segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

REBANHO


Escrevo
mas escrevo para quê?
Quem me publlicará?
Tenho dois livros prontos
e ninguém se chega à frente
mas chega de lamúrias
estou no café a beber cerveja
e os homens comem
os apanhados passam na televisão
e o povo ri
contenta-se com pouco
o gado eleitoral
dirige-se ordeiro às urnas
e a coisa vai
imbecilidade sobre imbecilidade
gargalhada aqui gargalhada ali
lá se vão contemplando as imagens
o espectáculo com que nos presenteiam
o quinhão que cada um conquista
pensando que é seu e só seu
na batalha da vida
agarrados à carteira
macacos que imitam os outros macacos
mmacacos que correm atrás do cacau
macacos que se guerreiam pelo prémio
e que se disfarçam de natais
e anos novos
está tudo porreiro
mas fica aí na tua, meu
não me chateies
não me cobices a mulher nem o cacau
que isto está tudo em cima, meu
o meu quinhão está guardado
e os outros que se fodam
vamos tosos ser empreendedores
como diz o nosso primeiro-ministro
cada um por si
cá nos vamos divertindo numas festinhas
lá vamos dando umas galas
com as melhoes mamas e os melhores lábios do mercado, meu
lá vamos dando uns beijos e uns abraços
lá vamos gozando a nossa prosperidade
desde que esses gajos chatos se mantenham longe
desde que esses gajos não venham dizer para aqui aquelas coisas,
desde que aqueles gajos não venham estragar-nos o Natal
não toques o meu quinhão!
não toques o meu colhão!
eu disse: não toques o meu quinhão!
Eis a máxima
eis a máxima que rege a nossa sociedade
a sociedade da inveja e do rebanho
enquanto vos invejais, o capitalista acumula
sois o rebanho
sois o macaco que obedece
que imita o outro macaco
odiais aquele que procura a lucidez e a loucura
aquele que se refugia nas montanhas
aquele que grita nas ruas
aquele que cria e provoca
aquele que dança e canta.

Braga, 27.12.2008

1 comentário:

Claudia Sousa Dias disse...

pudera...se o deixarem esse gajo rouba-lhes as gajas todas...

;-)


CSd