quinta-feira, 9 de abril de 2009

O HOMEM PEQUENO E O ESPÍRITO LIVRE


"Dou o nome de Estado ao lugar em que todos, bons e maus, gostam de veneno.
Vede, pois, esses que estão a mais! Estão sempre doentes, vomitam a sua bílis, e a isso chamam jornal. Devoram-se uns aos outros e nem sequer se podem digerir.
Vede, pois, esses que estão a mais! Adquirem riquezas e só conseguem tornar-se mais pobres. Esses impotentes querem o poder e, antes de tudo o resto, a alavanca do poder, ou seja, muito dinheiro!
Vede-os trepar, esses àgeis macacos! Sobem uns por cima dos outros e empurram-se para a lama e para o abismo."
(Nietzsche, "Assim Falava Zaratustra")

Eis a que se resume o Estado, o poder e a competição na sociedade capitalista. Nietzsche descreve-o magistralmente há mais de 100 anos. Macacos que "sobem uns para cima dos outros" e se empurram para a lama e para o abismo. Acontece na política. Acontece na sociedade. Luta-se por um lugar, por um emprego, por uma carreira, por um cargo. O deus-dinheiro, o mercado e a economia comandam todas as relações. Os que perdem são empurrados para o fracasso, para o desemprego, para a miséria, para a lama. É a lei do mercado e do homem pequeno. A vida faz-se de intriga, de ganância, de contas de mercearia. É a sociedade da gentalha e da canalha. E essa gentalha odeia o espírito livre, "aquele que não presta adoração e vive no meio das florestas, livre da felicidade dos servos e dos deuses", portador de uma vontade "intrépida e terrível, grande e solitária". Essa gentalha goza da felicidade da maioria e é servil para com os seus "superiores" porque está hierarquizada, levando uma vidinha de tédio, rotinas e obrigações. À lei das massas e da maioria, à democracia burguesa opõe-se o indivíduo soberano, o espírito livre de Nietzsche. Ao deus-dinheiro opõe-se a liberdade absoluta dos surrealistas. A gentalha, o homem pequeno, preocupa-se essencialmente com a sua comodidade e sustento, não procura o conhecimento. É um homem de meias-medidas, não se preocupa com o que é grande e inteiro como o espírito livre. "Vede, pois, como estes mesmos povos imitam agora os merceeiros: para juntar as mais pequenas vantagens, dão volta a todas as sujidades!". A sua "felicidade" é uma felicidade falsa que não sabe dançar: "E que por nós seja considerado perdido o dia em que não dançamos!" O espírito livre, o criador ou vive segundo a sua vontade ou não vive. O homem pequeno não tem vontade própria, age de acordo com o poder ou com a maioria. Segundo Michel Onfray, "contra o soberano que deseja o grupo, o número e uma quantidade, ele (libertário/ espírito livre) realiza a sua própria soberania e autoriza uma palavra susceptível de dizer "eu" e trata de possibilitar o mesmo exercício para cada um".

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