segunda-feira, 9 de junho de 2008
GOMES LEAL
Alucina-me a cor! A rosa é como a lira,
a lira pelo tempo há muito engrinaldada,
e é já velha a união, a núpcia sagrada,
entre a cor que nos prende e a nota que suspira.
Se a terra, às vezes, cria a flor que não inspira,
a teatral camélia, a branca enfastiada,
muitas vezes, no ar, perpassa a nota alada
como a perdida cor dalguma flor, que expira...
Há plantas ideais dum cântico divino,
irmãs do oboé, gémeas do violino,
há gemidos no azul, gritos no carmesim...
A magnólia é uma harpa etérea e perfumada
e o cacto, a larga flor, vermelha, ensanguentada,
tem notas marciais: soa como um clarim!
António Duarte GOMES LEAL nasceu em Lisboa a 6 de Junho de 1848 e aí faleceu, meio louco, a 29 de Janeiro de 1921. Passou meteoricamente pelo Curso Superior de Letras. Panfletário e anticlerical, sofreu a morte da irmã Maria Fausta (1875), do pai (1876) e da mãe (5 de Maio de 1910), após o que, solitário e desamparado, se converteu ao catolicismo. Para não morrer de fome, o Parlamento atribuiu-lhe uma pensão de 600 mil réis anuais. É autor de uma obra desigual, que vai desde o ultra-romantismo ao surrealismo, passando pelo realismo, parnasianismo e simbolismo. O seu principal título de glória é «Claridades do Sul» (1875; reed., revista e aumentada, em 1901), donde extraímos «Som e Cor»
Soneto e ficha bibliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado, Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa, Edições Unicepe, 2004»
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