Estou no bar, bebo e escrevo. Há anos que a situação se repete. Mas não tenho escrito nos bares. As gajas da mesa da frente falam. O bar começa a noite. Pelo menos aqui não tenho de aturar os chatos do costume. Escrevo. Ponto final. EScrevo sem objectivos. Sem pensar em livros nem em noites no Púcaros. Escrevo. A caneta vai avançando. Há malta que entra. As gajas da frente saem. Deixam as chávenas vazias. Sou o gajo só que escreve. A diferença é que já deixei obra. Apetece-me uma gaja. Uma gaja que venha sem eu a conhecer de lado nenhum. Uma gaja doida, passada que venha beber uns copos comigo. Que se esteja a cagar para o facto de eu não ter dinheiro nem trabalho. Que me venha amar ao inferno. QUe venha entre copos e noitadas. Que venha venha ao sabor da música. Que venha dentro da cerveja. Que venha até ao fim. Que venha absolutamente divina. Que venha na passerelle. Que venha no "Deslize". Que venha a deslizar. Que venha para ficar. Sou o poeta que escreve e tem horas para o metro. Sou o poeta que escreve e que tem dúvidas se vai ficar. Sou o poeta que se mete na retrete. Sou o poeta que saúda o Jesualdo. Sou o poeta à frente do cassetete. Sou o poeta Tebaldo. A minha escrita está doente. A minha escrita monta o cavalo e a Maria. A minha escrita vem-se na sacristia. Sou o bêbado que berra e canta na rua. Sou o ser que incomoda o vizinho. Sou o gajo que sobe ao palco e diz blasfémias. Sou o gajo que come a Ifigénia. Sou o mestre que queres conhecer. SOu o gajo que vai desaparecer. Sou a rebeldia que se mistura com os jovens. Sou o vampiro que te chupa o sangue. Sou o gajo que transforma a rotina num acontecimento. Sou o animal que destrói o teu casamento. Sou o monstro que vagueia pela cidade. Sou a tua identidade. Sou o gajo que está ao balcão. Sou o teu irmão. Sou o gajo que olha para as gajas. Sou o gajo que saca a canção.
Posted by apedroribeiro at 2:04 PM 1 comments
Sunday, December 21, 2008
Teoricamente 5000 pessoas podem ler os meus escritos. A revista "Um Café" publicou o meu texto "Poetas de Café" e traz uma prosa com referências ao meu livro "Saloon" e às minhas idas ao "Púcaros". Já era suficiente para me sentir nas nuvens. Só que as gajas não aparecem. As gajas não aparecem e eu estou só no "Piolho" a escrever numa sexta á noite. O argumento para o hipotético filme rola. A cerveja também.
sábado, 6 de junho de 2009
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