Ia no 115 com uma dor metafísica nos colhões
à procura da morte em diagonal perfeita
a música é a música é a música
disse a tia Gertrudes quando compunha o programa
da máquina de lavar
não me digas que não há beleza no ar que ela tem
essa putinha
sapatos rasos com talas de tortura para a sífilis
nas unhas
e o mugir da bicicleta quando lhe sugam o leite
das tetas gordas
sobre o Popocatepetl em pedaladas à Gino Bartalli-o-Católico
e o cardeal com um osso buço entalado no recto purpúreo
a muralha de urtigas na labareda dos teus olhos travessos
oh meu amor de qualquer dia
ámen disse a gazela fintando o rinoceronte
estúpido hipocondríaco
ámen disse o gatinho no colo do útero
acaso o acaso faz rima com o acaso do acaso?
rima de merda numa sublime exaltação escatológica
e o reviralho da altitude em voracidade alarmante
para a consolação dos mortais e o desconsolo
dos que partiram
maldito seja quem te inventou oh spleen oh letargia
vou-me embora quando a porta rebentar
bom dia
Levi Condinho nasceu em Alcobaça no ano de 1941. Foi viver para Lisboa em 1972, tendo militado no PCP entre 1970 e esse ano. Jornalista, cronista, empregado bancário, publicou Para Que Alguns Me Possam Amar, em 1977, ao qual se seguiram Saxofone e Tentáculos, em 1981. Autor incluído na antologia Sião, organizada por Al Berto, Paulo da Costa Domingos e Rui Baião, publicada na frenesi em 1987.
retirado de http://antologiadoesquecimento.blogspot.com
quinta-feira, 2 de outubro de 2008
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