Não deve haver muitos poetas
a escrever ao ritmo a que eu
tenho escrito
Fernando Pessoa escreveu os 30 e tal poemas
do "Guardador de Rebanhos"
mas há poucos casos assim
e eu nem sequer estou
em estado extático
é mais uma espécie de obsessão
vou na rua e as ideias surgem
o que vale é que apenas tive de percorrer
o caminho do "Ceuta" até ao "Piolho"
senão teria de sacar do papel e da caneta
no meio da rua
em plena Praça dos Leões
e começar a escrever
seria considerado um doido
coisa que já realmente sou
apesar das aparências
a pedra já está em mim
mesmo que não beba
mesmo que não me drogue
deve haver mesmo poucos gajos assim
a escrever 5, 6, 7 poemas por dia
nem todos são brilhantes, claro,
mas tenho a certeza de que há alguns
que estão lá próximos
uma boa percentagem
daquilo que tenho produzido
nestes dois últimos meses
nestes dois meses mágicos
em que houve dias
em que toquei o sublime
a própria divindade
não é bem o caso de hoje
hoje é uma coisa mais seca
mais mundana
hoje é apenas o gajo
que escreve no café
que não tem vergonha
de escrever em frente a toda a gente
já que não dá jeito
escrever na rua
os outros trabalham
tiram cursos de formação
e eu escrevo no café
habituei-me a escrever no café
desde que vim para o Porto
ou talvez já em Braga
não me lembro bem
sim, acho que já em Braga
aos 18 anos
escrevia no café
"Mulher Ausente" foi escrita no café
e agora sento-me à mesa
e não paro de escrever
de vez em quando aparece alguém
que me saúda e mete conversa
mas eu continuo a escrever
faço disto o meu escritório
sou um poeta de café- já o escrevi
mas nunca tinha escrito
a este ritmo
também é uma forma de combater o tédio
de observar a sociedade do consumo e do mercado
de analisar o comportamento dos meus semelhantes
de descarregar a minha alma.
"Piolho", 29.6.2009
sábado, 4 de julho de 2009
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