quinta-feira, 18 de setembro de 2008
AMOR LOUCO
Amor Louco (AL)
O amor louco não é uma social-democracia, não é um parlamentarismo a dois. As atas de suas reuniões secretas lidam com significados amplos, mas precisos demais para a prosa. Nem isso, nem aquilo - seu Livro de Emblemas treme em suas mãos.
Naturalmente, ele caga para os professores e para a polícia. Mas também despreza os liberais e os ideólogos - não é um quarto limpo e bem iluminado. Um topógrafo embusteiro projetou seus corredores e e seus parques abandonados, criou sua decoração de emboscada feita de tons pretos lustrosos e vermelhos maníacos membranosos.
Cada um de nós possui metade do mapa - como dois potentados renascentistas, definimos uma nova cultura com a nossa excomungada união de corpos, fusão de líquidos - as fronteiras imaginárias da nossa cidade-Estado se borram com o nosso suor.
O anarquismo antológico nunca retornou de sua última viagem de pecas. Conquanto ninguém nos denuncie para o FBI, o Caos não se importa nem um pouco com o futuro da civilização. O amor louco procria apenas por acidente - seu objetivo principal é engolir a Galáxia. Uma conspiração de transmutação.
Seu único interesse pela Família está na possibilidade de incesto (``Amplie o seu Eu'', ``Toda pessoas é um Faraó'') - Ó, mais sincero dos leitores, semelhante meu, meu irmão/irmã - e na masturbação de uma criança ele encontra, oculta (como uma caixa-surpresa japonesa com flores de papel), a imagem do esfarelamento do Estado.
As palavras pertencem àqueles que as usam apenas até alguém as roube de volta. Os surrealistas se desgraçaram ao vender o amor louco para a máquina de sombras do Abstracionismo - a única coisa que procuraram em sua inconsciência foi o poder sobre os outros, e nisso foram seguidores de Sade (que queria ``liberdade'' apenas para que homens brancos e adultos pudessem estripar mulheres e crianças).
O amor louco é saturado de sua própria estética, enche-se até as bordas com a trajetória de seus próprios gestos, vive pelo relógio dos anjos, não é um destino adequado para comissários ou lojistas. Seu ego evapora-se com a mutabilidade do desejo, seu espírito comunal murcha em contato com o egoísmo da obsessão.
O amor louco pede uma sexualidade incomum. O mundo anglo-saxão pós-protestante canaliza toda sua sensualidade reprimida para a publicidade e divide-se entre multidões conflitantes: caretas histéricos versus clones promíscuos e ex-ex-solterios. O AL não quer se alistar no exército de ninguém, não toma partido na Guerra dos Sexos, entedia-se com os argumentos a favor de iguais oportunidades de trabalho (na verdade, recusa-se a trabalhar para ganhar a vida), não reclama, não explica, nunca vota e nunca paga impostos.
O AL gostaria de ver todo bastardo (``filho natural'') chagar ao fim de sua gestão e nascer - o AL vive de aparelhos antientrópicos - o AL adora ser molestado por crianças - o AL é melhor que sensimilla1.3 - o AL leva para onde for sua próprias palmeiras e sua própria lua. O AL admira o tropicalismo, a sabotagem, a break dance, Layla e Majnun1.4, o cheiro de pólvora e de esperma.
O AL é sempre ilegal, não importa se disfarçado de casamento ou de um grupo de escoteiros - sempre embriagados do vinho de suas próprias secreções ou do fumo de suas virtudes polimorfas. Não é a deterioração dos sentidos, mas sim sua apoteose - não é o resultados da liberdade, mas seu pré-requisito. Lux et voluptas.
HAKIM BEY
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