sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

SEMPRE A ABRIR


Leio Jim Morrison
finalmente, Jim Morrison!
Que o meu amigo Angel
me ofereceu
estou ao balcão da patroa bonita
passo a tarde na cama
e agora estou-me a desforrar
vendo uns livros
saco algum cacau
e depois venho bebê-lo aqui
os gajos de sempre
pedem futebol
a vida é uma seca
e não é o futebol
que a vai mudar
escrevo
e nem sequer tenho
muita vontade de escrever
é o que rola
e o que dá
amanhã: concerto na Casa Viva
ontem três espectadores
na Poesia de Choque
umas vezes a glória
outras o deserto
assim vai o artista
bebe mais uma
é sempre a abrir
e a Carlinha em Amarante
e a Gotucha na Madeira
está a dar o Braga
oxalá ganhe
se perder, paciência
não vivemos disto
vivemos do rock n' roll
é isso que vamos
mostrar amanhã
com o Henrique
grande Henrique
senhor da guitarra
vamos até de madrugada
isto está seco
vamos regá-lo com cerveja
e o Rocha já telefona
e peço mais uma
e a gaja dá-ma
dá-me cervejas
mas cobra-mas
é assim em todo o lado
ninguém dá nada a ninguém
só nos emprestam canetas
as canetas valem pouco
no mercado
o mercado dita tudo
é uma merda
grande merda
de mundo nos deste,
ó Deus!
Não é este o mundo que quero
eu quero festa
eu quero celebração
canto o mundo que não existe
mas já existiu
no tempo dos sátiros e dos xamãs
no tempo de Morrison e Zaratustra
isto apesar da senhora da noite
ser muito simpática
mas esse mundo que canto
já não existe
existiu, a espaços, na minha vida
sim, a espaços, eu fui o rei
capaz de tudo
de ir até ao infinito
mas agora tudo quanto vejo
é tédio
e homens a discutir futebol
assim vai a vida
assim vai o artista
ontem estava quase bêbado
apesar dos três espectadores
está a sair mais um épico
és boa
dás-me broa
vestida de negro
não percebes nada de futebol
e ainda bem
criticas o Saramago
e que se foda!
O Saramago é um romancista
não é um profeta
como o padre Mário
está frio
anda aquecer-me, querida!
Está tudo a zero
ninguém se chega à frente
e eu escrevo estas merdas
já não é a "Mulher Ausente"
o Braga joga mas não marca
joga-se tudo no domingo
Benfica-Porto
o país pára
a dona fuma
"não há brilho no que vejo"
dizias tu, António
não sei como é que
os teus versos não são mais citados
ã dona diz que gosta
de tirar fotografias às flores
oferece-lhe flores, ó anarca!
Tens flores no teu quintal
vais até ao fim
e o Braga marca.


"Nova Onda", 18.12.2009

1 comentário:

Claudia Sousa Dias disse...

Festa. Para preencher os vazio das horas.

o poeta é o alter-egho de virgínia woolf.


csd