Dada a adesão que tem tido, repetimos o
MANIFESTO DOS 37
Aos 37 anos, José Mário Branco escreveu o "FMI". Aos 37 anos, apetece-me dizer com os situacionistas que "nada queremos de um mundo no qual a garantia de não morrer de fome se troca pelo risco de morrer de tédio"(1). Apetece-me dizer com André Breton que "a ideia de revolução é a melhor e mais eficaz salvaguarda do individuo"(2).
Apetece-me estar com a subversão. Com a crítica radical à ditadura do consumível, da mercadoria, do quantitativo, do défice. Apetece-me estar do lado da liberdade, da liberdade absoluta contra a ilusão da liberdade de compra e venda, da sobrevivência, da "sobrevida" que substitui a vida, do quotidiano insuportável, do tédio.
Apetece-me estar com os poetas malditos. Com Rimbaud, com Baudelaire, com Nietzsche, com Sade, com Lautréamont a infernizar tudo quanto é direitinho, conforme às normas, castração.
Apetece-me estar contra todas as formas de autoridade, opressão e dominação. Apetece-me estar do lado da rebelião.
Apetece-me dizer que já pouco acredito nos partidos, mesmo nos de esquerda. Que lutar por lugares dentro da democracia burguesa é aceitar como irreversível a democracia burguesa e, portanto, afastar totalmente do horizonte a revolução, mesmo que se continue a falar na construção da sociedade socialista. Não há transições pacíficas para o socialismo. Como escreve António José Forte (3), "Que diálogo pode haver entre o condenado à morte e o carrasco que o conduz ao patíbulo?".
Apetece dizer que acredito na poesia e no amor como formas subversivas. Que acredito em actos provocatórios, em agitações espontâneas que ridicularizem o instituído, no terrorismo poético. Que a criatividade é o último reduto da rebelião.
António Pedro Ribeiro.
(1)- "A Arte de Viver para a Geração Nova", Raoul Vaneigem.
(2)- "La Révolution Surrealiste, nº4".
(3)- "Teses Sobre a Visita do Papa", António José Forte.
domingo, 10 de julho de 2005
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