quarta-feira, 1 de outubro de 2008

PLATÃO, "ÍON"


Falam Sócrates e Íon

Todos os poetas épicos, os bons poetas, não é por efeito de uma arte, mas porque são inspirados e possuídos, que eles compõem todos esses belos poemas; e, igualmente, os bons poetas líricos, (...) não dançam senão quando não estão em si, também os poetas líricos não estão em si quando compõem esses belos poemas; mas, logo que entram na harmonia e no ritmo, são transformados e possuídos como as bacantes que, quando estão possuídas, bebem nos rios o leite e o mel mas não quando estão na sua razão, e é assim a alma dos poetas líricos.
O poeta é uma coisa leve, alada, sagrada e não pode criar antes de sentir a inspiração, de estar fora de si e de perder o uso da razão. Enquanto não receber este dom divino, nenhum ser humano é capaz de fazer versos ou de proferir óraculos.
E se a divindade lhes tira a razão e se serve deles como ministros, como dos profetas ou dos adivinhos inspirados, é para nos ensinar, a nós que ouvimos, que não é por eles que dizem coisas são admiráveis- pois estão fora da sua razão- mas que é própria divindade que fala e que se faz ouvir através deles.
Os poetas não passam de intérpretes dos deuses, sendo possuídos pela divindade, de quem recebem a inspiração.
Quando te fazem ouvir um canto desse poeta (Homero), animas-te imediatamente, a tua alma agita-se e as ideias chegam-te em catadupa. (...) Não é por uma arte nem por uma ciência que tu falas de Homero como falas, mas por um privilégio divino e por uma possessão divina, tal como os Coribantes que apenas são sensíveis à música do deus que os possui e que encontram com facilidade gestos e palavras para se acomodarem a essa música, enquanto permanecem insensíveis às outras.

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