terça-feira, 2 de junho de 2009

PIOLHO


Estou no "Piolho" e escrevo
uma vez mais
peço uma cervejola ao empregado
e lembro-me do Jaime Lousa
isto hoje só com cerveja é que vai
não estou como no Sábado
mas estou contente comigo mesmo
a cada gota de cerveja a palavra flui
olha! Aliás, o Estado deveria fornecer-me
cerveja gratuitamente, deveria pagar-me em cerveja
para eu escrever mais
o Fred foi renovar o passe
e eu aqui a olhar para o imbecil do Jorge Gabriel
vá lá que a televisão está sem som
aqui no "Piolho" é assim
faz 100 anos
e eu há cerca de 20 que venho cá
tertúlias, copos, reuniões políticas e literárias
namoros até
e cafés, muitos cafés
gajas boas
porque raio terei de falar sempre nas gajas boas?
Porque raio é que as gajas boas aparecem sempre?
Ainda hoje estive com uma
não, ela não ia gostar que a tratasse assim
pronto, estive com uma velha amiga
a conversar
nada mais
estivemos a conversar e eu nem sequer
lhe falei na Boa Nova que quero transmitir
às mulheres
às mulheres, especialmente às mulheres
talvez elas me ouçam
talvez ouçam este pobre rapaz
em conflito com o mundo
este rapaz que nos últimos dias
tem ouvido os Joy Division
e não deixa de ter uma certa tristeza
uma melancolia insolúvel
e que vai bebendo à medida que escreve
pensa que tem o mundo na mão
mas não tem
o mundo escapa-se-lhe
o mundo esgota-se
como a cerveja
Porra! Nunca mais fico bêbado!
Bebo e nunca mais fico bêbado!
Quero ficar bêbado como o Joaquim Castro Caldas!
Quero ficar bêbado como o Jim Morrison!
Mas não consigo
o dinheiro não chega para isso
vá lá que há amigas e amigos
que me vão emprestando uns trocos
e eu queria mesmo ficar bêbado!
Cantar na rua
dizer disparates
os gajos dos bares deveriam fornecer-me
gratuitamente álcool para eu produzir
e ficar bêbado
já há quem o faça
mas é só uma pequena percentagem
uma pequena minoria
já o disse! Não nasci para trabalhar!
O meu trabalho é este
e beber também faz parte do meu trabalho
é isto que não entendeis, ó teóricos!
É isto que não entendeis, ó poetas da corte!
Beber e escrever
beber, viver e escrever
e peço mais uma
o cacau ainda dá
e vou bebendo
o empregado já compreende a minha linguagem
até me dá cartões!
e agora até dizem que sou o poeta das gajas
Gajas? Até parece que sou um Casanova!
Enfim, quem tem fama quer proveito
mas esta é a história da minha vida
beber por beber
já bebi mais do que agora
quando trabalhava gastava 80% do salário em àlcool
o resto em livros
e lá ia levando a vida
não me tenho que me andar a orgulhar dessa merda
o que é facto é que a cerveja se vai esgotando
e chega o Fred
e a escrita esgota-se.

3 comentários:

Contra disse...

O poetas das Gajas!!! É pá, que querias? Um inestético " o poetas das mamas"...? E depois ainda começavam a dizer ao poeta: " mamas aqui ... mamas ali..." e ficavas mais um político da treta ... sim esse é o mote dos Socrates e afins...
Caro amigo Pedro " o poeta das gajas" da-lhe é com força , com pedal... bora!!! siga!!!

Claudia Sousa Dias disse...

acho que vais mesmo acabar por ficar com a fama e com o proveito...


csd

Contra disse...

É um processo irreversível...
E ainda por cima a culpa foi minha... por minha culpa tão grande culpa...
Pensando positivo, com a fama vem ainda mais fama logo... pimbas!!!