quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

IGUAIS AOS DEUSES

IGUAIS AOS DEUSES

António Pedro Ribeiro


Acordo de madrugada. Penso que sou um rei em cima do palco. As mulheres acham-me piada e riem-se para mim. Ontem só bebi cinco cervejas. Tenho bebido muitas mais noutras noites. Pensava que depois de ter ido ao Campo Alegre as mulheres bonitas me viriam dar beijos na boca. Afinal, não. É a mesma rotina de sempre. É como um gajo em frente ao computador a teclar. Terei algo que os outros não têm. Ando na demanda do Graal, procuro os moinhos de Quixote. A anarquia vem ter comigo. Estou mesmo muito bem disposto. Poderia ter conversas espirituosas com muita gente. Fá-los-ia rir. Pelo menos não ando para aí a partir os vidros dos carros. O que até nem era má ideia. Anjo em chamas. Por onde andas? Por aí, atrás da minha loucura. Os meus berros são de louco. Cambaleio pelo palco. Faz-me falta o Henrique. Ando a ouvir as canções todas das Las Tequillas no youtube. Diz a palavra. Quero ir para o palco. O meu reino por um palco. A plateia aborrece-se, entendia-me. Sempre as pessoas normais a fazer as coisas normais. Sempre as pessoas a dizer avé-maria ao chefe, ao Sócrates, ao Cavaco. Sempre atrás do dinheiro e do estatuto social. Sempre fechadas na família. Sempre a fingir que estão bem. Sempre a criticar o parceiro do lado. Não! Não é isso que quero. Afastei-me dessa via. Não sou mesquinho, não sou merceeiro. Estou do lado da liberdade. Do lado do criador. Do bailarino. Vim para aqui de graça para criar. Assim devo continuar. Assim é o Artista. Provoco os outros. Faço-os rir. Para isso vim ao mundo. Nada a fazer. A vida não é só comer, beber e sacar dinheiro. Estamos aqui para algo de muito mais alto, de mais sublime. Estamos aqui para sermos iguais aos deuses.

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