domingo, 5 de fevereiro de 2006

Situacionismo

A Internacional Situacionista (IS) foi fundada em 1958 e dissolvida em 1972 (o último número da revista do movimento, num total de doze edições, é de 1969). Fundada e dissolvida por Guy Debord, a Internacional Situacionista no período de sua existência, não reuniu mais que setenta membros. Desses, dezenove desligaram-se e quarenta e cinco foram expulsos (expulsos, obviamente, por Debord). Tal característica, a de pequeno grupo, atendia bem aos propósitos do movimento:
“a I.S. só poderá ser uma conspiração dos Iguais, um Estado - Maior que não quer tropas (...). Nós apenas organizamos o detonador; a livre explosão deverá subtrair-se-nos e subtrair-se também qualquer outro controle” (Revista Internacional Situacionista, n. 08, 1963 - in HENRIQUES, 1997: 11).
E qual foi o projeto político do situacionismo francês? A crítica radical da vida cotidiana no capitalismo. Da crítica da vida cotidiana propunha-se a desmontagem do capitalismo enquanto civilização (HENRIQUES, 1999: 15). E do cotidiano a disseminação revolucionária generalizada da autogestão conselhista, o único termo político possível para um cotidiano livre de suas formas reificadas.
A “sociedade - espetáculo” é o mundo das pseudo-necessidades, o mundo da economia do consumo, o mundo do espaço-tempo da “monotonia imóvel”, o mundo em que o viver tornou-se uma representação caricata da própria forma-mercadoria, enfim, o mundo em que o valor de troca das mercadorias acabou por dirigir o seu uso (DEBORD, 1997: 33) - a mercadoria como o centro absoluto da vida social (GOMBIN, 1972: 82). O movimento do ser para o ter, degradando-se ainda mais, no movimento do “parecer” ter (JAPPÉ, 1999: 19). Ou seja, o espetáculo é a afirmação ulterior de um outro momento da reificação social, a confirmação da “baixa tendencial do valor de uso”, em que a “fabricação ininterrupta de pseudo-necessidades” impõe a lógica da contemplação passiva sobre o todo social (DEBORD, 1997: 33-35). É preciso que se ressalve que os situacionistas não negam o consumo em si, mas a escolha condicionada das pseudo necessidades (GOMBIN, 1972: 83).
Se para Marx a vida social no capitalismo se reduz ao valor, à economia e suas leis, para Debord, o espetáculo absolutiza a economia à sua própria imagem e essa, tautologicamente, impõe a circularidade da imagem-mercadoria como a entificação do pseudo-desejo de consumo contemplativo da “geologia” mercantil, a mercadoria no seu auto-movimento aparece à sociedade como uma segunda natureza. Como afirma Debord: “O espetáculo estende a toda a vida social o princípio que Hegel, na Realphilosophie de Iena, concebeu como o do dinheiro: é ‘a vida do que está morto se movendo em si mesma’” (DEBORD, 1997: 138 -139).

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