sábado, 14 de fevereiro de 2009

CHEGA O FINO E CHEGA A VIDA


CHega o fino
e chega a vida
mal chega o àlcool
começo a escrever
é a minha sina
não fui feito para os negócios
nem para percentagens
às vezes tenho visões
mas sou muito agarrado à terra
gosto de saborear a cerveja
de a sentir nos lábios
como a uma mulher
às vezes um gajo vai abaixo
mas depois tem de se levantar
senão a coisa estoira
e acabamos internados

chega o fino
e chega a vida
cá estou eu no "Piolho"
a olhar para a gaja defronte
bebe vinho e fala
não se cala
tem estilo
é bonita
faz-lhe falta um artista como eu
como eu, claro, nos melhores dias
não é a cair por aí aos bocados
como às vezes estou
afinal de contas, todos deveríamos
comer e beber de borla
esta merda do dinheiro é que fode tudo

Chega o fino
e chega a vida
vai chegando a vida por aqui
umas noites de poesia aqui
umas bebedeiras ali
desde que o fígado não doa
a coisa vai andando
chegou a comida para as gajas
eu, cá por mim, alimento-me de cerveja
e já não está mal
peço outra
o empregado não ouve
o café está quase cheio
finalmente ouviu
vamos ver o que sai desta pena
além do futebol habitual na televisão
cá está a loirinha
sempre fiel
vem ter comigo
não tem preconceitos como as outras
dá-me de beber
dança comigo
preenche o poema
sou o doutor
para o gajo da rua
enquanto a coisa durar
enquanto o poeta cantar

chega o fino
e chega a vida
a tinta derramada
a escrita no papel
o grupo ao lado
que incomoda
mas mesmo assim
ela vem
de negro e cinzento
de vermelho e azul
o poema arde
rumo ao sul
eu hei-de contar-te
a minha vida
como cheguei até aqui
a minha saída
nasci com uma estrela
que alumia de vez em quando
vou até ao fim
ardo no canto
se tu queres saber
já pouco me importa
a não ser a cerveja
e um trago de vodka
o que sei eu?
Não vou transmtir
sou o enigma
a história que rebenta
o homem em guerra
mesmo que sozinho
mesmo que parado
o homem respira
vai à luta
até ao último copo.

Chega o fino
e chega a vida
e a gaja come a batata frita
sou esse homem
que vai aos cafés
beber cerveja
a gaja é bela
mas os gajos do lado irritam
com a conversa
não me deixam escrever
deixam-me na merda
que grande história
me saiu esta.


Porto, Piolho, 11.2.2009