domingo, 14 de setembro de 2008
MIGUEL-MANSO
ÚLTIMO CIGARRO
o vinho é branco a tarde cai o dia avança no vento
na boca acorda o último cigarro o poema segue o risco
a claríssima insuficiência
é este o incêndio da tarde o fim do almoço
a violência dos pássaros as crianças dormem a sesta
reclusas na sombra azul dos quartos
mãos sem sentido
arroz na folha de videira muro caiado de branco
e roseiras
gastronomias inexplicáveis contêm a vida e os pátios
aquela noite grega que não soubemos redigir
vespas bebendo da boca das torneiras
escrevo o poema que não lerás nunca
sobre a toalha de plástico da mesa suja
de azeite
a mão esquecida na vírgula acesa do cigarro
a minha solidão vincada a cotovelos no padrão da toalha
as crianças dormindo na
nitidez esquecida da telefonia
Miguel-Manso nasceu em Santarém em 1979. Publicou recentemente, em edição de autor, o seu primeiro livro de poemas: Contra a Manhã Burra. Vive em Lisboa.
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2 comentários:
eu estava a tentar encontrar um poema do miguel-manso na blogosfera ou, pelo menos, um blog que lhe fizesse referência. e encontrei isto. epa, não sei o que é melhor: se a foto se o poema.
um grande abraço
jorge vicente
Realmente Jorge vicente ... dps de ler este poema descobri-me a considerar perder tempo com o lesbianismo.
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