domingo, 28 de fevereiro de 2010

HOMEM LIVRE

Homem livre
amas a solidão
e pertences à Terra
homem livre
queres a glória
e constróis o poema
homem livre
amas a paz
mas estás em guerra
homem livre
a tua arma é a palavra
homem livre
não serves a Deus
nem à praça
homem livre
não trabalhes
ri
goza!
Homem livre
tu pertences à Terra.

REGRESSO AO PARAÍSO


Penso no Homem
no homem e na mulher
que Deus expulsou do paraíso
penso em Morrison
e na vida que poderia ser
no homem da liberdade
no homem que sobe ao palco
para mudar o homem

penso também no homem da infância
no homem que ri e que brinca
sem segundos objectivos
penso no homem da dádiva
no homem da mesa partilhada
penso no filósofo
e na busca da sabedoria
penso na descoberta
na porta aberta
penso na morte de Deus
e no regresso ao paraíso
penso que não há regras
nem limites
penso no que poderia ser.

HENRY MILLER, "TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO"

A maravilha e o mistério da vida que são sufocados em nós quando nos tornamos membros responsáveis da sociedade.

FALTAM-ME AS AMIGAS


Faltam-me as amigas
as amigas fazem-me sentir bem
mesmo sem sexo
as amigas mexem comigo
dão-me a mão
e deixam que lhes acaricie os cabelos
ficamos horas à mesa do Piolho
e depois saimos para o jardim
e andamos às voltas
libertos.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

COISAS DO VARA

Uma semana depois de Armando Vara jurar inocência e distanciamento, o director do Sol foi ontem ao Parlamento contradizer o administrador suspenso do BCP. José António Saraiva (na foto) garantiu que, há cerca de um ano, no período financeiro mais crítico do jornal, as negociações para a entrada de um novo accionista foram dificultadas pelo BCP. "A situação foi comandada directamente pelo dr. Armando Vara", disse o jornalista.

Paulo Azevedo, o administrador da Millenium BCP Capital, sociedade que geria a participação do banco no Sol, disse à direcção "várias vezes que tinha que falar com Armando Vara porque não tinha autonomia para tomar decisões", acrescentou o director, dizendo também "presumir" que Vara "tenha tido conversas com José Sócrates sobre o Sol". Na altura, o BCP, que já quisera vender a sua quota no Sol, perante o interesse de capital angolano, disse querer comprar o resto do jornal, mas recusava a cláusula que impõe que um novo dono não mude a direcção durante os primeiros três anos.

"Ficou claro que o que o BCP queria era decapitar a direcção do Sol e interromper a sua publicação", apontou Saraiva, considerando que o BCP tentou constituir-se como um "verdadeiro cavalo de Tróia".

O director acusou ainda a Cofina - que teve uma quota durante seis meses - de querer "fazer o trabalho sujo" de "limpar" o jornal, fingindo que vendia a sua participação, mas entregando-a a "um assessor" seu, Alberto do Rosário. O director disse mesmo ter sido recriminado pelo presidente da Cofina, Paulo Fernandes. "Vocês deviam ser menos contra o Governo", ter-lhe-ia dito o empresário.

O BCP foi accionista do Sol desde o lançamento, em 2006, Estava contratualizado que se manteria por cinco anos, mas quis sair logo ao fim de um ano. A situação agudizou-se em 2008, quando a linha de crédito do BCP foi cortada, o banco negou um patrocínio já prometido a uma iniciativa do jornal e, tal como a Cofina, retirou os administradores.

Saraiva não tem dúvidas de que esta tentativa de "asfixia financeira" se deve aosdossiersincómodos para o Governo e contou que o subdirector Mário Ramires recebeu um telefonema de "uma pessoa muito próxima do primeiro-ministro" - cujo nome se negou a revelar em público, mas aceitou enviar por carta à comissão - fazendo depender a resolução dos problemas financeiros do jornal (através do BCP) da não publicação de mais notícias sobre o processo Freeport. O director do Sol enviou mais tarde uma carta referindo o nome do jornalista Eduardo Fortunato de Almeida. "Tenho recebido ameaças de morte, em cartas anónimas, a mim e à minha família. Mas não é isso: isto é uma ameaça de uma pessoa que conhecemos", disse o director.

Em relação à divulgação das escutas do processo Face Oculta, Saraiva sustentou que o jornal não violou a lei nem a privacidade dos visados. "Não fazemos jornalismo voyeurista. As conversas estão cheias de grosserias, palavrões, apartes e de insultos pessoais, limpámos isso", revelou.

Para Saraiva, Sócrates "não tem uma relação incómoda, ele tem uma vocação dirigida de controlo da comunicação social".

O director do Sol não tem dúvidas em afirmar que "há uma conivência do poder judicial com o poder político" e considera haver factos suficientes para dizer que "há encobrimento do poder político pelo poder judicial".

Questionado pelo PS sobre se é a líder do PSD que dá substancia política aos editoriais do Sol, Saraiva descartou a crítica: "Se nós municiamos Manuela Ferreira Leite? Não sei. Se nos municia, posso dizer que não. Talvez nenhum jornal como o Sol foi tão crítico à actual direcção. Todos os líderes do PSD têm sido zurzidos." Maria Lopes e Sofia Rodrigues

DA VIDA HUMANA

DA VIDA HUMANA

António Pedro Ribeiro

Vários canais de televisão passam documentários sobre a vida animal, alguns deles só passam documentários sobre a vida animal. Esses programas escalpelizam tudo sobre a vida animal: a vida sexual das anacondas, a reprodução dos crocodilos, o comportamento social dos leões. O impressionante é que não há nenhum programa assim sobre a vida humana. O aprofundamento da psicologia, da sociologia, da filosofia é posto de lado pelas televisões. Tal não acontece por acaso. Não convém aos media e aos poderes que o Homem se questione e questione a sua condição. O cidadão comum, o "homem médio" deve continuar a ser isso mesmo. Deve ficar pela rama, pelo superficial, pelo mediático, pelo elementar. Se houvesse um ou mais programas que sistematicamente questionassem a verdadeira vida isso seria perigoso para os poderes. Mas questionar a vida, a verdadeira vida é o que realmente interessa. Viemos ao mundo para isso. No dia em que questionarmos realmente a vida contra a morte e o adormecimento quotidiano que nos impõem aí seremos completamente livres, aí poderemos derrubar todos os poderes.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

A GRÉCIA EM LUTA


Grécia paralisada pela maior greve geral

Protesto
Ontem
A Grécia esteve quase paralisada, ontem, quarta-feira, devido à greve geral, convocada pelas grandes centrais sindicais para criticar as medidas rigorosas adoptadas pelo Governo socialista para tirar o país de uma crise financeira sem precedentes.
Não houve transportes, os serviços públicos e escolas estiveram fechados. Hoje, não haverá jornais.
No centro de Atenas houve mesmo confrontos entre jovens e a Polícia, que utilizou gás lacrimogéneo. Manifestantes, com capacetes, tentaram aproximar--se dos grandes hotéis do centro da capital e a Polícia entrou em acção para os impedir. Os jovens lançaram coquetéis molotov contra os policiais e atingiram algumas lojas, antes de correr para a Universidade de Atenas. A paralisação dos transportes aéreos e marítimos começou logo à meia-noite, assim como em quase todos os serviços ferroviários.
Os autocarros e o metro funcionaram em Atenas para levar os grevistas para as manifestações programadas pelos sindicatos no centro da capital a partir do meio-dia. Os taxistas não aderiram à greve.
A greve provocou o fecho de escolas, serviços públicos e tribunais, bancos, hospitais e até grandes empresas do sector público funcionaram a meio gás.
O país também esteve privado das informações nas rádios e canais de televisão, já que o Sindicato de Jornalistas aderiu ao movimento e decidiu punir quem furasse a greve.
Jornal de Notícias 25/2/2010

ZIZEK


Slavoj Zizek é um dos maiores pensadores da Europa. O filósofo e sociólogo esloveno escreve sobre temas como Lenine, ciberespaço, pós-modernismo, pós-Marxismo ou Alfred Hitchcock. Foi no Festival de Cinema de Sarajevo que a euronews falou com Zizek, acerca de cinema, dos Balcãs e de multiculturalismo. Na capital da Bósnia-Herzegovina, o Festival de Cinema desempenha um papel relevante para reconstruir a auto-confiança da cidade. Sarajevo esteve cercada quatro anos durante a Guerra da Bósnia.

euronews: O senhor é convidado do Festival de Cinema de Sarajevo… qual é o papel dos filmes e do cinema na sociedade de hoje?

Slavoj Zizek: Primeiro, eu continuo a ser um marxista à moda antiga. Portanto, eu acho que o cinema é hoje um campo de batalha ideológica, alguma batalha decorre aí e até podemos ver isso claramente no que respeita à horrível Guerra dos Balcãs. Temos alguns filmes acerca disto que são autênticos, mas, infelizmente, os maiores sucessos não o são. Esse é o caso do “Underground” do Emir Kusturica. Eu acho que esse filme é quase uma trágica – eu não diria que é uma falsificação equívoca – no sentido em que: “Que imagem é que esse filme te dá da ex-Jugoslávia?” A de uma parte do mundo maluca, onde as pessoas fornicam, bebem e lutam todo o tempo. Ele exibe um certo mito que o Oeste gosta de ver aqui nos Balcãs: este mítico outro, que permanece durante um longo período.

euronews: Como explica este fenómeno?

Slavoj Zizek: Pode dizer-se ironicamente que os Balcãs estão estruturados como o inconsciente da Europa. A Europa põe e projecta todos os seus segredos sujos, obscenidades e por aí fora nos Balcãs. É por isso que a minha fórmula para o que está a acontecer nos Balcãs não é como as pessoas usualmente dizem que são apanhadas nos seus velhos sonhos, que não podem enfrentar a realidade ordinária pós-moderna. Não, eu diria que elas são apanhadas nos sonhos, mas não nos seus sonhos – nos sonhos europeus. O filósofo francês Gilles Deleuze disse uma coisa maravilhosa: “Se fores apanhado nos sonhos dos outros, estás feito”. Portanto, o cinema deve mostrar precisamente que este folclore excêntrico em alguns lugares pode fazer parecer que somos todos parte de um mundo global.

euronews: Sarajevo é também uma cidade simbólica para o multiculturalismo, mas tem uma opinião muito particular acerca da tolerância multicultural, não tem?

Slavoj Zizek: Eu acho que aqui já tivemos o suficiente desta ideologia multicultural, que para mim, pelo menos, é frequentemente um racismo invertido, designadamente quando as pessoas vêm cá. Normalmente, multiculturalistas diriam: “Oh, eu quero entender como tu és diferente”. Não, o que se deve entender fundamentalmente é que eles aqui não são diferentes – apenas coisas diferentes lhes aconteceram e para o tornar tolerável para nós, que gostaríamos de ter evitado a guerra, no Ocidente fizemos as pessoas diferentes. O que precisamos hoje em dia é de códigos de conduta, não de mais entendimento. Eu acho que nos deveríamos opor totalmente a esta chantagem liberal de que temos que nos entender uns aos outros. Não, o mundo é demasiado complexo, não podemos. Detesto pessoas. Não quero entender as pessoas. Quero ter um certo código em que eu não entendo o teu estilo de vida e tu não entendes o meu, mas podemos coexistir.

euronews: Por que razão podemos sentir aqui, em Sarajevo, desilusão, após a detenção de Radovan Karadzic?

Slavoj Zizek: A verdadeira tragédia é, como alguns inteligentes políticos bósnios realçaram, que basicamente Karadzic teve sucesso. O seu programa foi que uma grande parte da Bósnia deveria ser reservada e etnicamente limpa para os sérvios. Foi isto que efectivamente aconteceu: a República Srpska é 51 por cento do território e tem menos 10 por cento dos outros, não sérvios. Portanto, a ironia é… isto é como César morreu, César ganhou… para isto é demasiado tarde. Esta é a hipocrisia: condena-se o homem, o projecto vingou.

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VIOLAM CABRA E SÃO FORÇADOS A CASAR COM O ANIMAL

25 Fevereiro 2010 - 15h10

Dois jovens apanhados em Moçambique
Violam cabra e são forçados a casar com o animal

Dois jovens de Matsinho, Gondola, centro de Moçambique, foram apanhados pela polícia a manter relações sexuais com uma cabra e agora os donos do animal exigem indemnização e casamento. O caso está em tribunal.




O caso de "flagrante delito" aconteceu na semana passada, no distrito de Manica, e fonte ligada ao dono da cabra disse à agência Lusa que o mesmo exige que os jovens sejam condenados em tribunal a casar com o animal.

Os jovens, cuja identidade não foi revelada, terão sido apanhados a manter relações com a cabra no âmbito de uma espécie de ritual satânico.

"Um dos jovens estava nu enquanto segurava a cabeça, e outro a fazer sexo com o animal", contou uma testemunha a propósito da detenção policial.

Mário Creva, a testemunha, disse que o caso se deu numa pequena mata na zona de Mbucuta, arredores do posto administrativo de Matsinho.

"Recebi o caso e já remeti ao tribunal. Mas os jovens serão ouvidos em juízo por furto simples qualificado e não necessariamente por prática sexual, pois a nossa Constituição não acomoda este tipo de acto", disse à Agência Lusa Leonides Mapasse. Fora do processo-crime, acrescentou o magistrado, o ofendido (proprietário da cabra) pode intentar processo civil e moral contra os dois jovens pela prática sexual com a cabra.

CORREIO DA MANHÃ

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Às vezes diz-se que a poesia é emoção. Mas o poema é amiúde imagem e sobretudo ideia. A consubstanciação de uma ideia.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

O HOMEM DO MUNDO

Se vivesse na Grécia antiga talvez fosse um rei. Ou talvez fosse condenado à morte como Sócrates. Não que me queira comparar a Sócrates. Mas essa viagem em que os vejo embarcados: família, trabalho, casa, francamente não me agrada. Produzo. Estou sempre a produzir alguma coisa. O raciocínio vai evoluindo. Às vezes até galopa. Não tenho de ser igual aos outros. Segui outra via. Nem sequer é correcto dizer que eu só escrevo sobre gajas, mamas, cafés e cerveja. Não tenho culpa que alguns desses textos sejam os que têm mais palmas. Escrevo sobre o Homem, sobre o sentido da vida. Escrevo. E às vezes escrevo só para mim. Não gosto de trabalhar. Nem tenho de obedecer a chefes, hierarquias, normas, intrigas. O meu único chefe foi o Artur Queiroz. E nem sequer estava sempre de acordo com ele. Ensinou-me muitas coisas muito para lá do jornalismo. É daqueles gajos que te marcam: como o Zé Pacheco, como o Jaime Lousa, como o António Manuel Ribeiro, como o padre Mário, como o A. Dasilva O., como o Joaquim Castro Caldas.
Às vezes limito-me a reproduzir as conversas dos outros. Não há dúvida que o pessoal se diverte mais à mesa com umas cervejolas à frente. Já era assim na Grécia. São as mesas parilhadas do padre Mário de Oliveira. Como estou só produzo. Chamo o Adriano e peço mais uma. É o filme do costume aqui no Piolho.
Sou um solitário. Mas gosto da praça pública. Prefiro os cafés grandes, citadinos, cosmopolitas. Lá está a conversa a fugir para o Piolho. Dizem que não faço nada mas também dizem que sou tanta coisa: poeta, mago, actor, diseur, performer, filósofo, profeta. Confesso que também sou um bocado narcisista. Mas também se não o fosse já tinha caído na merda de vez. Agora estou realmente a escrever "o livro". Sei que é para esse livro que confluem as minhas energias. Não, não sou o homem do trabalho nem da família. Sou o homem do mundo. É isso. Às vezes toco a coisa. Sei perfeitamente onde quero chegar. Tenho seguido caminhos pouco ortodoxos. Sei que não vou lá por linhas rectas. Acredito. Tenho fé. E não é só em mim. É na vida. No homem a construir. Na ideia.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

HENRY MILLER, "TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO"

Costumava dizer para comigo que, se havia Deus, me encontraria com Ele calmamente e Lhe cuspiria na cara.


Onde há frio há pessoas que se esfalfam a trabalhar e que, quando têm filhos, lhes pregam o evangelho do trabalho.

SÓCRATES É MAFIOSO, FASCISTA E EXECRÁVEL. PONTO FINAL.

CHOQUE NO CLUBE

Hoje, 23, terça, às 22,00 h, há POESIA DE CHOQUE no Clube Literário do Porto com Luís Carvalho e António Pedro Ribeiro. Simultaneamente haverá mais uma apresentação pública da candidatura presidencial de APR.

Pelo Comité Central do PSSL,
Serafim Morcela.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

DISCURSO À NAÇÃO


Discurso de António Pedro Ribeiro, candidato à Presidência da República, poeta, diseur, performer, anarquista a proferir na próxima terça, pelas 22,00h, no Clube Literário do Porto durante a sessão de POESIA DE CHOQUE e na próxima quinta no Art 7 Menor em São João da Madeira pelas 22,30h.

DISCURSO À NAÇÃO

"It's all fucked up!", "Está tudo fodido!", como dizia o Jim Morrison. Nem rei nem rock. O governo na mão de vigaristas, de vendedores da banha da cobra. O homem reduzido ao elementar, aos instintos primários, à mera sobrevivência. Uma terra inóspita de gente deprimida, desesperada. "All the children are insane/waiting for the summer rain". "Todas as crianças atacadas pela loucura/ à espera da chuva de Verão". This is the end. Isto é definitavamente o fim ou talvez o novo começo.
Não me venhas agora dizer que a revolução não está próxima. Não me venhas agora dizer que está tudo morto, que nada há a fazer.
Só a revolução vale a pena. A revolução é a única solução. Afastai de mim o vosso paleio mansinho. Afastai de mim os vossos negócios e a vossa conversa de velhas. Não quero saber de niilismos nem de derrotismos. Não trabalho nem me sacrifico. Só trabalho, só me sacrifico em prol da revolução. E ela está próxima. E ela sorri. Vem ter comigo cada vez mais à medida que te enterras na depressão. Vem ter comigo mais e mais. Vem ter comigo quanto mais me dais este ambiente de pasmaceira. Não há outra saída. Vivemos estes anos todos para chegar aqui. Passamos todos estes infernos para chegar aqui. Somos do mundo. Somos daqui. Estamo-nos a cagar para o além! Queremos o aqui e o agora! Os vindouros que venham a seu tempo. Isto é nosso! Isto é absolutamente nosso! Não há aqui primeiros-ministros, nem Presidentes, nem executivos vigaristas e imbecis. Isto é o Homem, porra! Isto não està à venda nem está cotado na bolsa! Isto és tu, sou eu, é o Homem, porra! Estamos a falar do amor. Estamos a falar da dignidade. Estamos a falar da construção do Homem. Estamos fartos do homem dos bancos, do homem da bolsa, do homem do hipermercado. Tudo isso falhou. Tudo isso está morto. Tudo isso destruiu o homem. Estamos a falar da reconstrução. Estamos a falar do começar de novo. Estamos a falar da criação. Não me venhas com discursos conciliadores nem com porreirismos de pacotilha. Estamos a falar do que vai ser. Estamos a falar do que é.


António Pedro Ribeiro, Vila do conde, pátio, 20.2.2010.

A PRAÇA PERMANENTE


Corre agora na praça que sou um filósofo. Não tenho a erudição de Platão ou de Nietzsche nem tenho o método, o rigor e a disciplina de Kant mas, sim, talvez seja um filósofo. Aliás, se são os outros que o dizem...
Eu quero saber do Homem. Questiono a condição humana. Procuro a sabedoria, a iluminação no que a esse campo respeita. Não me preocupo com o conhecimento da Física, da Química ou da Matemática mas procuro conhecer o Homem. O homem e a mulher, claro. Converso com elas e com eles. Ouço-os. Procuro nos livros as respostas. Investigo. Sem mestrados nem doutoramentos mas investigo. Ouço os poetas, os filósofos, os escritores, os sociólogos, os psicólogos, os psiquiatras, os historiadores e os eruditos. Faço da vida uma praça permanente. Ouço também os loucos, os visionários, os malditos. Estou a construir o livro. Não sou poeta e filósofo por sê-lo. Tenho uma missão. Escrever o livro que transformará o mundo. Já não sou apenas eu a dizê-lo. São as palavras, os pensamentos que me guiam, que vêm ter comigo. Talvez seja presunçoso dizer que o livro transformará o mundo. Mas sei que se o conseguir escrever influenciarei muita gente. "Assim Falava Zaratustra" inicialmente só chegou a sete amigos. Os homens de espírito têm de saber lidar com a solidão e com a incompreensão dos seus contemporâneos.

REI E SENHOR


Seis da manhã. Hora de criar. O mundo ainda dorme lá fora. Não se ouve vivalma. Estou entregue, e bem, às leituras de Ezra Pound e de Miller. Há poetas e escritores que nos engrandecem, que aumentam a vida.
"Há apenas uma grande aventura, e essa é para o interior, rumo ao eu, e para essa não contam tempo nem espaço, nem tão-pouco feitos", escreve Henry Miller nos "Trópicos de Capricónio". E, de facto, é a vida interior, a descoberta do eu, a demanda de um Graal dentro de nós que faz de nós conquistadores, navegadores, sábios.
Seis da manhã. Hora de criar. Daqui a pouco ides todos prostituir-vos nos vossos empregos de merda a troco de uns trocos para manter a casa, o carro e o frigorífico. Não vos invejo. Tendes mais haveres do que eu mas eu tenho a minha liberdade. Tanto posso criar às seis da manhã, como às quatro da tarde, como às dez da noite. Não tenho chefes a foder-me os cornos nem regras, nem horários. Sou rei e senhor da minha vida. Às vezes fico deprimido mas sei perfeitamente onde quero chegar. E às seis da manhã sinto-me particularmente criador. É de mim que saem as palavras. É de mim que sai o ritmo. Não devo nada a ninguém.
Seis da manhã. Hora de criar. Não ouço nem cães nem gatos. Começo a ouvir agora os galos. Se é que não estou a ouvir vozes...Hamlet, Hamlet. São fantasmas, Hamlet. Olha! São aviões. Pássaros a cantar. O mundo começa a acordar.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

DO PADRE MÁRIO DE OLIVEIRA

O meu abraço, Pedro Ribeiro

É bom saber que continua a resistir. Ainda que saibamos que Ele, o Poder Financeiro, também continua a atacar. E de que maneira.

As mães não podem continuar a parir filhas e filhos para os dar de mão beijada ao Senhor Dinheiro. Mas é isso que está a suceder. Elas fazem isto, Pedro! Por isso, esta CARTA À MINHA MÃE que acaba de escrever e de partilhar também comigo é muito oportuna. Mas insuficiente, como bem sabe, melhor ainda do que eu. Quando o Poder Financeiro até as nossas mães submete e as põe a conceber e a dar à luz para ele, para os exércitos dele, para os executivos dele, para os presidentes da república dele, para os deputados dele, para as Oposições dele aos executivos dele (elas serão amanhã os próximos executivos), para as administrações das multinacionais dele, para os magistrados dele, para os clérigos dele, não bastam CARTAS como esta, ainda que esta seja muito oportuna. Mas é um tigre de papel, Pedro. São precisas PRÁTICAS POLÍTICAS E ECONÓMICAS MAIÊUTICAS, e quem está disposto? São precisos DUELOS IDEOLÓGICOS /TEOLÓGICOS DESARMADOS contra ele em todo o lado, também nos media e nas universidades, e quem está disposto?!

O Senhor Dinheiro apoderou-se até dos nossos genes, Pedro e já nascemos com a sua marca, a marca da BESTA!

Como EXPULSÁ-LO de nós? Como LIBERTARMO-NOS dele? Como lhe RESISTIRMOS efectivamente?

Sempre em comunhão, Mário

CARTA À MINHA MÃE

Sabes, mãe,
estes gajos deram cabo do Homem
sabes, mãe,
houve um tempo em que fui à escola
houve um tempo em que até trabalhei
mas agora cansei-me, mãe,
não posso mais ficar passivo
não posso mais assistir sentado
eles estão a dar cabo de mim
estão a dar cabo do Homem
sabes, mãe,
estas coisas vêm da infância
eu observava as coisas
era o mais inteligente, mãe
mas não intervinha
contentava-me com o meu mundo
com as minhas personagens
mas agora o teatro é outro
envolvi-me com o mundo
casei-me com o mundo
e estes gajos estão a dar cabo
do nosso mundo, mãe
destroem a natureza
viram a natureza contra nós
até podes votar neles, mãe
mas sabes, mãe, eu não sou como eles
eu preocupo-me com os meus filhos
e paro como as outras mães
sabes, mãe, essa merda dos negócios
e do dinheiro
não me diz nada
gasto-o em dois tempos
quando o tenho
são papéis e pedaços de metal
que se trocam
nada mais
mãe, estou farto dos discursos deles
na televisão
é a mim que eles querem destruir
querem-me mole, fraco, deprimido
mas desta vez não vão conseguir
porque agora conheço o jogo deles.

Mãe,
eu sou o Homem.

MADEIRA

Sem água, sem luz e com interrupções nas comunicações, alguns habitantes da ilha da Madeira estão preocupados com a situação dos seus familiares e com a evolução dos estragos com a subida da maré.
Margarida Freitas Vieira, técnica educacional de 54 anos, vive numa zona alta do “meio da cidade do Funchal” e está “sem água, sem luz, sem telefones e sem televisão”.

“Estou muito preocupada porque só consigo saber o que se passa através da minha janela. O mar está todo castanho por causa da água que lá chega das ribeiras e dos lixos e as ondas estão altíssimas”, descreveu Margarida.

Da janela de sua casa, onde está “segura” mas sem saber da sua família e amigos, a testemunha vê também a localidade de Anadia, mais baixa, e contou que “as estradas mais parecem ribeiras, de inundadas, e correm com muita intensidade”.

Também Paulo França, funcionário público de 42 anos, está preocupado com a situação, e teme “que a subida da maré, prevista às 15h00, traga estragos”.

Paulo e a família estão em casa, também numa zona mais alta da ilha, seguindo as indicações da protecção civil, e descreveu que “nunca se viu nada assim”.

“Estamos perplexos. A força das águas arrastou algumas viaturas de zonas inclinadas e não se sabe se estão vítimas dentro dos carros ou não”, temeu.

Por sua vez Filipe Cerqueira, advogado, tentou ir trabalhar hoje de manhã, mas pelos deslizamentos de terra e pelas inundações demorou três horas a fazer um percurso que demoraria cinco minutos.

“As estradas estão bloqueadas, há pontes que ameaçam cair. É lamentável que a cidade esteja toda diminuída”, considerou.

As más condições atmosféricas acalmaram neste momento e a chuva deu uma trégua, deixando um rasto de destruição sobretudo nos concelhos do Funchal e na Ribeira Brava.

As ribeiras galgaram as margens, arrastando na água lamacenta moradias, carros e pessoas, estando algumas dadas como desaparecidas.

Algumas localidades ficaram isoladas, a circulação faz-se com muitas dificuldades e muitas estradas estão encerradas.

MADEIRA

Ao final do dia, o balanço do temporal na Madeira é de pelo menos 32 mortos, 68 feridos e centenas de desalojados. Autoridades admitem possibilidade de mais vítimas mortais.
Muitas viaturas foram arrastadas e destruídas pelas correntes (Duarte Sá/Reuters)

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A forte chuva que caiu na Madeira esta madrugada levou a que o caudal das duas principais ribeiras do Funchal subisse consideravelmente, dando origem a fortes correntes de água e lama que arrastaram e destruíram dezenas de veículos. A baixa da cidade ficou inundada.

O presidente do Governo Regional, Alberto João Jardim, disse que está a preparar o envio a Bruxelas de “um pedido de apoio”, com “documentação fundamentada”. Jardim acrescentou ainda que já falou com o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, com o Presidente da República e com o primeiro-ministro.

O Governo pôs ao dispor os “meios de que a região precisasse, inclusivamente meios financeiros”, acrescentou ainda João Jardim. O Governo regional dos Açores também já mostrou disponibilidade para ajudar os madeirenses.

Dada a gravidade da situação, o primeiro-ministro José Sócrates viajou para a Madeira, para definir, com o Governo regional, o plano de ajudas para a região.

Com Sócrates viajou o ministro da Administração Interna, Rui Pereira, que esta tarde classificou o acidente como "uma situação que exige uma resposta nacional”.

Para além dos 32 mortos, foram contabilizados 68 feridos e há ainda centenas de desalojados na ilha da Madeira. O Exército está a acolher algumas das pessoas cujas casas ficaram destruídas.

O ministro da Administração Interna disse ainda que irá levar a Conselho de Ministros uma proposta para a declaração de calamidade na Madeira, de modo a que a região possa requisitar apoio da União Europeia para lidar com os danos das cheias.

Rui Pereira afirmou também que a Autoridade Nacional de Protecção Civil tem uma equipa de 100 pessoas a postos para seguir também para a Madeira. A Câmara Municipal de Lisboa também ofereceu a ajuda dos Sapadores Bombeiros.

As zonas litorais cidade do Funchal e a vila da Ribeira Brava são as localidades mais atingidas pela fúria das ondas e pelo aumento do caudal das ribeiras que inundaram a baixa da capital madeirense, completamente intransitáveis e com elevados prejuízos.

Dadas as dificuldades de comunicações, desconhecem-se os danos registados na povoação de Curral das Freiras, cuja população esta completamente isolada. Durante o dia, houve grandes problemas de comunicações em toda a ilha. As autoridades chegaram a fazer apelos nas rádios para que médicos e enfermeiros se dirigissem aos serviços de saúde. O aeroporto esteve fechado.

A GNR mobilizou entretanto 56 homens e dois cães, do Grupo de Intervenção de Protecção e Socorro, para embarcar ao início da manhã de domingo para a Madeira.

Este é o pior desastre na ilha nos últimos 100 anos.

DA ANA RAMOS

SILVA LOPES, 77 ANOS,
NOMEADO ADMINISTRADOR DA EDP RENOVÁVEIS.

A pouca vergonha continua. Ao que isto chegou.

SILVA LOPES, com 77 (setenta e sete) anos de idade, ex-Administrador do Montepio Geral, onde saiu há pouco tempo com uma indemnização de mais de 400.000 euros, acrescidos de varias reformas que tem, uma das quais do Banco de Portugal como ex-governador, logo que saiu do Montepio foi nomeado Administrador da EDP RENOVAVEIS, empresa do Grupo EDP.

Com mais este tacho dourado, lá vai sacar mais umas centenas de milhar de euros num emprego dado pela escumalha politica do governo, que continua a distribuir milhões pela cambada afecta aos partidos do centrão.

Entretanto o Zé vai empobrecendo cada vez mais, num pais com 20% de pobres, onde o desemprego caminha para niveis assustadores, onde os salários da maioria dos portugueses estão cada vez mais ao nivel da subsistência.

Silva Lopes foi o tal que afirmou ser necessário o congelamento de salários e o não aumento do salário mínimo nacional, por causa da competividade da economia portuguesa. Claro que para este senhor, o congelamento dos salários deve ser uma atitude a tomar, (desde que não congelem o dele, claro).

Quanto a FERNANDO GOMES, mais um comissário político do PS, recebeu em 2008, como administrador da GALP, mais de 4 milhões de euros de remunerações. Acresce a isto um PPR de 90.000 euros anuais, para quando o " comissário PS " for para a reforma. Claro que isto não
vai acontecer pois, tal como Silva Lopes, este senhor vai andar de tacho em tacho, tal como esta cambada de ex-politicos que perante a crise " assobia para o ar ", sempre com os bolsos cheios com os milhões de euros que vão recebendo anualmente.

Estes senhores não têm vergonha na cara?
Reenvia aos teus contactos, divulguemos mais esta afronta...



ENCAMINHAR? CLARO!
EU ATÉ ENVIAVA PARA MARTE, JÚPITER, NEPTUNO, PLUTÃO E PARA A LONGÍNQUA ANDRÓMEDA!
ISTO MEUS AMIGOS NÃO É UMA VERGONHA, É UM ESCÂNDALO!

Mas os chamados partidos da Oposição onde estão ?! A nanar !!!!!!!!!!!!!

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

DÁ-ME UMA REVOLUÇÃO


Dá-me uma revolução
com montras partidas
e bancos pilhados
dá-me uma revolução
este mundo mata-nos
deixa-nos a comprimidos
dá-me uma revolução
estou farto de caras bonitas
na televisão
dá-me uma revolução
com o mercado entupido
e carros incendiados
dá-me uma revolução
morro de tédio
neste café sem brilho
dá-me uma revolução
há cada vez mais gente
a desejá-la
dá-me uma revolução
não suporto mais
esta merda
dá-me uma revolução
uma revolução
que mude a Terra.

ANA GOMES

Boys will be... bóis

[Publicado por AG] [Permanent Link]

Eu não sei quem é esse tal Rui Pedro Soares, o boy sem cv que aos 32 anos foi alçado a administrador-executivo da PT pelo Estado, a ganhar escandalosamente mais num ano do que o meu marido ganhou em toda a vida, ao longo de 40 anos como servidor do Estado nos mais altos escalões.
Socialista encartado, dizem. Será, nunca dei por ele, que eu saiba nunca sequer me cruzei com ele.
Fraquinho no descernimento é, de certeza. Porque se não quis encalacrar os socialistas, foi exactamente isso que logrou ao accionar uma providência cautelar para impedir a saída do jornal SOL com mais escutas das suas ruminações telefónicas, justamente numa semana em que os socialistas procuraram desmentir quem clamava contra a falta de liberdade da imprensa.
E se investiu para abafar o jornal, a criatura tambem não percebeu que, ao contrário, projectava ainda mais longe a radiação solar.
Com bóis destes, para que servem ao PS os boys?

http://causanossa.blogspot.com

À MESA DO HOMEM SÓ


à mesa do homem só. estórias, A. Pedro Ribeiro

By Cláudia Sousa Dias

Paixão, delírio, desvario e perda. São os principais ingredientes deste pequeno grande livro de poesia de A. Pedro Ribeiro que, nesta fase, dava os primeiros passos nas lides da escrita poética. Os textos datam da segunda metade da década de 1990 e início dos anos 2000. É notório o talento que escapa por entre as frases de uma escrita errante. Uma escrita essencialmente emotiva, elaborada a partir do cenário do quotidiano dos cafés das cidades do Porto e de Braga.

Uma das facetas mais angustiantes da obra por se tratar de uma temática recorrente, em diversos trabalhos de A. Pedro Ribeiro, é o da necessidade da fuga, de evasão e perseguição da miragem de um paraíso perdido, através da procura de refúgio no álcool, o alívio momentâneo no sexo. No primeiro caso, as alucinações despoletadas pela bebida aproximam-no da poesia provocadora de Morrison, enquanto que, no segundo, colocam-no muito próximo do panteão dos poetas do erotismo norte-americano como é o caso de Miller ou Bukovski.

As provocações sucedem-se em poemas como

“Ressaca”

Na ressaca
das noites ébrias
liberto pássaros
absorvo conversas

Tudo parece
absurdo convencional
diante do meu fogo
diante da embriaguez
permanente.


É notório o sentimento de insatisfação constante, fruto do espartilho do tédio, da monotonia, do desespero impresso pela patine da rotina dos dias sempre iguais que impelem a procura de mundos diferentes, onde a solução mais imediata é aquela que parece ser o portal de saída, de fuga, o álcool – abre a cortina para o paraíso construído na imaginação a partir da alteridade da consciência e do desequilíbrio sináptico que transparece no apelo a Dionysos em “Ébrio 29”.

“…ao raiar da aurora
avistaremos a terra prometida
desfilaremos entre os anjos
sobre o tapete celestial…”

Do mesmo impulso de fuga à deprimente e feia realidade do quotidiano, nasce o sonho da Beleza e do Prazer, onde se apela ao excesso, trazido aparentemente pelo arquétipo representado deus ou pela figura alegórica da Embriaguez, embora, na realidade, o desejo mais primário, mais fundamental é, precisamente, o Desejo, trazido pela mão de Aphrodite, arquétipo incarnado pela Musa, a quem é dedicado o livro…

“Valete de Espadas”

pétalas murchas
cálices desleixados
(…)

o sangue não corre
a alma não morre
entediada

tantas horas
longas demoras
no meu quarto
a espera
ansiosa

a vida lá fora
as conversas
…tu…
…já não vens…
…hoje…

Prosseguem a angústia e a asfixia, que agarram a alma, numa espiral de auto-destruição como um pântano de areias movediças em

“Távola”

(…) Amor sobre um penedo de saudade
rebento suicida
outras eras
idades

A catarse
o ciúme
ao rubro
o crime
o filme

estórias ao espelho
à mesa a tua imagem
do homem só acesa.

Um poema com duas opções de leitura, a multiplicar as interpretações e a aumentar exponencialmente a riqueza polissémica do texto que dá o título ao livro.

Em vário textos de à mesa do homem só. estórias a linguagem utilizada, aparentemente desconexa, é a projecção de caóticos sonhos povoados de erotismo, que reflectem uma poética tipicamente onírica, marcada por uma profusão de imagens que se sobrepõem e reproduzindo um caos interior, caracterizado por um vórtice de contradições à vista desarmada.
Poemas como “Anjo em Chamas”, dedicado a Jim Morrison, ou “Cristo Ébrio” deliciam pela absoluta subversão face ao convencional, à norma, às regras, a toda e qualquer proibição ou dogma, características que fazem do poeta A. Pedro Ribeiro um verdadeiro filho de Maio de ’68 . São dois poemas povoados de um erotismo imbuído no sagrado, a exaltar o hyerogamos, ou acasalamento sagrado, a lembrar antigos rituais Gregos ou Babilónios.

“Cristo Ébrio”

Regresso
serpentes masturbam-se na areia
estradas aquáticas

golpes de espuma celebram
o orgasmo de Neptuno.

Procuro o beijo
o anel sagrado
sou serpente ébria (…)

serpente ébria
danço canto
enfeitiço…

Este poema e o seguinte sugerem um ritual dionisíaco, marcado pelo ritmo caótico, desenfreado de um voraz bailado de Ménades, como se pode ver no poema

“Um poeta em fogo”

Distingo ao longe
um cenário onírico
adornado
de cores perversas

(…)

Vulcões vomitam cometas
flores desabrocham
em arco-íris embriagadas.

Cascatas inflamadas
trepam a catedral.

Caânticos dionisícos
em redor da fogueira
corpos enlaçados
em delírio carnal.
(…)


Em toda a obra se assiste ao triunfo da Loucura sobre a Razão que está especialmente manifesto em “Representação”.

Mas em “Devaneios” começam a notar-se alguns ecos de Baudelaire e da sua obra As Flores do Mal

“Devaneios”

Toma-me a alma
Conduz-me ao fim da noite
(…)
Encharca de whisky o meu cadáver vivo”
(…)

Vem pintor surrealista
acende na tela
a sombra imensa do martírio
conduz-me a noite sem fim”

O último dos poemas de à mesa do homem só…, com o qual o autor presta homenagem aos sem-abrigo, exprime a total e completa insubmissão à norma e a necessidade de afirmação e de ser aceite na plenitude da diferença, que comporta a sua forma de estar no mundo, com todos os desvios:

“Queimam as horas mal-dormidas sobre um banco de jardim.
No cérebro estalam vulcões, montanhas. A viagem recomeça, rumo ao cume.

Dentro do sonho existem lugares verdes (…)
Quiseram prender-me. Atirar-me para o hospício.
Mas eu não estava lúcido. E os inquisidores fugiram de mim.”

Uma escrita onírica sim, porque pictórica, onde as imagens se sucedem, se fundem formando o caos aparente, onde se concentra o vórtice de emoções e sensações impossíveis, incomportáveis na morna quietude de quotidiano…

À mesa do café está o último reduto que abriga alguém que encarna a rebeldia de quem prega no deserto, no meio de víboras e escorpiões.

Um livro no qual, segundo o Autor,

“tudo acaba, tudo começa à mesa do homem só que escreve, descreve, constrói cenários, delineia paisagens. O resto são estímulos, sinais exteriores, perspectivas de contacto, imagens.”

Clamamos, portanto, por uma reedição.

Urgente.

à mesa do homem só. estórias
A. Pedro Ribeiro
Silencio da Gaveta
2001

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

CINCO E MEIA DA MANHÃ


São cinco e meia da manhã. Escrevo. A menina veio ter comigo no Piolho. A menina deu-me a mão e falou-me da revolução. Depois no Púcaros deram-me cervejas para financiar a revolução. A menina é bonita. Falta a outra menina que nunca atende o telefone. Se tivesse uma menina todos os dias era feliz. Basta que a menina me dê a mão. E, já agora, que fale na revolução. Acredito que ela vem. Há cada vez mais gente a desejá-la. Mesmo que haja cada vez mais gente deprimida. Talvez até por isso. O capitalismo produz a depressão. O mercado é inimigo da vida. O mercado destrói o homem e as meninas.
São cinco e meia da manhã. Escrevo. Não tenho sono. Este blogue já tem nove seguidores. Tenho seguidores. Não me posso deixar contagiar pelo derrotismo, pelo niilismo, pelo tem que ser. Tenho de acreditar no que já escrevi. Tenho de acreditar nas minhas ideias. No homem que ri e canta e dança. Na alegria autêntica, não forçada. No homem livre. Sou um homem livre. Estou condenado a ser um homem livre. Não me posso deixar contaminar pelas conversas do status quo, pela linguagem económica. Estou para lá da economia. Sou da palavra.
São cinco e meia da manhã. Escrevo. Tenho responsabilidades políticas. Mesmo que não esteja a seguir o caminho mais ortodoxo sei que tenho responsabilidades. Sei perfeitamente onde quero chegar. Não me posso deixar contaminar. Não me posso deixar contaminar. Afasta-te, mercado! Afasta-te, luta pelo poder! Afasta-te, luta pela sobrevivência! Eu tenho vontade. Tenho entusiasmo. Tenho fé. Acredito na revolução. Quase só acredito na revolução. E no amor, na liberdade, na poesia, nas meninas.

MÁRIO CRESPO

O jornalista Mário Crespo reiterou hoje ter sido vítima de censura por parte do Governo alegando que aquilo que o primeiro ministro diz em público tem consequências.
Mário Crespo começou por distribuir uma crónica que não vai sair "por não ter onde ser publicada" (Pedro Cunha)

O jornalista está a ser ouvido em comissão parlamentar a propósito da não publicação de uma crónica em que fala de alegadas pressões de José Sócrates.

“Estou aqui porque me foi censurada uma crónica”, afirmou na comissão de Ética, Sociedade e Cultura que está a realizar uma série de audições a várias personalidades sobre a liberdade de expressão em Portugal.

“A crónica foi censurada” e “surpreendeu-me muito a atitude do José Leite Pereira [director do Jornal de Notícias]”, disse, referindo que, tal como o Jornal Nacional era o bloco de informação com muita audiência, a sua crónica habitual no JN era “das mais lidas em Portugal.

“O que o chefe do Governo diz em público tem significado, tem que ter”, sublinhou respondendo a questões da deputada socialista Isabel Neto sobre a liberdade de expressão dos membros do Governo de criticar programas de informação em encontros casuais.

“Tenho uma série de fontes inequívocas - e de resto nunca foi desmentido - que me dizem ter sido dito [pelo primeiro ministro] que eu seria um problema a ser resolvido”, sublinhou Mário Crespo.

Segundo adiantou, os jornalistas sempre receberam telefonemas de assessores de ministros, mas a “situação tem-se vindo a intensificar nos últimos quatro anos”.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

HOMEM, QUEM ÉS?

Procuro o livro que me dê as respostas. Já o tive em "Zaratustra", em Henry Miller, e noutros, a espaços. Procuro o sentido da vida.

A MENINA É SIMPÁTICA


A menina é simpática. O que se quer é que as meninas sejam simpáticas. A "Padeirinha" está às moscas. Até o Tavares deixou de vir. O intelectual palrador não voltou a aparecer. O "Nova Onda" está a ter mais sucesso. Mas eu já não tenho cacau para andar de bar em bar. A "Padeirinha" está a ter prejuízo. Instalaram um ecrã para o futebol mas não parece estar a dar efeito. E eu preocupado com o sucesso comercial da "Padeirinha"...eu que não me preocupo com as questões económicas. Eu que só venho micar as meninas. E o patrão matulão continua a controlar. Sou escritor, caro senhor. Passo a vida a escrever. Escrevo e olho para as gajas. Eis o que faço. A menina sorri. A cerveja está quase a acabar. Mas ainda aguenta. A menina é simpática. As meninas estão sempre a mudar. As amigas não atendem o telefone. Era bom que esta menina se mantivesse. Não me excita como outras que por aqui passaram. Mas é bonita e simpática.

MIILLOR FERNANDES

(adaptado)
O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à
quantidade de "foda-se!" que ela diz.
Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"?
O "foda-se!" aumenta a minha auto-estima, torna-me uma
pessoa melhor.
Reorganiza as coisas. Liberta-me.
"Não quer sair comigo?! - então, foda-se!"
"Vai querer mesmo decidir essa merda sozinho(a)?! - então,
foda-se!"
O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição.
Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos
extremamente válidos e criativos para dotar o nosso vocabulário
de expressões que traduzem com a maior fidelidade os nossos
mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo a fazer a sua
língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que
vingará plenamente um dia.
"Comó caralho", por exemplo. Que expressão traduz melhor a
ideia de muita quantidade que "comó caralho"?
"Comó caralho" tende para o infinito, é quase uma expressão
matemática.
2
A Via Láctea tem estrelas comó caralho!
O Sol está quente comó caralho!
O universo é antigo comó caralho!
Eu gosto do meu clube comó caralho!
O gajo é parvo comó caralho!
Entendes?
No género do "comó caralho", mas, no caso, expressando a
mais absoluta negação, está o famoso "nem que te fodas!".
Nem o "Não, não e não!" e tão pouco o nada eficaz e já sem
nenhuma credibilidade "Não, nem pensar!" o substituem.
O "nem que te fodas!" é irretorquível e liquida o assunto.
Liberta-te, com a consciência tranquila, para outras actividades
de maior interesse na tua vida.
Aquele filho pintelho de 17 anos atormenta-te pedindo o carro
para ir surfar na praia? Não percas tempo nem paciência.
Solta logo um definitivo:
"Huguinho, presta atenção, filho querido, nem que te fodas!".
O impertinente aprende logo a lição e vai para o Centro
Comercial encontrar-se com os amigos, sem qualquer problema,
e tu fechas os olhos e voltas a curtir o CD (...)
Há outros palavrões igualmente clássicos.
Pense na sonoridade de um "Puta que pariu!", ou o seu
correlativo "Pu-ta-que-o-pa-riu!", falado assim, cadenciadamente,
sílaba por sílaba.
Diante de uma notícia irritante, qualquer "puta-que-o-pariu!", dito
assim, põe-te outra vez nos eixos.
Os teus neurónios têm o devido tempo e clima para se
reorganizarem e encontrarem a atitude que te permitirá dar um
merecido troco ou livrares-te de maiores dores de cabeça.
E o que dizer do nosso famoso "vai levar no cu!"? E a sua
maravilhosa e reforçadora derivação "vai levar no olho do cu!"?
Já imaginaste o bem que alguém faz a si próprio e aos seus
quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de
seu interlocutor e solta:
"Chega! Vai levar no olho do cu!"?
3
Pronto, tu retomaste as rédeas da tua vida, a tua auto-estima.
Desabotoas a camisa e sais à rua, vento batendo na face, olhar
firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado
amor-íntimo nos lábios.
E seria tremendamente injusto não registar aqui a expressão de
maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu-se!". E a
sua derivação, mais avassaladora ainda: "Já se fodeu!".
Conheces definição mais exacta, pungente e arrasadora para
uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de
ameaçadora complicação?
Expressão, inclusivé, que uma vez proferida insere o seu autor
num providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo
assim como quando estás a sem documentos do carro, sem
carta de condução e ouves uma sirene de polícia atrás de ti a
mandar-te parar. O que dizes? "Já me fodi!"
Ou quando te apercebes que és de um país em que quase nada
funciona, o desemprego não baixa, os impostos são altos, a
saúde, a educação e … a justiça são de baixa qualidade, os
empresários são de pouca qualidade e procuram o lucro fácil e
em pouco tempo, as reformas têm que baixar, o tempo para a
desejada reforma tem que aumentar … tu pensas “Já me fodi!”
Então:
Liberdade,
Igualdade,
Fraternidade
e
foda-se!!!
Mas não desespere:
Este país … ainda vai ser “um país do caralho!”
Atente no que lhe digo!

domingo, 14 de fevereiro de 2010

HOMEM LIVRE


Homem livre
amas a solidão
e pertences à Terra
homem livre
queres a glória
e constróis o poema
homem livre
a tua arma é a palavra
acima de ti não há nada
homem livre
não serves a Deus
nem ao mercado
homem livre
amas a paz
mas estás em guerra
homem livre
não trabalhes
não sofras
não obedeças
ri
goza!
Homem livre
és das paixões
e pertences à Terra.

O OUTRO POETA

Há mais um poeta no "Bom Pastor". Finalmente, vejo companheiros, poetas que vêm escrever para o café. Os outros poetas fecham-se em casa a escrever. São diferentes de mim. Eu descarrego tudo. Os outros estão sempre a fazer cortes, acrescentos e arranjos. Não são espontâneos. O meu companheiro poeta folheia o bloco, mexe na pasta azul. Eu continuo a escrever, a vomitar o que me vem à cabeça, a lamentar a falta de cerveja. O outro poeta escreve. Os outros clientes olham para o Sporting. A vida é o que é.
Estava eu a pedir a mão do irmão, do amigo no poema e a D. Rosa deu-me a mão. Não pode ser mera coincidência. É o divino. O divino está em mim. O divino faz de mim o artista, o mago, o profeta. O divino transforma-me noutro homem. No homem que cria, no homem que acredita, no homem que vai até ao fim. Sou eu que estou aqui. Sou eu que estou aqui, ouviram? Sou eu que contesto as vossas leis. Sou eu que digo o poema nas vossas barbas. Sou eu que provoco. Sou eu que danço. Sou eu que bebo. Sou eu o homem. Sou eu o deus.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

OBRIGADO, SOL

PACHECO PEREIRA

Caso "Sol"

Pacheco Pereira pede explicações ao primeiro-ministro sobre conspiração
12.02.2010 - 14:37 Por Luciano Alvarez

O deputado do PSD Pacheco Pereira voltou hoje a insistir que o primeiro-ministro tem de dar “muitas explicações ao país” e manifesta-se “cada vez mais preocupado” com o que vem sendo a ser relatado pelo semanário ‘Sol’ sobre o caso “Face Oculta”, que considera uma “conspiração”.
O primeiro-ministro tem de fazer uma avaliação sobre a sua própria posição, disse Pacheco Pereira (Manuel Roberto/PÚBLICO)

“É um conluio entre um conjunto de responsáveis políticos com responsáveis económicos e com pessoas que funcionam um pouco como funcionários políticos em diferentes empresas, misturando interesses económicos com interesses políticos no sentido de manipular aquilo que é o contexto actual da imprensa em Portugal”, afirmou no Parlamento, no final da comissão parlamentar para a corrupção.

O social-democrata acrescenta que “quando muita gente anda a falar de liberdade de expressão” não se trata de “as pessoas omitirem livremente a sua opinião”. “O que acontece é que está a ser condicionada a liberdade de expressão se, por qualquer motivo, um plano deste tipo fosse levado avante. E nós não sabemos, nalguns casos, se para alguns jornais amigos e para alguns jornalistas amigos o condicionamento das notícias e das opiniões funcionou em período eleitoral. Tudo isto tem uma grande gravidade”, salientou.

Questionado se José Sócrates deve pedir a sua demissão, Pacheco Pereira não respondeu directamente. Disse que o primeiro-ministro “tem de fazer uma avaliação sobre a sua própria posição”, acusando-o de ter “mentido ao Parlamento”, o que “em qualquer país democrático é grave”. “Nós já sabemos muito mais coisas que o que publica o ‘Sol’. Sabemos muito mais coisas sobre a PT, a Ongoing, sobre o processo da TVI, temos declarações dos jornalistas, temos alguns documentos. Reduzir isto apenas a fugas de informação, ou informações assentes em escutas é pouco. Há muito tempo que nós sabemos que há uma relação directa entre as decisões políticas e as decisões económicas. Há uma intromissão nos negócios nos gabinetes ministeriais, em especial nos da comunicação social”, acrescentou.

PODRIDÃO

Depois de ter abortado o negócio e de José Eduardo Moniz ter negociado a saída da TVI e se ter juntado a Nuno Vasconcelos na Ongoing, Oliveira espicaça o vice-presidente do BCP dizendo-lhe que Vasconcelos “tem sido a vedeta em toda a imprensa”.

O telefonema ocorreu a 4 de Agosto último e referia-se às noticias de que a Ongoing pretendia reforçar a sua posição no grupo Impresa (SIC/"Expresso"/"Visão"), dominado por Francisco Balsemão. O ex-ministro socialista responde que pretende é avançar para a TVI e se trata apenas de “poder acusar Balsemão de não ter querido vender, o que o obrigou a ir para outras áreas”.

No dia seguinte comentam o facto da mulher de Moniz se manter na estação de Queluz. “Quem a armou que desarme”, disse Vara, respondendo Oliveira que “isto não tem grande solução”. Dias depois voltam a conversar para comentar as condições em que Moniz terá negociado a saída da Media Capital e a protecção que Manuela Moura Guedes goza no seio da redacção da TVI. “Está espaldada numa trupe que domina a informação”, transcreve o "Sol".

Numa outra gravação do início de Setembro, a conversa centra-se nas notícias que relatam alegadas movimentações do PS para afastar Moura Guedes do Jornal Nacional das sextas, e também de supostas conversas entre José Sócrates, o primeiro-ministro espanhol e o presidente da Prisa, José Luís Cébrian para negociar a venda da TVI.

“Acabei de saber que o teu jornal manda a tese de que foi uma cabala do PS”, diz Vara, questionando depois “quem é que na redacção trata desses assuntos”. “Só falo com o Marcelino”, disse então Oliveira sendo que alguns dias depois o informou que haveria alguns “jornalistas mais novos” a procurar esclarecer o assunto e que terá dito a Marcelino “para terem atenção a essa brincadeira”. Segundo relata o "Sol", o patrão da Controlinveste terá também ligado ao director do "Jornal de Notícias" recomendando “cuidado com as peguntas que anda a fazer”.


www.publico.clix.pt

ONDE ISTO CHEGOU!

Reportagem
Vale do Cávado: pagar para provar que se procura emprego
por Liliana Valente, Publicado em 11 de Fevereiro de 2010 .Empresas pedem dinheiro e obrigam desempregado a trabalhar de graça para carimbar declarações de prova junto do centro de emprego
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Maria Conceição Lopes foi a única das desempregadas a deixar-se fotografar. Costureira desde os 18 anos, continua à procura de emprego em fábricas de têxtil Nelson d'Aires/kameraphoto 1/1 + fotogalería .Chamam-lhe "chapa cinco" e é uma prática de algumas empresas da região do vale do Cávado conhecida pelos desempregados da zona. Não se trata de pagar para trabalhar, mas de pagar para provar que se está à procura de emprego. É pedido aos desempregados da região cinco euros por carimbo. O esquema das empresas vai mais longe e várias desempregadas relataram ao i que foram "convidadas" a trabalhar à experiência, de graça, sem que lhes fosse garantido qualquer contrato de trabalho e sem que essas horas (ou dias) viessem a ser pagas.

Foi o que aconteceu a Maria da Conceição Lopes, uma desempregada que trabalhou no sector têxtil durante 31 anos. Conceição, como gosta de ser chamada, foi convocada pelo Centro de Emprego (CE) de Barcelos para comparecer numa empresa. E conta o episódio: "Quando lá cheguei a dona da empresa mandou-me ir no dia a seguir para começar às oito da manhã. Fui às nove e ela pôs-me a trabalhar à experiência. Chegou a hora de almoço e eu fui perguntar-lhe se era para ficar e ela disse-me se eu queria trabalhar três dias à experiência, mas que não tinha trabalho para mim." "Então se não tinha porque é que queria que eu ficasse lá a trabalhar!?", questiona. A resposta chega logo a seguir: "Hoje são todos mais mentirosos. Aproveitam-se de haver muitos desempregados que têm de mostrar que estão à procura de trabalho." A necessidade de comprovar junto do CE a procura activa de emprego leva as pessoas "a sujeitarem-se", explica.

A substituição por outro trabalhador aumenta a pressão junto dos funcionários do sector. A meio caminho entre Barcelos e Esposende, com o olhar a correr em radar a zona, Odete aceita encontrar--se com o i, mas explica que "o medo de denunciar os abusos" é grande entre quem tem emprego. Também Odete já teve de trabalhar de graça para ver a declaração assinada: "Um dia fui a uma empresa. Éramos umas dez, algumas ficaram a trabalhar à experiência. No dia a seguir foram mais e no outro... Ficam com o trabalho feito e não pagam."

À explicação de Odete junta-se a indignação de Isabel. "Porque é que o CE manda pessoas para estas empresas?", pergunta a jovem desempregada que foi convocada pelo CE para uma empresa em risco de fechar e que deve salários aos trabalhadores.

A pergunta de Isabel encontra resposta na denúncia de Odete: "A ideia é massacrar, massacrar até que o trabalhador ceda e se despeça e perca os direitos. Assim a empresa pode ir buscar outro trabalhador ao CE."

O esquema é simples: seja por iniciativa do desempregado ou porque é convocado pelo CE, o desempregado quando chega à empresa é "convidado" a trabalhar à experiência para que possa comprovar junto do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) que respondeu à convocatória ou que está activamente à procura de trabalho.

Empresas-fantasma O Centro de Emprego de Barcelos reencaminhou desempregados para uma empresa-fantasma. O i teve acesso a cartas enviadas pelo IEFP a várias mulheres desem- pregadas de Barcelos e Esposende, remetendo-as para uma empresa sedeada numa habitação social, sem que lá exista qualquer empresa.

As sete mulheres - trabalhadoras do sector têxtil - receberam uma notificação do Centro de Emprego de Barcelos para se apresentarem na empresa Anabela Pereira Martins, em Novembro passado. A morada indicada pela carta é a de uma casa social na localidade Palmeiras de Faro, perto de Esposende (ver fotografia). Do lado de fora, as cortinas, as persianas a meio e as fechaduras partidas dão nota de que ali não funciona nenhuma empresa. As mulheres foram posteriormente encaminhadas para uma outra empresa do sector têxtil, em Esposende, onde os salários não são pagos a tempo e horas.

A situação é recorrente no sector têxtil na região, explica ao i o presidente do Sindicato Têxtil do Minho e Trás-os-Montes. Manuel Sousa acusa o centro de emprego de não fazer qualquer rastreio às empresas que procuram desempregados. "O centro de emprego não controla e envia muitas vezes as pessoas para empresas que na realidade não existem. Ou porque nunca existiram ou porque faliram e recrutam para novas empresas do mesmo dono", revela.

Grande parte dos pedidos de funcionários feitos ao CE são de pequenas empresas familiares, que funcionam muitas vezes nas casas dos donos.

Odete, uma das trabalhadoras, explica que há funcionárias "que são colocadas em empresas que não têm condições, muitas vezes a penar até à meia-noite". A mesma trabalhadora conta que "há quem trabalhe para empresários em nome individual, numa espécie de garagem". E deixa a descrição: "Aquilo nem tem número de porta!"

Os empresários em nome individual do sector do têxtil são quem mais recruta trabalhadores despedidos de grandes fábricas que faliram com o agudizar da crise. A questão das trabalhadoras fica no ar: "Porque é que só as grandes empresas é que estão a abrir falência?" A resposta chega pela voz de Maria Conceição. "As grandes empresas do têxtil pagavam horas extraordinárias, horas nocturnas, faziam os descontos certos para a Segurança Social." E as pequenas? Odete explica: "Nós neste momento estamos a ser explorados. Trabalhamos nove, 10, 11 horas que não são pagas, são para gozar um dia se o patrão quiser. Como nunca quer, acabamos por dar horas de graça."

As horas extraordinárias são o menor dos problema. "O grande problema é o medo, a pressão", explica Odete. "Somos obrigados a aguentar."

O sector do têxtil na zona do vale do Ave e Cávado empurrou milhares de pessoas para os centros de emprego. Só no concelho de Barcelos estavam desempregadas em Dezembro 5426 pessoas, quase 3 mil mulheres.

O elevado nível de desemprego no vale do Cávado chamou a atenção dos partidos políticos. O Bloco de Esquerda (BE) já questionou o Ministério do Trabalho sobre o envio de pessoas para empresas-fantasma no concelho de Barcelos. O deputado Pedro Soares explica que "a situação no vale do Ave e Cávado ultrapassa os limites admissíveis da dignidade humana. Há empresas que estão a aproveitar-se da fragilidade das pessoas de- sempregadas". Por isso o BE pondera a apresentação de um pedido de um plano estratégico para combater o desemprego na região. Também o PCP já teve conhecimento da situação das trabalhadoras.

A directora do Centro de Emprego de Barcelos, Madalena Quintão, questionada pessoalmente, remeteu a resposta para a direcção do IEFP do Norte e recusou- -se a comentar as denúncias relatadas. O i apresentou a questão ao IEFP, que até à hora de fecho desta edição não comentou.

www.ionline.pt

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

DA VIDA INTERIOR

Há, de facto, uma vida interior onde coexistem céus e infernos, deuses e demónios, montanhas e abismos. No interior dessa vida trava-se um combate mortal entre o bem e o mal mas, por vezes, ficamos além do bem e do mal. A racionalização não é capaz de apreender esse mundo mágico onde é possível o homem ser homem e atingir o paraíso. Como diz Artaud, a revolução comunista ignora o mundo interior do pensamento. O pensamento está para lá da experiência. A vida interior, o pensamento é que nos permite criar, é que nos permite aproximarmo-nos dos deuses mas também dos demónios. O céu na Terra de Henry Miller está dentro das nossas cabeças. O conbhecimento poético é interno e mágico, como diz Artaud. Os poetas são mágicos, criam mundos. O materialismo capitalista persegue o pensamento poético e inveja-o.

O mundo interior, esse mundo que inventa mundos, personagens desde a infância. É lá que está o ouro. É agora que posso escrever a obra. Vou enviar estes textos a um editor. Estes textos têm de ser publicados. Não falam de gajas nem de mamas. Mas são importantes. Vêm da alma. Vêm da vida. Abominam a morTE. Vêm de Nietzsche, do homem nobre. O homem nobr não tem de se preocupar com a populaça. O homem nobre não tem de ser socialista. TEm de fecundar a mulher que o enfeitiça. TEm de ser mágico, "supõe a presença do fogo em todas as manifestações do ensamento humano", afirma Artaud. "A música é a tua única amiga/dança em cima do fogo se ela te convidar" (Jim Morrison). Dionisos copula com as bacantes em fúria. Dança em redor da fogueira. Incendeia lojas, bancos, automóveis. Cospe na polícia e no exército.Cospe no senso comum e na normalidade. Canta a canção do "Fim": " É o fim, amigo querido/ é o fim, amigo único/ custa-me deixar-te mas tu nunca me seguirias/ o fim das risadas e das doces mentiras/ o fim das noites em que fizemos por morrer, é o fim". O fim que é o princípio, o fim que é o princípio do fim do capitalismo. E chego so fim vidrado por Zaratustra, apaixonado pelas alturas e pela grandeza.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Não há dúvida de que me tenho precipitado nas publicações. Mas o "poeta no Piolho" teria mesmo de ser assim. A selecção do Amaral trouxe-me de volta à realidade. A maior parte das coisas que escrevo são repetitivas. Nem outra coisa seria de esperar com tanta produção. Tenho de dar mais atenção às revisões e correcções.

AS MINHAS MENINAS


As minhas meninas não podem sair comigo. Estou triste. Há aqui as meninas do café mas estas não me conhecem. As minhas meninas não podem sair comigo. O patrão calmeirão controla. Que tristeza. Já é noite. O homem bebe. O Rocha não está aqui.

CONTRA O CAPITALISMO


Protesto em dia de greve geral contra cortes salariais
Milhares manifestam-se em Atenas e Salónica contra cortes salariais
10.02.2010 - 11h36
Por Agências
Yiorgos Karahalis/Reuters

Os manifestantes contestam a redução do salário real, as restrições à contratação e a supressão de benefícios fiscais
Os cortes salariais justificados pelo Governo grego com a crise económica e financeira em que se encontra o país levaram hoje para as ruas de Atenas e de Salónica mais de dez mil pessoas. O protesto decorreu em dia de greve geral contra os “sacrifícios injustos e ineficazes” do plano contra a crise do primeiro-ministro, Giorgios Papandreu.

Ao final da manhã, o Adedy, principal sindicato dos funcionários públicos do país, contou pelo menos cinco mil dos seus membros nas ruas da capital grega e três mil outros em Salónica, no norte da Grécia. Por sua vez, a Frente de Luta sindical (PAME), que deriva do ultra-ortodoxo partido comunista, confirmou que conseguiu reunir cerca de cinco mil militantes numa outra manifestação também em Atenas.

Apesar dos protestos em separado contra a redução do salário real, as restrições à contratação e à supressão de benefícios fiscais, os manifestantes das três estruturas mostraram-se unidos na motivação para a contestação. “Não devemos pagar a crise”, gritaram uns, “Greve contra os especuladores”, escreveram outros em cartazes, onde apelaram ainda à união numa resposta contra “os banqueiros, armadores e grandes empresas”.

Em Atenas, a polícia de intervenção grega chegou a lançar gás lacrimogéneo sobre os manifestantes. Segundo as autoridades, a decisão foi tomada depois de funcionários de recolha de lixo terem tentado quebrar um cordão policial com os seus camiões para se juntarem aos manifestantes que seguiam a pé pelas ruas da capital. À agência Reuters, um oficial da polícia afirmou que alguns manifestantes responderam à acção das autoridades lançando-lhes pedras. “Mas o incidente foi rapidamente resolvido”, sublinhou.

Grécia a meio-gás

As manifestações decorrem em dia de greve geral no país, que está praticamente parado dada a adesão de funcionários dos vários sectores à paralisação. Ainda não existem números oficiais de adesão, mas os funcionários dos ministérios, finanças e autarquias e professores estão entre os grevistas, bem como os controladores aéreos, o que levou a que as duas grandes companhias aéreas gregas, a Olympic Air e a Aegean, tenham anulado todos os voos de hoje.

O organismo nacional dos caminhos de ferro reduziu também o número de comboios nas ligações internas, devido à greve de nove horas da Federação Nacional de Caminhos de Ferro , mas as ligações internacionais não foram afectadas pela paralisação.

Nos hospitais públicos, os serviços estão a ser prestados por pessoal mobilizado para suprir as faltas dos que aderiram à greve.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

CRÍTICA DE ANTHERO MONTEIRO A "UM POETA NO PIOLHO"

20/01/2010 – “O POETA NO PIOLHO” de A. Pedro Ribeiro

Pede-me o Pedro Ribeiro que apresente este seu livro de poemas intitulado O Poeta no Piolho, que inclui inéditos, mas também outros textos já publicados noutros livros, que conheço, supondo eu, pelo título da colectânea, que todos foram escritos no café Piolho, que o autor frequenta e onde se sente em casa – como ele próprio confessa.
Esta solicitação é de todo inesperada e formulada muito em cima da hora, pelo que me será relevada alguma falta pelo pouco tempo que tive para poder corresponder cabalmente ao expectável, porque li o livro e alinhei algumas ideias entremeadamente numa altura de viagens e de outras ocupações.
Disse que não esperava ter esta incumbência, sobretudo porque a minha poesia e a do Pedro são muito diferentes na forma e no conteúdo e não escondemos algumas divergências de fundo sobre conceitos poético-literários.
Apesar disso, falar deste livro é um desafio que aceitei com prazer e honrado pelo convite, porque é mais um ensejo de aprendizagem e até de revisão dos meus próprios conceitos. Aprender motiva-me muito mais, aliás, do que ensinar. E, além disso, pelo Pedro e pela necessidade de o compreender melhor, vou transformar-me em advogado… do diabo.
É que, apesar das divergências, nutro pelo Pedro um amizade respeitosa, que só não é mais profunda porque apenas nos encontramos aqui no Púcaros e porque as nossas vivências e conceitos até de cidadania, ao que parece, estão longe de ser próximos ou paralelos. O Pedro é alguém que cumprimento e de quem me despeço nesta casa com um abraço de afecto sincero e em cujos olhos entrevejo um sentimento de comovedora ternura pelos outros e pelas coisas.
O Pedro Ribeiro seria alguém que poderíamos equiparar a qualquer normal e pacífico cidadão, não se desse o facto de ele subir ao tablado nesta casa, entendendo-se por tablado o espaço entre colunas onde à quarta-feira se lê poesia.
É aí então que o Pedro se transforma por completo e todos enfrentamos o perigoso “animal de palco”, papel que ele assume, ipsis verbis, num dos textos do seu livro:

“Este personagem atinadinho faz-me bocejar de tédio (…). Eu gosto é mesmo da festa, da celebração, do animal de palco. É aí que eu acredito no amor, na vida, na vibração. Sou doido, completamente doido, fora da tua realidade, minha rica” (tratamento menos habitual no Pedro e que é igual à expressão usada por outro doido que o Pedro admira, Mário de Sá-Carneiro, no seu poema “Caranguejola”).

É que o Pedro Ribeiro não é só o poeta que escreve, mas também o que lê os seus poemas – e não se trata aqui de uma simples leitura, mais ou menos neutra, mais ou menos branca, como recomendam alguns especialistas e se pratica, por exemplo, nas Quintas de Leitura do Teatro do Campo Alegre. O Pedro, quando escreve um poema, já se imagina nesse papel de actor ou de “performer” e é um espectáculo poder apreciá-lo com tudo o que nele há de gingão, peripatético, histriónico até.
É por isso que a análise da sua poesia tem que ter em conta essa relação existente entre quem produz um texto e quem o reproduz oralmente para um público como no teatro. O “animal de palco” vive desejoso dessa glória de saltar para o tablado. E o palco começa no próprio café onde ele escreve freneticamente, compulsivamente (“As palavras vêm ter comigo” – diz ele), pois já aí pode ser visto, como um actor no seu camarim, por um público que se movimenta à volta da sua mesa, que de vez em quando lhe faz perguntas, que sabe que ele é quem é, uma espécie de iluminado, mas alguém que tem também luz própria e que ilumina principalmente as “gajas” que por ali ondeiam, a quem oferece poemas, fazendo, nelas, incidir um foco de luz mais forte sobre as “mamas”, como parte proeminente e anatomicamente predilecta.
O palco é o lugar onde o Pedro esquece a sua inquietude e ansiedade, o seu mal-estar quotidiano, a sua incompetência para viver normalmente, como acontece com a protagonista do Livro do Desassossego.
É por tudo isto, sobretudo por esta impossibilidade de dissociar o poeta do “diseur” ou do “performer”, portanto do actor, que eu não tenho dúvida alguma em asseverar que a poesia do Pedro Ribeiro é muito mais teatro do que poesia.
É que o género dramático serve muito mais os seus textos de invectiva (como a Declaração de amor ao primeiro-ministro: “Estou apaixonado pelo primeiro ministro / Quero vê-lo num filme porno”). É essa forma que serve melhor os seus poemas-manifestos (como o “Poema de amor inocente em jeito de manifesto autárquico para a cidade do Porto”). É esse tablado que mais o ajudaria a realizar a revolução que procura (“Sim, sou definitivamente um poeta de café e até um revolucionário de café, com todo o gosto.”). É esse palco onde mais facilmente realizaria o comício para arrebanhar mais gente para a sua causa (“Farto-me de apelar à revolta / E esta merda permanece igual. / Fiquemos juntos / Acariciemo-nos /Curtamos o amor”).
A necessidade de comunicação imediata com o seu público, ávido do seu verbo (“’estou a ficar farto de tantos rodeios’ / como Morrison / quero o aqui e o agora! Quero a eternidade, / o instante eterno, agora!” – escreve ele), obriga-o a deixar-se levar pelas tais palavras que o visitam. Não é ele que as escolhe. Elas é que o escolhem a ele e, por isso, não há nos seus poemas, grandes preocupações com a forma. O que interessa é o conteúdo e esse conteúdo tem urgência em ser matéria de comunicação, em passar para o outro lado (“Como me sinto sublime agora. Já estou em condições de passar a palavra.”), porque a sua escrita e a sua actuação no palco são também propaganda (“admiro o Paiva / é um activista incansável / eu não sou um activista / ou deixei de o ser / só faço propaganda / quando subo ao palco / ou quando os meus livros têm leitores”). O que interessa é que a mensagem surta efeito e fique bem gravada nas cabeças e, tal como acontece com a publicidade, há slogans que se repetem (“o dinheiro é de todos e não é de ninguém / o dinheiro é de todos e não é de ninguém / o dinheiro é de todos e não é de ninguém»), há “gajas” por todo o lado (“E chegam mais gajas. Isto hoje é sempre a abrir. Um gajo até se perde”) e há mais cerveja a gorgolejar até no deserto, nem que seja apenas por mera miragem (“enquanto houver cerveja / continuarei a escrever”; “o estado devia fornecer-me cerveja gratuitamente, deveria pagar-me em cerveja”; os gajos dos bares deveriam fornecer-me / gratuitamente álcool para eu produzir”).
Esta comunicação instante recorre inclusivamente ao calão, sem qualquer censura, porque necessita dele para chamar os bois… e as vacas pelos nomes: para invectivar “esses filhos da puta” dos capitalistas, para nos convencer da “merda” que é estar num estado de espírito de absoluta fossa, para “se cagar para as vossas conversas”, para dizer com o José Mário Branco, no seu FMI, “que se foda o futuro!” ou para “mandar tudo para o caralho”.
E esta linguagem de urgência para “passar a palavra”, como ele diz, funciona maravilhosamente, sobretudo quando quem tem o privilégio de ouvir os seus poemas está também a beberricar cerveja, o que acontece sobretudo nos bares onde jorram também habitualmente os seus versos, como acontece no Púcaros. E o efeito é surpreendente, tanto mais que a sua actuação agarra os ouvintes como um íman: não consegue certamente induzi-los a queimar o dinheiro, como ele preconiza, não consegue fazer abrir as pernas das gajas a torto e a direito, não consegue, por exemplo também, persuadir os ouvintes a deixar de trabalhar, como ele faz, mas consegue convencê-los de que o poeta ou o actor parece ser sincero e coerente naquilo que escreve e que, no mínimo, realiza os objectivos que definiu para a sua escrita e que estão consignados no final do 2.º texto do livro: “(…) continuo a escrever / faço disto o meu escritório /(…) / também é uma forma de combater o tédio / de observar a sociedade de consumo e do mercado / de analisar o comportamento dos meus semelhantes / de descarregar a alma» (e este último objectivo é essencial para um “doido”, como ele se define…).
Agora a minha opinião sobre a qualidade destes poemas:
Se analisarmos os seus textos com as lunetas embotadas da crítica académica; se não percebermos que a sua aposta é na desestabilização dos conceitos arreigados e que a sua construção é antes de tudo uma desconstrução para se iniciar tudo de novo (ele escreve no texto “Mensagem”: “Destruir para construir. Começar do zero.”); se procurarmos no que escreve a obediência às normas tradicionais em vez de vermos as novas questões que surgem com a permanente transgressão (Paul Louis Rossi diz que “não pode existir poesia sem transgressão das suas formas mais utilizadas”); se andarmos à cata do poético nos seus versos, quando há críticos, como este que acabei de mencionar, autor do Vocabulário da Modernidade Literária, que defendem que o poético não existe, o que existe é uma relação, entre as palavras e as coisas, condensadas na linguagem, a qual (relação) produz um efeito particular de emoção e surpresa», então, a esta luz algo cansada, a poesia de Pedro Ribeiro estará porventura muito próxima da nulidade.
O próprio poeta, embora considere tocar por vezes “o sublime” nos seus textos, admite que “nem todos são brilhantes”. De facto, muitos deles, uns em prosa, outros em verso, não passam de meros apontamentos ou notas do que vai presenciando, como por exemplo: “Personagens de outrora / Atravessam o ‘Piolho’ / O homem bebe, escreve / Permanece na sua / Não espera ninguém / Nem sequer a dama.” Outros há, porém, que nos colhem na tal “surpresa” de que fala o Paul Louis Rossi, ainda que o estratagema para concluir de chofre o poema seja por vezes repetitivo: é o Gomes que vem cobrar a conta (“e corta o ritmo”); é o Fred que chega “e a escrita esgota-se”; é a menina das “mamas boas” que o Poeta se põe a apreciar, mas entra também “um gajo importuno (que) se senta à minha frente / tapa-me a visão / e corta-me o poema”, ou, finalmente, “a musa de flores no cabelo” que chegou, mas “já se foi / e o Telejornal fode-me a cabeça”.
E há ainda outros poemas que não vou ler por serem mais extensos, mas cuja leitura recomendo vivamente para se conhecer este poeta não apenas superficialmente, com a frivolidade de quem só veio cá beber umas cervejas: por exemplo, o texto intitulado “Diário” que bem podia chamar-se “Ideário”, porque resume quase todo o seu pensamento; o poema “Garrafa”, pequeno em extensão, mas, graças a um maior e mais sábio fechamento, grande em sugestões plurissignificativas; os 9 versos do poema “A saudação triunfal do gerente”, em que ele consegue a solidariedade de todos e de tudo o que está à sua volta para também o saudarem como alguém que não é bem deste mundo e vive noutra galáxia; o caos que é o “poema de amor inocente em jeito de manifesto autárquico para a cidade do Porto”, em que, baseado na técnica surrealista do inventário, nos dá a imagem caótica de uma sociedade inteira; ou, finalmente, para não me alongar, a parte final do “Poema que cura”, a rebentar de anáforas, numa linguagem uma vez mais profundamente teatral e propagandística.
Mas a preocupação do Pedro Ribeiro, como já disse à saciedade, não é escrever bonito. Ele está-se cagando para o lirismo e a beleza; para ele, isso é algo para transformar na sua contrária. Ele próprio afirma: “Dá-me um poeta lírico / para foder esta noite / uma cara bonita / para desfigurar”.
Este é um poeta sui generis. Homem culto, filósofo, capaz de escrever bem e melhor, se quiser, inventou para si próprio uma imagem que sacrifica a sua normalidade, para se ir autoconstruindo outro: um solitário que quer dominar as multidões pela palavra; um servidor permanente de Dionisos, sempre mais próximo dos instintos, das paixões, da irracionalidade e do caos do que da razão (“vade retro, razão”- escreve), da ordem, do equilíbrio e da sociabilidade de Apolo; um discípulo de personalidades malditas que lhe emprestam atrevimento para se vestir também de anjo negro e contaminar o mundo; enfim, um funâmbulo que evolui sobre o risco permanente e que tanto pode maravilhar quem o vê caminhar sobre a corda como pode tropeçar e cair no abismo, sobretudo (ele não aceita conselhos, mas nós somos seus amigos) se se ficar pelas gajas, pelas mamas, pelas cervejas e pelo uso do calão pelo calão e, como é seu timbre tudo pôr em causa, se não começar também a pôr-se em causa a si mesmo, à sua poesia e a uma certa repetitividade de temas e de processos. Ele sabe melhor do que ninguém que a repetição fabrica o estereótipo, que ele tenta por todos os meios combater e, a meu ver, deve combater em si próprio.
A poesia de Pedro Ribeiro é herdeira de vários pensamentos e atitudes (“sigo apenas os meus mestres” – escreve ele), muitos deles citados abundantemente no livro: em primeiro lugar, Nietzsche com quem chega a identificar-se ou pelo menos com a sua personagem Zaratustra que, diz ele, “foi rejeitado pela populaça/ e eu também sinto que o sou / talvez estejamos / demasiado elevados para a populaça”), depois Jim Morrison, André Breton, Henry Miller, Paul Éluard, Sade, Raoul Vaneigem, Baudelaire, Verlaine, Rimbaud, Lautréamont, Sá-Carneiro e Joaquim Castro Caldas, de quem ele inveja sobretudo o seu estado permanente de embriaguez. Mas não podemos esquecer a influência da Beat Generation (Ginsberg, Kerouac, Ferlinghetti, entre outros), que desafiaram, como ele o faz, os valores académicos e as normas do bom-gosto, que adoptaram uma ética e uma estética de total liberdade e se recusam ao encerramento num dado espaço ou escola.
A estes modelos podemos adicionar Charles Bukowski, mais velho que os da geração beat, mas de alguma forma próximo, porque adoptou também a marginalidade, o ócio, as mulheres, o sexo e a bebida como uma espécie de valores, sendo de supor que Pedro Ribeiro tenha herdado dele não apenas estes requintes, mas também alguns barris de cerveja para embebedar os próprios poemas. Aliás, outra personagem importante na vida de Pedro Ribeiro parece ser Jesus Cristo-Homem (“julgo-me o Morrison ou o Cristo”), que já lhe deve ter ensinado a fazer o milagre da multiplicação, não dos pães nem dos peixes, mas da cerveja, até porque pode bebê-la indefinidamente e…

«Porra! Nunca mais fico bêbado!
Bebo e nunca mais fico bêbado!
Quero ficar bêbado como o Joaquim Castro Caldas!
Quero ficar bêbado como o Jim Morrison!»

Haveria muito mais a dizer sobre este livro do Pedro Ribeiro, mas não quero maçar-vos mais. Fiz, de facto, um esforço por entendê-los, ao poeta e à sua poesia, tentei inclusivamente acreditar na sua coerência de anarquista. Ele não precisa da minha compreensão para nada, porque vai continuar a traçar o seu rumo livremente, sem as nossas intromissões. Para nós, simples mortais que nunca tocaremos o sublime, nem tudo no Pedro é de fácil entendimento: é mesmo muito complicado, por exemplo, compreender alguém que se recusa a trabalhar e que, candidatando-se agora à Presidência da República, se mostra preocupado com os desempregados…
Mas acredito que ele se julgue coerente e isso basta. Para entendê-lo ainda melhor, só me resta beber copiosamente com ele à nossa amizade, à sua saúde, ao sucesso do seu livro e da sua candidatura à presidência. Saia uma cerveja para mim e outra para o Pedro, que pago eu!

Anthero Monteiro

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Não há dúvida de que há poemas que podem ser melhorados. Hoje alterei dois: "Quero uma Mulher" e "Amor". É tudo uma questão de ritmo. E as alterações não devem ficar por aqui. Tenho de ser mais cuidadoso com os poemas do que com as prosas. Há sempre palavras a mais. O Do Vale aproxima-se de óculos de sol.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

À NOSSA MEDIDA


Teixeira dos Santos ameaça sair. Sócrates ameaça sair. A bolsa cai. O poeta é reconhecido. Os estudantes revoltam-se. Quanto pior, melhor. Tudo parece rolar em favor da revolução. E nós, revolucionários profissionais, agradecemos. Queremos o mundo. Estamos fartos de tantos rodeios. Estamos fartos do tédio. Fartos de olhar para a televisão. Deixamos de seguir os caminhos mais ortodoxos. Mas há 20 anos que sabemos perfeitamente onde queremos chegar. "Five to one, baby, one to five, no one here gets out alive...". A juventude ouve-nos, diz os nossos poemas. Isto está a ficar à nossa medida, cada vez mais.

SOU DA DÁDIVA

Não sou comerciante, não sou do mercado. Sou da dádiva, da gratuitidade, da vida. É isso a vida. A dádiva, a partilha, o amor. Se há algo que reprime essa dádiva, essa partilha, esse amor então temos de combatê-lo do primeiro ao último dia. A começar, claro, na nossa cabeça. É um combate de vida ou de morte, esse combate de que falo. Mas é o único combate que vale a pena travar. Não estou a falar de lutar pela vidinha, não estou a falar do trabalhinho, não estou a falar de tostões nem de milhões. Já me armei em carapau e apanhei nos cornos. Agora assumo a minha liberdade. Com a humildade do actor. Com o narcisismo do actor. Viemos ao mundo de graça: já o disse. Não temos de pagar a ponta de um corno pela vida. Aliás, somos o pior dos animais. Somos o animal que inventou o dinheiro.

POETA MALDITO


Sou um poeta maldito. São os jornais que o dizem, não sou eu. Venho para junto da mulher. Não sou como os outros. Olho para ela. Mas não tenho aquele paleio fácil, aquelas frases a propósito. A palavrinha a encaixar no verso. Não sou desses poetas. Escrevo o que me vem à cabeça. Não invento. Sou cru e directo. Quero as mulheres bonitas. Quero mesmo. Não sou de palavras fáceis. Sou do céu e do inferno. É esse que sou. Não tenho de fingir. Sou um actor mas não tenho de fingir. Movimento, ajo, gingo. Sou aquele que esperas. Aquele que já foi ao fim várias vezes. Aquele que, mais tarde ou mais cedo, os media revelam. Sou um mau rapaz, como dizia o AMR. Deixei de fazer o que a mãe diz. Deixei aos 18 anos, há 23 anos. Estou à procura da revolução, à procura de uma estrela. Olha, até olho para as telenovelas. Para ver como vai o mundo. Preciso saber como vai o mundo, sabes. Preciso de me rir. Preciso de ser eu mesmo. Preciso de saber lidar com a fama. Sou o poeta maldito, dizem. Vou sê-lo até ao último dos meus dias. Sou também o animal de palco. Duas cervejas perdidas ao balcão. A menina esqueceu-se delas. A mulher protesta por causa do preço do pão. A menina é boa como as da televisão. A minha foto nos jornais com a "Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro" na mão. Às vezes pegam, outras não. Há que saber aguentar. Só digo certas coisas em público porque me batem palmas. Se vier alguém falar comigo eu converso. Fico com o verso. O caderno do "Espero por ti, Goreti" está a terminar. Sou do mundo. Sou da porra deste mundo. Os negócios do mundo não me interessam. Mas há uma data de clientes a protestar contra o preço e a qualidade do pão. O negócio da menina bonita não corre bem. Ainda não provei o pão. Nem a menina bonita. As contas do mundo não me interessam. O homem livre não faz contas. Procura. Perfura. Faz-se feliz.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

AI SÓCRATES, SÓCRATES!

A investigação do caso Face Oculta identificou, nas escutas telefónicas, “fortes indícios” de um plano governamental para controlar alguns órgãos de comunicação social, entre os quais a TVI, revela hoje o semanário "Sol".
Nas escutas feitas a Vara, as autoridades judiciais consideraram haver material que indiciava crimes contra o Estado de Direito (Adriano Miranda)

O primeiro alerta sobre as alegadas ingerências do Governo e de quadros da confiança do Governo na comunicação social, que transpiravam da investigação do processo face Oculta, foi lançado pelo despacho do director da Polícia Judiciária de Aveiro, Teófilo Santiago.

No documento enviado ao procurador João Marques Vidal, no âmbito das escutas do Face Oculta, Teófilo Santiago reportava “entre outras situações”, que existiam “no auto indícios claros de que a administração da Portugal Telecom, por determinação, solicitação ou desejo manifestado por decisor político de primeiro níve [...] iniciou e desenvolve um processo de aquisição da TVI com o objectivo de tomar posição dominante e alterar a orientação daquela estação televisiva, que entendem hostil aos seus interesses políticos, fulanizando mesmo a questão numa jornalista”.

Depois, num despacho de Junho passado, o procurador João Marques Vidal – titular do processo Face Oculta, que investiga uma alegada rede de corrupção envolvendo negócios com resíduos – sustenta que das escutas telefónicas “resultam fortes indícios da existência de um plano em que está directamente envolvido o Governo” para interferir em alguns órgãos de comunicação social, afastando “jornalistas incómodos”.

Este plano, segundo o despacho citado pelo "Sol", envolvia o controlo da TVI, o afastamento do seu director-geral, José Eduardo Moniz, e da jornalista Manuela Moura Guedes, e a aquisição dos jornais PÚBLICO e "Correio da Manhã".

O procurador fala num “esquema” para interferir “em órgãos de comunicação social considerados adversários, visando claramente a obtenção de benefícios eleitorais”. Isto, segundo o procurador do Ministério Público de Aveiro, indiciaria um “crime de atentado contra o Estado de direito”. Marques Vidal solicitava, por isso, a extracção de cópia de uma série de escutas telefónicas.

O juiz de instrução António Gomes, de Aveiro, foi mais longe e, no seu despacho em que autoriza as cópias, menciona o envolvimento directo de José Sócrates. O despacho, citado pelo "Sol", diz haver “indícios muito fortes da existência de um plano em que está directamente envolvido o Governo, nomeadamente o senhor primeiro-ministro”.

Excertos das escutas reveladas pelo “Sol” revelam ainda nomes de intervenientes favoráveis às alegadas jogadas do Governo para controlar a comunicação social como a escolha do “homem da informação, o Paulo Baldaia”, referindo-se ao director da TSF, rádio da Controlinveste, que detém também o “Diário de Notícias” e “Jornal de Notícias”.

E revelam ainda a estratégia de Zeinal Bava, director da Portugal Telecom, para que, na aquisição de parte da Media Capital se arranjasse “maneira de, não dizendo que não ao Sócrates, fazer a operação de forma que ele nunca aparece”, através de engenharias participadas pelos bancos.

Posteriormente, a suspeita lançada em torno do conteúdo das escutas foi arquivada pelo Procurador-Geral da República.


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