarificação da missão”, que “garante aos parceiros afegãos o tempo, espaço e capacidade para defender o seu país”.
O general confirmou que uma parte dos recursos será usada para “romper, desmantelar e derrotar a Al-Qaeda”, impedindo a sua reorganização no Afeganistão e no Paquistão.
Mas o foco da operação, como já su-
blinhara Obama, tem a ver com a estabilização da segurança das populações e o treino e formação das forças afegãs, que poderão crescer dos actuais 190 mil efectivos para cerca de 400 mil em quatro anos.
Obama deu às chefias militares exac-
tamente aquilo que elas pediram — e até mais depressa do que elas imaginariam. Esta quarta-feira, já alguns especialistas se questionavam sobre a capacidade do Exército para responder tão depressa às ordens do Presidente. O chefe do Pentágono garantiu, porém, que a primeira unidade de fuzileiros está pronta a avançar já nas próximas duas ou três semanas.
O Presidente tornou claro que os EUA não avançarão para o capítulo do nation-building, que, frisou, é responsabilidade exclusiva do Governo, instituições e sociedade afegã. “A única nação que estou interessado em construir é a minha”, declarou.
A pressão do prazo
Mas, mais significativamente, Obama deu aos militares um prazo de 18 meses para serem bem sucedidos na sua missão. O Presidente não anunciou a retirada total das tropas a partir de Julho de 2011; disse que nessa altura seriam reavaliadas as opções dos Estados Unidos. Presume-se que o Presidente decidirá, então, se vale a pena continuar no Afeganistão.
Como muitos analistas assinalavam, o ponto fulcral da nova estratégia de Obama tem a ver com a sua “transparência”, não só em termos do âmbito da missão como da sua responsabilidade política. Ao estabelecer datas, o Presidente americano pressiona o seu Exército, os seus aliados da NATO e os governos do Afeganistão e do Paquistão para agir e obter resultados. Mas assume pessoalmente o maior risco: a revisão da estratégia cai em cima da data da sua (previsível) campanha para a reeleição.
E, para contrariar os seus críticos, o Presidente ousou mesmo fazer uma comparação com a guerra do Vietname, uma ferida ainda aberta na sociedade americana. “Ao contrário do Vietname, operamos no âmbito de uma coligação de 43 países que reconhecem a legitimidade da nossa acção. E mais importante, ao contrário do Vietname, o povo americano foi traiçoeiramente atacado a partir do Afeganistão, e continua a ser um alvo para os extremistas que operam ao longo da sua fronteira”, sublinhou
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
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