O MUNDO À MESA
António Pedro Ribeiro
Correu o mundo na marinha mercante nos anos 70 e 80, da Austrália à Nova Zelândia, da América Latina ao Japão, é um apaixonado dos blogues e da internet, foi sindicalista, é poeta e há 17 anos que é empregado de mesa no "Guarda-Sol". Fernando Oliveira nasceu em Atães (Vila Verde) há 50 anos e diz que sempre gostou de geografia e que, por isso, quis conhecer como viviam os outros povos. "Em todo o lado há desigualdades mas dentro do capitalismo existem locais com mais igualdade do que outros. No Canadá, na Austrália, na Nova Zelândia, há uma segurança social mais reforçada. O trabalhador tem mais dinheiro. Nos Estados Unidos quem não tiver um seguro morre debaixo da ponte. A Tailândia e as Filipinas são muito bonitas para os turistas mas para os pobres é a miséria e há abuso de poder", esclarece.
No "Guarda-Sol", Fernando Oliveira mantém uma relação afectiva com os clientes. "Quando não estou ocupado gosto de conversar com as pessoas. Todas as pessoas têm histórias de vida. Acabamos por ganhar amizades. Isto, muitas vezes, funciona como uma espécie de confessionário. O "Guarda-Sol" é uma espécie de tertúlia. É um sítio onde as pessoas discutem ideias, conhecimentos, modos de vida, alegrias, tristezas", afirma. "Vemos um cliente que está a ler um livro ou um jornal e desenvolve-se a conversa". O Guarda-Sol é um café, pela sua dimensão e história, único na Póvoa. Fernando Oliveira não teme que aconteça ao "Guarda-Sol" o que aconteceu ao "Diana Bar". Embora "a sociedade de consumo tenda a fazer com que este género de casa acabe", diz.
O nosso entrevistado tem quatro blogues, entre os quais "Recanto das Letras" (http://recantodasletras.uol.com.br/autor.php?id=23105), onde publica os seus poemas e "Ondas e Marés" (http://ondasdiversas.blogspot.com), onde descreve as aventuras que passou na marinha mercante. Considera-se um romântico e um lírico. Admira Camões e Florbela Espanca. É um adepto da internet porque esta lhe permitiu reencontrar amigos que tinha perdido no tempo da Austrália, do Japão, e mesmo em Portugal e porque, por enquanto, é o meio de informação mais livre e democrático que existe.
No entanto, para Fernando Oliveira, que recorda os tempos do 25 de Abril e do "Verão Quente" passados em Lisboa, "hoje a repressão é feita a nível material. É uma ditadura diferente que não manda o individuo para Caxias ou para o Tarrafal. Há uma grande pressão do dinheiro para se ter carro ou casa. O ser humano é psicologicamente castrado. Corremos o risco de mais ditaduras mafiosas estilo Berlusconi, onde os políticos criam leis para se auto-protegerem", esclarece.
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário