quinta-feira, 16 de outubro de 2008
ANTÓNIO JOSÉ FORTE E ÁLVARO DE CAMPOS NO GATO VADIO
http://poesiaemvozalta.blogspot.com/
?Dente por dente: a boca no coração do sangue: escolher a tempo a nossa morte e amá-la.?, António José Forte
António José Forte, Com Uma Faca nos Dentes
Pressente-se, mais do que noutros poetas do surrealismo português, que António José Forte (1937 ? 1988) escreve de credo na boca:
?não há dinheiro para partir de vez
não há espaço de mais para ficar
ainda não se pode abrir uma veia
e morrer antes de alguém chegar?
O lirismo presente na poesia de Forte ? surrealizado-insuflado na obra dos mais ?visíveis? surrealistas portugueses, como Mário Cesariny ou Cruzeiro Seixas ? não atenua a insurgência existencial, mas corre ao lado da raiva, da revolta, da violência com que Forte trata tudo aquilo que espezinha a liberdade e precariza a criação do indivíduo. Nesse confronto consciente e (solitário) do sujeito ?criar-se? contra o mundo, Forte traz a faca no dentes:
?Aos dezoito anos, aos vinte e oito, a vida posta à prova da raiva e do amor, os olhos postos à prova do nojo. Entrar de costas no festival das letras, abrir passagem a golpes de fígado para a saída do escarro. (?) No meu reino apenas palavras provisórias, ódio breve e escarlate. Nem um gesto de paciência: o sonho ao nível de todos os perigos. Pelo meu relógio são horas de matar, de chamar o amor para a mesa dos sanguinários.?
Insurge-se, por isso, não contra (ou só) a realidade medíocre do fascismo salazarento, mas contra todas as formas possíveis da peste do espírito e do tempo. O horizonte de revolta e realização existencial de Forte supera as fronteiras do tempo e espaço. Ele próprio diz sobre a poesia: ?a arte de traduzir em palavras a possibilidade do absoluto.?
E vai ainda mais longe, onde poucos que escrevem arriscam chegar, pois sabe que o gume do risco e o eixo da liberdade começa e acaba dentro de cada um e nem sempre se cumpre essa passagem sagrada-infernal sem ter pronto um esgar de sublevação contra o hediondo que espreita em nós.
?O mais belo espectáculo de horror somos nós. Este rosto com que amamos, com que morremos, não é nosso; nem estas cicatrizes frescas todas as manhãs, nem estas palavras que envelhecem no curto espaço de um dia. (?) Só a custo, perigosamente, os nossos sonhos largam a pele e aparecem à luz diurna e implacável. A nossa miséria vive entre as quatro paredes, cada vez mais apertadas, do nosso desespero. E essa miséria, ela sim verdadeiramente nossa, não encontra maneira de estoirar as paredes. Emparedados, sem possibilidade de comunicação, limitados no nosso ódio e no nosso amor, assim vivemos. Procuramos a saída ? a real, a única ? e damos com a cabeça nas paredes. Há então os que ganham a ira, os que perdem o amor.?
O Gato Vadio orgulha-se de poder dizer a poesia de António José Forte, já que de credo na boca andamos há muito tempo.
António José Forte
Sessão de Poesia
Por Nuno Meireles e Júlio Gomes
Sábado, 18 de Outubro, 23h
Local:
Livraria-bar Gato Vadio
Rua do rosário, 281 ? Porto
tel. 220131894
Entrada livre
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No Domingo, dia 19 de Outubro, às 18h.:
Sessão de poesia dedicada a Álvaro de Campos - "Que náusea de vida..."
Vimos por este meio fazer saber que o Ex.mo Sr. Engenheiro Naval Álvaro de Campos (por Glasgow), autor de várias poesias e auto-designado escritor Sensacionista, será ora homenageado com leituras de vários dos seus textos poéticos por ocasião (tardia) do seu aniversário, celebrado a dia 15 do corrente mês.
Muito nos honraria com a sua presença
A administração,
Sessão de Poesia
Por Nuno Meireles e Júlio Gomes
Domingo, 19 de Outubro, 18h
http://gatovadiolivraria.blogspot.com/
Fonte: http://pimentanegra.blogspot.com/2008/10/sesses-de-poesia-no-bar-livraria-gato.html
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1 comentário:
não conhecia a livraria do gato...
csd
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