domingo, 27 de julho de 2008

A DANÇAR NO CACAU


Quanto mais leio mais chego à conclusão de que isto é uma merda
o que vale é que a Filó me contou a estória do Gato das Botas
para me animar
e eu não sei contar estórias
lembro-me da fada Morgana e do mago Merlin
agora estou na Praça José Régio
no meio da juventude hedonista
a noite prossegue
e eu só tenho dinheiro para um copo
tremo das mãos e das pernas
é a indústria do lazer em pleno esplendor
falas consomes palavras
consomes e és consumido
hoje não vim cuspir palavras
espectador faço análises sociológicas
falta aqui o Rocha
espectador na sociedade do espectáculo
observo os outros a consumir o espectáculo
e a serem consumidas por ele
e a minha cerveja está a dar as últimas
talvez o Guy Debord me achasse piada
escrevo à gota
quantas mais gotas consumir mais escrevo
é isto mesmo, pá
a verdade nua e crua
não dá para mais lirismos
nem intelectualices
pelo menos escrevo
enquanto estiver a escrever afasto o tédio
já não sei se daqui a pouco irei ao mar
há tanto tempo que não vou até ao mar
há tanto tempo que não danço
dançar à beira-mar
com Dionisos e a fada Morgana
com o Jacinto e com a Joana
escrevo à gota
resta-me decidir a quem cravar a próxima cerveja
quero escrever cada vez mais e melhor
quero escrever a estória do poeta sem abrigo
e deixar-me levar até ao mar
aqui a música é melhor
qualquer coisa marada e speedada
o DJ usa chapéu
qualquer coisa marada e speedada
que nos leva até ao céu
e as gajas ensaiam a dança
e os gajos aproximam-se e cumprimentam-me
hoje já produzi por duas eternidades
só faltam cá os deuses
mas ainda é cedo para dançar
Dionisos ainda não vestiu a pele
bebe-se e dança-se
aceitas-me no teu grupo fechado
ou vais fazer queixa ao teu namorado?
Não quero saber do teu grupo fechado
nem do teu namorado
passo outra vez pelo Régio
e vejo o Régio rodeado de cervejas
a juventude hedonista vai-se dispersando
vou até ao mar
finalmente
estive a dançar no "Cacau" até agora
literalmente no "Cacau".

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