segunda-feira, 16 de outubro de 2006

Alucinado

O MINISTRO ALUCINADO

António Pedro Ribeiro

O ministro da Economia, Manuel Pinho, anda com alucinações. Declarou publicamente que a crise chegou ao fim (apesar de depois, desajeitadamente, ter tentado emendar a mão...). Não parece ser essa a opinião dos 80 000 que marcharam em Lisboa contra as políticas do Governo. E, desta vez, não foi uma manifestação sectorial ou corporativa. Estiveram lá professores, trabalhadores da função pública, operários, desempregados, precários, reformados. Foi a maior manifestação laboral em Portugal desde os anos 80. As alucinações de Pinho e de Sócrates devem ter a ver com a tremideira, com o medo do que aí vem. Apesar de continuar a haver um país que continua anestesiado com os mexericos da moda e da bola, com as vedetas fabricadas, com a guerra das audiências, com o tédio, com as tretas do nacional-porreirismo e do fatalismo, há outro país que reage. Que não aceita que haja alguns a mergulhar nos milhões e nas OPAS enquanto outros andam às côdeas e aos seis cêntimos (!) de subsídio de refeição, que começa a não aceitar as aves de rapina, os verdadeiros burlões e mafiosos que se escondem por detrás das fortunas colossais dos bancos e das empresas, enquanto que outros andam aos trocos sem emprego, sem subsídio, sem abrigo, com rendimentos mínimos, com trabalhos sem direitos, sem dignidade. Que não aceitam mais taxas moderadoras, pensões de miséria, salários reais a descer, fábricas a fechar, enquanto outros se passeiam principescamente em Ferraris, em Porshes, com palácios e vários apartamentos de luxo.
Não é justo, não é possível que o homem seja mais o lobo do homem. Este é um Governo de tecnocratas que serve os interesses do capital. Ponto final.
É preciso desmistificar as patranhas do sistema. É preciso dizer que existe uma máquina que vem da união dos "media" com os grandes grupos económicos nacionais e internacionais que nos castra o desejo, a liberdade, o amor, a dignidade. É preciso dizer que a máquina pode cair na rua. E o poder pode voltar à rua, tal como tem acontecido em França.

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