quinta-feira, 25 de setembro de 2008

MANIFESTO DA CRIAÇÃO


Fino após fino vou bebendo. Os estudantes fardados celebram. Sinto saudades do meu tempo de estudante. Essa coisa de não estudar ou estudar muito pouco e ir beber copos com os amigos. As merdas culturais e políticas em que me meti. As noitadas. Houve muitos projectos por concluir, merdas quiméricas. O amor que ficou. A santa loucura como diz o AMR que vou ver amanhã. O regresso à Faculdade de Letras. O regresso em triunfo. Essas coisas todas. E o divino Ulisses. Ítaca que nunca mais vem. Os praxistas gritam lá fora. E os empresários da bola esfregam as mãos.
Eu deveria ser pago à letra. Olha o que te digo, deveria ser pago à letra. Qual a diferença entre fazer um verso e fazer uma finta? E as coisas grandes, realmente grandes, àparte as gajas boas, vêm do espírito, da alma. E as coisas realmente grandes, àparte as gajas boas, são criações do Poeta, do Artista. Quem foi o artista que criou as gajas boas? O Poeta é um privilegiado porque é um criador. Na sociedade do dinheiro deveria ser pago a peso de ouro. Deveria ser adorado como na Grécia e em Roma. Deveria ostentar a coroa de louros. Mas também deve gritar no meio da multidão, cantar a sua canção. O seu papel é agitar, provocar, mostrar o novo mundo. Não deve temer a loucura. Deve segui-la, amá-la até ao fim. Deve estar em pé de guerra, com intervalos para descansar. Deve ser imoderado em busca da sabedoria. Deve estar para lá dos bens materiais. Nunca deve mendigar. O único deus que respeita é o seu irmão Dionisos. Os outros são ficções. Deve dizer e fazer coisas incongruentes, non sense, para baralhar amigos e inimigos. Deve ter uma atitude de gozo perante a realidade. Deve situar-se além do bem e do mal e para lá de todos os preconceitos, como defendia Nietzsche. Deve cantar o caos. Deve amar loucamente a mulher amada, como preconizava Breton. Pode até divinizá-la , seja ela a empregada de mesa ou a "porno-star". Deve encarnecer, gozar com a sociedade-espectáculo, tanto com os produtores do espectáculo como com os batedores de palmas. Deve explorar todas as potencialidades da net e das Zonas Autónomas, à boa maneira de Hakim Bey. Deve ser um xamã, um profeta, um pirata, um filósofo, um provocador, um criador, um Homem Superior.

Porto, 24.9.2008

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