quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

CONSIDERAÇÕES METAFÍSICAS ACERCA DE UMA TOSTA-MISTA


Sento-me na confeitaria
e a palavra não sai
penso em reis, criadores, artistas
naqueles que andam na corda-bamba
e entra um homem que insulta o mundo
e que pede uma tosta-mista
de que magia se faz o poema?

A D. Rosa dormita diante da folha de papel
porque raio será que isto tem de ter uma lógica?
Deveríamos passar a vida a dançar
a fazer coisas sem sentido e sem objectivo
a D. Rosa escreve um poema
medita longamente
mas a coisa lá vai saindo
que ganho eu com isto,
para além de umas presumíveis palmas
no Púcaros e noutros tascos?
Que é isto senão a arte pela arte,
a criatividade pela criatividade?
O homem come a tosta-mista
e a D. Rosa escreve o poema
cisma
demora uma eternidade
e a coisa começa a dar-me gozo
o gozo com que o homem
devora a tosta-mista
e paga
o dinheiro circula
das mãos de uns para a caixa registadora
de outros
será isto a vida?
A D. Rosa levanta-se
também dá dinheiro para a caixa registadora
a caixa registadora é sagrada
todos se lhe dirigem
e prestam vassalagem

De repente, as pessoas soltam a língua
falam de casas, dos tubos entupidos,
do 2º andar
e das paredes que rebentam
a coisa torna-se violenta
apesar das iluminações natalícias
começam a dissertar acerca da pobreza,
dos pobres de juízo, da Maria Badalhoca
aprende-se muito por estas bandas

Levanto-me
também eu presto vassalagem
à caixa registadora.

A. Pedro Ribeiro, "Motina", 4.12.2008

1 comentário:

Claudia Sousa Dias disse...

E a história da Maria Badalhoca?!
Fiquei curiosa...


CSD