terça-feira, 18 de agosto de 2009

O POEMA QUE CURA

Volto ao "Piolho"
e bebo
todos os meus amigos
estão de férias
todos excepto o Paiva anarquista
escrevo, uma vez mais,
ao sabor da cerveja
ao menos a cerveja
puxa-me para cima
tantos dias na aldeia
tornam-me depressivo
e eu preciso combater a depressão
há um ano
que não tenho depressões prolongadas
curiosamente
chego ao "Piolho"
bebo e sinto-me logo melhor
não tenho grande explicação
para o fenómeno
viva o "Piolho"!
Viva a cerveja!
E, já agora, vivam as gajas!
Já posso olhá-las
com outra cara
até estou ao voltar aos poemas longos
mais um que vai para o livro!
Foi também Nietzsche,
a figura de Nietzsche
em "Quando Nietzsche Chorou"
que me manteve à tona
que me elevou
também recebi, via net,
mais elogios
à minha actuação em Paredes de Coura
é extraordinário!
Estou outra vez cheio de speed
e ainda há poucas horas
a queda parecia irreversível
viva Nietzsche!
Viva o "Piolho"!
Viva a cerveja!
E o poema prossegue
e volta a aparecer
o Paiva anarquista
admiro o Paiva
é um activista incansável
eu não sou um activista
ou deixei de o ser
só faço propaganda
quando subo ao palco
ou quando os meus livros
têm leitores
este ano, no 25 de Abril,
disse um poema na Praça
foi o meu momento
de maior intimidade
com o povo
por um lado,
quero subir ao povo
por outro lado,
há a questão do rebanho,
da populaça
que me faz procurar companheiros,
companheiras
como Nietzsche procurava
Zaratustra foi rejeitado pela populaça
e eu também sinto que o sou
talvez estejamos
demasiado elevados para a populaça

As mulheres vieram para junto de nós
ocuparam os lugares próximos de nós
Nietzsche dizia muito mal das mulheres
dizia que eram falsas e manipuladoras
talvez as mulheres nos queiram ouvir
talvez queiram escutar a nossa canção
talvez queiram abandonar a populaça
agora bebem vinho da caneca
talvez tenha chegado a altura
de despejar a minha poesia
não a posso guardar para mim
a minha poesia dirige-se ao mundo
mesmo que o mundo a não mereça
mesmo que o mundo seja a populaça
tenho de estar preparado para a rejeição
talvez tenha de esperar anos, décadas
como Nietzsche
mas não aguento mais a espera
"estou a ficar farto de tantos rodeios"
como Morrison
quero o aqui e o agora!
Quero a eternidade,
o instante eterno, agora!
Este é o poema
este é, de novo, o poema
que volta ao princípio
à origem
ao Eden
este é o poema que inicia
este é o poema
que começa com Eva
este é o poema que eleva
este é o poema que começou no "Piolho"
com cerveja
este é o poema
que afastou a doença
este é o poema
que vai dar a Zaratustra
este é o poema que dança
este é o poema
que nasce entre as mulheres
este é o poema que queres
o poema que se dirige ao mundo
que sobe ao povo
que faz com que o povo
deixe de ser populaça
este é o poema que salva
este é o poema que não precisa de Deus
este é o poema que eu precisava escrever
este é o poema que se eleva
às 9 e 7 da noite
no meio do "Piolho"
no meio das mulheres
este é o poema que cura
este é o poema que dura
este é o poema que grita
e que fica na cidade.


"Piolho", 17. Ago. 2009

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