SECÇÃO: Cultura
Entrevista a António Pedro Ribeiro
Voz Sem Dono
António Pedro Ribeiro nasceu no Porto, em Maio 1968, e vive em Vilar do Pinheiro, Vila do Conde. É Licenciado em Sociologia. Tem sete livros de poesia editados, destaque para: à mesa do homem só, Silêncio da Gaveta, 2001; Declaração de Amor ao Primeiro Ministro, Objecto Cardíaco, 2006; Sallon, Edições Mortas, 2007; Um poeta a Mijar, Corpos Editora, 2007. A 22 de Maio em Braga, na Centésima Página, apresenta o seu mais recente livro “Queimai o Dinheiro”.
António Ribeiro
A Voz da Póvoa – O título é o fósforo que incendeia os poemas do livro?
António Pedro Ribeiro – “Queimai o Dinheiro”, está claramente ligado ao livro. O dinheiro e tudo o que gira à volta da economia de mercado é cada vez mais como um deus. Há um discurso económico das estatísticas, das percentagens, das bolsas, dos mercados, que domina tudo. Há uma linguagem quase hermética que poucos dominam. O livro funciona como uma denúncia.
A.V.P. – A forte carga política que o livro tem pretende mexer consciências?
A.P.R. – Tem uma parte claramente politizada, rebelde, anti-capitalista, onde vou buscar muita coisa aos surrealistas, aos situacionistas e a Nietzsche. Há muitos textos poéticos que vão contra esta sociedade de rebanho, de merceeiros que temos. Isto está tudo nas mãos de banqueiros e especuladores bolsistas. Temos ladrões nos bancos e nas bolsas e ninguém é punido.
A.V.P. – Para um poeta de intervenção a denuncia deve ser uma luta permanente?
A.P.R. – Hoje faz mais sentido que nunca. Não nos mesmos moldes do antes do 25 de Abril, porque há novos dados. O capitalismo não é o mesmo, mas a luta é. Neste livro há também poemas e textos que são mais ligados às deambulações nocturnas, ao jogo sensual e sexual, muito claramente à mulher, com uma parte mais mística ligada ao sentido da procura do amor.
A.V.P. – Transportas esta ideia do livro para o palco dos recitais?
A.P.R. – Tenho feito intervenções com a poesia de choque e tento transpor isso para o palco. Às vezes de uma maneira mais teatral, utilizando elementos cénicos, queimando notas falsas. Já tenho tido manifestações de pessoas que vem falar comigo no fim. Há sempre quem não goste e até se sinta incomodado.
A.V.P. – Queimar o dinheiro é metafórico, ou é possível recuar ao tempo da troca?
A.P.R. – Tem um sentido metafórico, mas também levanta a questão da troca directa. O dinheiro é muito mais que uma moeda ou um papel. O dinheiro é um símbolo, um deus que parece estar acima de tudo, que comanda todas as relações. Poucas vezes conseguimos escapar à sua influência. Talvez em algumas relações de amor, de amizade ou fraternidade. Tornou-se uma espécie de monstro que está em todo lado. Domina todas as outras ciências. Subjuga todas as artes.
A.V.P. – A sua poesia é muito referenciada, os mestres estão sempre presentes...
A.P.R. – Tem a ver com o que leio. Ultimamente voltei ao Nietzsche, li pela primeira vez filósofos gregos como Platão e indirectamente Sócrates. Tenho a vantagem de ter muito tempo para ler. Isso naturalmente reflecte-se no que escrevo.
A.V.P. – Tal como Mário Viegas dizia, a poesia é mais forte que uma arma?
A.P.R. – Não sei se tem mais força que todas as armas, mas é poderosa. É a arma que os poetas têm e que as pessoas que contactam com a poesia podem ter. É uma arma que acaba por ter muito mais influência do que outras vias de luta.
Entrevista de José Peixoto
ler em www.vozdapovoa.com na secção "Cultura"
sexta-feira, 8 de maio de 2009
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
gostei muito!
beijinhos
csd
Enviar um comentário