E trabalhar dois dias por semana, como Pessoa. O resto do tempo para pensar, criar, partir a loiça. Viver intensamente o instante. Como Mario, divino Mario de Sa-Carneiro em Paris. E deitar a obra aos abutres, ao fogo.
E recolocar os oculos para manter um ar respeitavel, intelectual. E escrever. Masturbar a caneta na folha. Orgasmo. Orgasmo. Labios. Amo as putas sinceras a mascar chiclete. Ate amo a cidade burguesa, coquete. E a minha cidade, apesar das pontes aereas do Mesquita. Amo-a e morro afogado em croft. Mario, divino Mario. Tantos anos. Como te compreendo. Mesa de cafe a escrever versos. E continuam a nao te compreender. Fazem-te homenagens, coloquios, antologias, mas tu estavas para alem, "um pouco mais de sol dizias". Divino Mario. Braga, Paris, a mesma cidade. E eu possesso pela caneta azul, e eu em transe, no palco- feliz em palco, a subir, a ganhar ao copo, sem euros nem tostoes.
Hoje estou possesso mas amo a cidade, as ruas, os olhos nostalgicos dos empregados da "Brasileira", os oculos dos velhos. Divino Pessoa, divino Mario, para que serve o dinheiro? Para beber e estoirar.
Retiro os oculos e o mundo para.
E as gentes continuam a entrar pela "Brasileira". Como se a resolusao dos problemas da Humanidade estivesse aqui. E o relogio e o mesmo. E o balcao e o mesmo. Os vidros sao os mesmos. As conversas sao as mesmas. E e tempo de sair. E, por momentos, julgo-me um deus porque penso que criei um mundo. E a rua do Souto e a mesma.
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